Proteção

Defendida por Juliette e ignorada pelo presidente, máscara guiou o debate na semana

Entenda a diferença entre os tipos e por que uso do equipamento é visto pela ciência como primordial no combate à covid

Ouça o áudio:

Nas redes sociais, Juliette tem sido defensora do uso e da informação sobre as máscaras - Reprodução do Twitter
As pessoas estão morrendo e a gente precisa fazer algo. Usem máscara.

A máscara foi o assunto da semana no Brasil e definiu até mesmo uma nova convocação do ex-ministro Eduardo Pazuello à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Congresso Nacional. No último domingo (23), ele subiu em um palanque com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sem o equipamento e cercado de pessoas igualmente desprotegidas.

Após a decisão sobre o novo depoimento, o relator da Comissão, senador Renan Calheiros (MDB), afirmou: "Esta convocação tem um efeito pedagógico também. É para dizer a este maluco que pare, não continue a delinquir, a aglomerar pessoas".

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Na ponta oposta ao discurso negacionista, a paraibana Juliette Freire - ganhadora do programa televisivo Big Brother Brasil - movimentou o debate ao publicar uma série de postagens sobre a necessidade de uso da proteção. A iniciativa fez explodirem as pesquisas em sites de busca sobre a máscara do tipo PFF2, considerada uma das mais apropriadas.

Em conversa no podcast A Covid-19 na Semana, a médica emergencista Tainá Vaz, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que é positiva a influência de personalidades que defendem as medidas de proteção, mas ressalta que, a essa altura do campeonato, o uso da máscara já deveria ser senso comum.

"É impressionante que, depois de um ano e três meses de pandemia no nosso país, a gente ainda tenha que explicar coisas tão simples como a importância do uso de máscara. A desinformação acarreta muitos problemas", alerta.

A vencedora do Big Brother, por sua vez, na semana passada, ao comentar a morte de uma integrante de sua equipe e a internação em UTI de uma de suas melhores amigas, já havia tocado no tema. Visivelmente emocionada, ela fez um apelo em vídeo divulgado nas fedes sociais: "As pessoas estão morrendo, e a gente precisa fazer algo. Usem máscara".

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Dias após a publicação, na terça-feira (25), a paraibana divulgou uma foto usando o equipamento e fez uma postagem pedindo que os seguidores compartilhassem informações sobre as melhores máscaras para substituir a PFF2 a um custo menor. 

Os conteúdos de Juliette geraram milhões de reações. O engajamento de uma imagem no Instagram, por exemplo, rendeu mas de 13,2 milhões de visualizações. No Twitter, as publicações obtiveram centenas de milhares de curtidas e mais de 70 mil compartilhamentos.

"A gente fica muito feliz, porque ela tem uma influência muito positiva. Ela faz esse apelo. Às vezes eu, como médica no pronto-socorro, não consigo fazer com que essa informação alcance tanta gente. Por uma celebridade, uma artista, ela chega", explica Tainá Vaz.

Ao longo da semana, usuários da plataforma se juntaram à "corrente da selfie PFF2", que gerou conteúdo sobre o tema por dias seguidos. Enquanto isso, Bolsonaro alimentava a polêmica sobre o tema.

Na segunda-feira (24), ele viajou para o Equador, onde participou da posse do novo presidente do país, Guillermo Lasso. Ao chegar ao aeroporto da capital Quito para deixar o país, Bolsonaro não usava máscara, e alfinetou, "Deixa eu botar máscara. Estou dando mau exemplo aqui".

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"A influência que pessoas em posição de poder tem sobre um grupo populacional é muito importante. O exemplo do presidente é sempre voltado para que as pessoas não usem máscara e se aglomerem. Ele tem naturalizado essas práticas de forma muito recorrente, e isso passa uma mensagem", pontua a médica.

Qual usar

Um estudo do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) avaliou a eficiência de filtração de 227 modelos de máscaras vendidos em farmácia e lojas de comércio popular. Os resultados foram divulgados na revista Aerosol Science and Technology.

A capacidade das máscaras de tecido para filtrar partículas com o tamanho do novo coronavírus varia entre 15% e 70%, por exemplo. Os equipamentos mais eficazes são as máscaras cirúrgicas dos tipos PFF2 e N95, com proteção que varia de 90% a 98%. Já os produtos de TNT, comercializados em farmácias, têm eficiência de 80% a 90%.

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Para quem só tem acesso às máscaras de tecido, o ideal é não optar por peças com costura no meio. Até mesmo os furos da máquina de costura para passar a linha abrem mais espaço para o vírus. Há ainda equipamentos produzidos com tecido tecnológico, que tem proteção um pouco maior, mas sofrem com o desgaste das lavagens

Estudos mostram que um dos aspectos mais importantes no uso do equipamento é o ajuste ao rosto. Para garantir mais segurança, vale o truque de usar duas máscaras, inclusive de materiais diferentes, desde que o ajuste esteja perfeito, sem brechas para entrada das partículas.

Edição: Vinicius Segalla