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EUA X China: tendências recentes e perigosas

A relação entre China e Estados Unidos vive um momento decisivo, com tendência a ficar cada vez mais tensa

Brasil de Fato |
Joe Biden com Xi Jinping durante visita a Pequim em 2011 - AFP

Ao final de março, o governo dos Estados Unidos anunciou um impressionante programa de investimentos em infraestrutura que pode totalizar 2,3 trilhões de dólares. Os investimentos previstos pelo pacote abrangem desde obras em rodovias, até assistência a famílias, desenvolvimento de novas tecnologias, etc.

O pacote de Joe Biden é o terceiro aprovado pelo país desde o início da pandemia. Ao todo, já foram gastos 5 trilhões de dólares em programas de ajuda econômica, ou seja, cerca de 25% do PIB estadunidense. Como vem mais um pacote ao final de abril, voltado para o atendimento às famílias, o financiamento total do plano pode atingir 6 trilhões de dólares.

Com o plano, o governo norte-americano tentará também tirar a economia da grave crise em que se encontra e reverter uma tendência muito forte nos EUA, nas últimas décadas, que é o aumento da desigualdade. Para isso, o governo pretende investir pesadamente em setores como infraestrutura, desenvolvimento de novas tecnologias e novas leis de valorização do trabalho. Está ainda no horizonte do governo a realização de uma reforma tributária, que possibilite uma melhor distribuição da riqueza no país.

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A medida está também relacionada à disputa dos Estados Unidos com a China por mercados mundiais, que tende a se acirrar muito nos próximos anos, como a postura do novo governo estadunidense está demonstrando.

Biden tem subido o tom contra os seus principais rivais e recentemente criticou Xi Jinping e Vladimir Putin por não “acreditarem na democracia” e chamou os regimes destes de autocracias. Numa entrevista recente à ABC News, provocado pelo apresentador, Biden afirmou que Putin era um “assassino”. À propósito, vale a pena assistir o vídeo com a impressionante resposta de Vladimir Putin a ofensa do presidente dos EUA.

A retomada dos investimentos públicos, é uma tentativa de competir com o modelo de desenvolvimento econômico chinês. O objetivo é deslocar a China de todos os mercados onde os EUA acham que aquele país estaria com dimensão “exagerada”. Há uma avaliação, por parte do governo Biden, que a China está ocupando um espaço econômico desproporcional ao seu poderio geopolítico e militar no mundo. Quem estuda um pouquinho a história da economia no mundo, incluindo a história das guerras mundiais, sabe que poderio econômico no mundo e capacidade bélica são fatores intimamente ligados.

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Alguém tem dúvidas, por exemplo, que os golpes na América Latina, foram perpetrados, também, visando baixar a bola da China na região? Quem lembra ainda que, em 2015, o primeiro-ministro chinês veio ao Brasil para selar 35 acordos bilionários com o Governo Dilma Rousseff?

Destes, um dos mais ambiciosos era o projeto ferroviário transcontinental que deve percorrer o Brasil de leste a oeste, atravessar a cordilheira dos Andes até chegar aos portos peruanos. O objetivo era facilitar a exportação de matérias-primas do Brasil e do Peru para o mercado chinês. Sairia uma linha do Tocantins até chegar ao Peru, com ganhos para os produtores com a redução de custo na logística. Tudo indica que estes planos foram decisivos para a tomada de decisão dos EUA, de acelerar o golpe no Brasil.

À época, Brasil e China, anunciaram ainda um fundo de investimentos de 53 bilhões de dólares, do banco estatal ICBC para garantir investimentos em infraestruturas, que incluía rodovias, ferrovias, linhas de transmissão para o setor elétrico e projetos de telecomunicações.

Em 2014, o comércio bilateral tinha sido de 79 bilhões de dólares e a intenção dos dois governos era chegar rapidamente a 100 bilhões de dólares. Os dois países assinaram ainda acordos nas áreas de: Defesa Nacional, para o sensoriamento conjunto da Amazônia, energia eólica, telefonia. Segundo o governo brasileiro, o objetivo dos acordos era inaugurar uma etapa superior no relacionamento em Brasil e China. Alguém pode ainda duvidar que essa aproximação foi decisiva para a tomada de decisão do golpe de 2016?

