Falta o Brasil

EUA mudam postura e passam a apoiar "quebra de patente" das vacinas contra covid

Joe Biden apresenta posição contrária ao antecessor, Donald Trump, e pode contribuir para democratizar acesso à vacina

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Governo Biden defende suspensão das patentes quando os estoques de imunizante para os cidadãos dos EUA já estão garantidos; 53% da população recebeu ao menos uma dose - ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

O governo Joe Biden anunciou, nesta quarta-feira (5), uma mudança no posicionamento dos Estados Unidos no debate sobre a licença compulsória das vacinas contra covid-19, popularmente chamada de "quebra de patentes".

Contrariando a posição do governo anterior, de Donald Trump, o democrata declarou ser favorável à suspensão das proteções de propriedade intelectual sobre os imunizantes.

Com as patentes suspensas temporariamente, as vacinas seriam produzidas em sua versão genérica em larga escala, possibilitando o acesso à vacina para milhões de pessoas de maneira mais rápida e com custo menor para os governos.

A posição dos EUA é considerada relevante, uma vez que o país, ao contrário do Brasil, detém o monopólio de patentes de vacinas. Mais de 53% dos estadunidenses receberam ao menos uma dose do imunizante.

“Esta é uma crise de saúde global, e as circunstâncias extraordinárias da pandemia exigem medidas extraordinárias. O governo acredita fortemente nas proteções à propriedade intelectual, mas, a serviço do fim desta pandemia, apoia a dispensa dessas proteções para as vacinas contra covid”, diz comunicado assinado pela representante comercial dos EUA, Katherine Tai.

“Como os estoques de vacina para o povo estadunidense estão garantidos, o governo continuará a intensificar seus esforços, trabalhando com o setor privado e todos os parceiros possíveis, para expandir a fabricação e distribuição de vacinas”, acrescenta o texto.

Dentre os países emergentes, o governo brasileiro é o único que votou contra a licença compulsória na última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). 

O posicionamento do governo Bolsonaro contraria decisões históricas tomadas pelo Brasil a favor da flexibilização de propriedade intelectual na área de medicamentos.

No combate ao HIV/Aids em meados dos anos 2000, o licenciamento compulsório foi adotado em função dos altos preços praticados pela empresa que monopolizava a produção do retroviral Efavirenz.

A suspensão das patentes dos imunizantes para covid-19 foi proposta pela África do Sul e pela Índia na OMC. Para isso, deve haver consenso entre todos os 164 membros.

Além do Brasil, o Japão e a União Europeia, que são detentores de patentes, também se posicionam contrariamente à proposta.

Edição: Rodrigo Chagas