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Sempre em frente, Raposão!

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Como bom roceiro, ele aproveitava a ida à cidade para tomar umas cachacinhas nas vendas, conversando com os amigos - Unsplash
Puxou uma tragada, feliz, e começou a andar. Sempre em frente

Tem um sujeito muito bom e divertido que o nome eu nunca soube, só sabia o apelido, Raposão. Seu sítio, perto de Ouro Fino, em Minas Gerais, ficava só a uns quatro quilômetros de distância da cidade, o que dava para fazer a pé em menos de uma hora. Ele ia sempre à cidade, caminhando num passo rápido e contínuo, num fôlego só.

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O duro era a volta. Como bom roceiro, ele aproveitava a ida à cidade para tomar umas cachacinhas nas vendas, conversando com os amigos. Só que ele tinha amigos demais e a cidade tinha bares e vendas demais também. Ele ia de venda em venda, de bar em bar, tomando uma com cada grupo de amigos, e aí os quatro quilômetros de volta viravam uma dificuldade.

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Certa vez, já beirava às dez da noite quando ele tomou a “última”, no último boteco da saída para a estradinha de terra que levava ao seu sítio. Virou de um gole só, numa talagada, e pegou a estradinha com as pernas meio bambas, mas sem cambalear muito, quer dizer, sem chegar a ficar “cercando frango” na estrada.

A lua clara iluminava bem o caminho, e lá foi ele, tentando assobiar, mas só saindo um sopro. Ia reto, andando sempre em frente, cuidando para não pegar uma estradinha errada por distração, pois tinha muitas bifurcações com caminhos levando a outros sítios, e ele era muito distraído.

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Andou uns quarenta minutos, faltava pouco pra chegar, veio a vontade de fumar. Parou no meio da estrada, pôs um cigarro nos lábios, bateu nos bolsos à procura dos fósforos, achou e começou uma luta contra o vento, tentando acender o cigarro, mas não conseguia. Mesmo cercando o vento com as mãos, o fósforo se apagava antes que o Raposão pudesse tirar uma tragada.

Aí ele pensou um pouco, virou as costas para o vento e deu certo: logo no primeiro fósforo conseguiu acender o cigarro. Puxou uma tragada, feliz, e começou a andar. Sempre em frente. Só que esqueceu que tinha virado de costas para o seu sítio, para acender o cigarro. E foi em frente. Quando deu por si, estava entrando na cidade de novo.

Edição: Daniel Lamir e Lucas Weber