Apesar da impressionante envergadura, os montantes dos planos estadunidenses ficam muito aquém dos investimentos mobilizados pelos chineses na chamada Nova Rota da Seda. Programa lançado em 2013, com investimentos estimados entre 4 e 8 trilhões de dólares, os chineses realizam projetos de infraestrutura que se estendem por países da Ásia Central, Sudeste Asiático, Oriente Médio, África e Leste da Europa.

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A relação entre China e Estados Unidos vive um momento decisivo, com tendência a ficar cada vez mais tensa, em meio a uma série de disputas sobre comércio, direitos humanos e as origens da covid-19.

Numa ação recente, os Estados Unidos colocaram na lista suja dezenas de empresas chinesas que afirmam ter ligações com os militares. Joe Biden vem criticando a China por seus "abusos" no comércio e em outras questões. Retornou com força também, e de forma articulada, inclusive na grande mídia norte-americana, a hipótese de que o vírus da covid-19 se originou na China.

A linha da política internacional de Biden pode ser medida pela indicação que fez para diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), William Burns. Ele afirmou a um comitê do Senado que vê a competição com a China, e a contraposição à sua liderança "antagonista e predatória", como essencial para a segurança nacional norte-americana.

Burns disse ainda: "Superar a China será essencial para nossa segurança nacional nos dias à frente". Para o diretor, a China é o primeiro desafio que os Estados Unidos enfrentam neste governo, o que reflete posições já expressas pelo próprio Biden e por funcionários do seu governo. Para ele, embora os Estados Unidos possam cooperar com a China em questões fundamentais, como a não proliferação de armas nucleares, o gigante asiático é um "adversário formidável e autoritário".

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Os últimos dados dos EUA mostram ótimos resultados no mercado de trabalho. Foram gerados mais de 900 mil empregos em março e o desemprego caiu para 6%. Há uma recuperação dos chamados indicadores de confiança do mercado. Mas o cenário ainda é muito nebuloso. Há possibilidades de elevação da inflação, com o forte aumento dos preços de commodities: agrícolas, metálicas, combustíveis e bens industriais. Isso em meio ao imenso estímulo monetário que o governo vem promovendo, o que aumenta o risco de maior inflação. E há muitas dúvidas sobre o tempo de aprovação das medidas do pacote, no Congresso Nacional. O governo precisa aprovar rapidamente, mas a oposição tende a ser dura, especialmente quanto a alguns aspectos do pacote.

Vale lembrar que o governo dos EUA, que agora encaminha um plano ambicioso de recuperação da economia, e que está em pânico com o avanço econômico e político da China no mundo, é o mesmo que perpetrou o golpe no Brasil, em 2016, inclusive com Biden na vice-presidência do país na ocasião. Com o golpe, interromperam uma série de governos de esquerda que, apesar de moderados e reformistas, contrariavam os interesses dos EUA na região (especialmente por sua postura nacionalista).

O protagonismo dos EUA nos golpes na América Latina, que rapidamente vai sendo comprovado pelas denúncias da "vaza-jato", do STF do Brasil e outras, é relativamente fácil de compreender. Para o centro capitalista continuar dominando, especialmente em época de grave crise internacional, os países subdesenvolvidos têm que continuar nesta condição. Não podem dispor de refinarias ou de reservas bilionárias de petróleo, ou de indústria sofisticada.

No caso do Brasil, o golpe recente foi dado também para garantir o acesso sem limites, além do petróleo, às reservas de água existentes na região, os minerais de todos os tipos e toda a biodiversidade da Amazônia. País subdesenvolvido não pode ter acesso também ao ciclo da energia nuclear, por isso o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva (ex-presidente da Eletronuclear), foi preso pela Lava Jato ainda em 2015.

*José Álvaro de Lima Cardoso é economista e supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina.

Edição: Vivian Fernandes