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O paressiga

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Ele ficava com uma placa com duas faces: “pare”, para interromper o trânsito numa direção, e “siga” para liberar - Unsplash
Não tenho - respondeu o candidato. - Até hoje só trabalhei de paressiga...

Hoje vou contar uma coisa que ocorreu em São Paulo há uns anos. Durou pelo menos até 2015.

É que um amigo meu tinha um pequeno restaurante, com uns cinco ou seis empregados vindos de um povoado do Piauí, e não tinham prática nenhuma para trabalhar de garçons ou ajudantes de cozinha. Aprendiam no restaurante dele.

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Em alguns meses, estavam bons, trabalhando bem, e aí algum restaurante maior tomava o empregado dele. Ele tinha que arrumar outro, mas não achava em São Paulo, nem mesmo interessado em aprender. Então tinha que buscar mais um lá no Piauí e ensinar, sabendo que uns tempos depois perderia o empregado já experiente.

Na mesma época, estive na Bahia e encontrei um amigo que tinha aberto uma construtora e ganhou concorrências federais para construir escolas e postos de saúde no interior do estado e reclamava da falta de empregados.

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Primeiro, me garantiu, que suas obras eram de qualidade igual e até superior às construídas sem dinheiro público.

Mas às vezes tinha que rebolar para não atrasar a entrega. Não havia mão de obra disponível, ele tinha que formar os empregados para trabalharem como pedreiros, eletricistas, encanadores e pintores.

Uma vez, precisava de serventes de pedreiro numa cidade no Norte do estado, e apareceram menos candidatos que o número de vagas. Paciência... Ia ter que procurar na região. Anunciou por ali e apareceu um rapaz querendo uma vaga. Ele perguntou:

— Você tem experiência na profissão?

— Não tenho — respondeu o candidato. — Até hoje só trabalhei de "paressiga"...

Meu amigo estranhou:

— "Paressiga"... que diabo é isso?

E o cara explicou que seu trabalho era ficar numa ponta de um trecho de rodovia em reforma, em que fechavam uma faixa de trânsito e só era possível passar veículos pela outra, então virava mão única, uns minutos pra um lado e outros minutos para o outro. Ele ficava com uma placa com duas faces: “pare”, para interromper o trânsito numa direção, e “siga” para liberar.

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Nunca imaginei uma profissão chamada “paressiga”.

Enfim, gostaria de sugerir para algumas pessoas que não se lembram do pleno emprego de antes, ou fazem questão de não “comparar” uma coisa dos tempos de hoje com os de governos progressistas: “Seja um parepense”, quer dizer, pare e pense... Deixe de ser gado.

Edição: Lucas Weber