CPI da Covid

Witzel diz que governo federal "boicotou" uso de hospitais federais durante pandemia

Ex-governador afirmou ainda que presidente Bolsonaro apostou na "imunidade de rebanho"

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O ex-governador disse que solicitou ao governo federal o repasse dos leitos e verbas à gestão estadual, mas não foi atendido - Jefferson Rudy/Agência Senado

Durante seu depoimento à CPI da Covid, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel afirmou, nesta quarta-feira (16), que o governo de Jair Bolsonaro barrou o uso de leitos de hospitais federais localizados no estado para atender pacientes com covid-19.

Segundo o ex-governador, se o pedido fosse atendido, não haveria necessidade de instalar hospitais de campanha para atender a demanda da pandemia.

Witzel fez a acusação ao responder questionamento do senador Humberto Costa (PT-PE), que levantou informações do Censo Hospitalar Público da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Segundo o estudo, 808 leitos estão inativos em nove hospitais federais fluminenses – o que representaria cerca de um terço dos 2.296 leitos dessas unidades no Rio.

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O ex-governador disse que solicitou ao governo federal o repasse dos leitos e verbas à gestão estadual, mas não foi atendido.

“Pedi ao presidente para que ele me entregasse os hospitais federais, e também a verba, para que minha gestão os administrasse. Não me deram os leitos e ainda sabotaram os hospitais de campanha. Esses 808 leitos poderiam estar disponíveis e, talvez, teriam reduzido a necessidade dos hospitais de campanha”, afirmou Witzel à CPI da Covid.

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Ao concluir sua participação, Humberto Costa disse que os problemas na condução do enfrentamento da covid-19 no Rio de Janeiro são de a responsabilidade do governo federal.

“Bolsonaro sabotou todas as medidas de isolamento social e recusou abrir [para a população] toda a estrutura de saúde no Rio de Janeiro. O governo federal foi omisso e precisamos investigar isso.”

Medidas não farmacológicas

Witzel, que se elegeu na esteira do antipetismo e muitas vezes de declarou aliado de Bolsonaro, disse ainda que o governo federal e seus apoiadores no estado prejudicaram as medidas de distanciamento social e restrições ao funcionamento do comércio no Rio.

Isso em nome da chamada imunidade de rebanho. “Ouvi essa teoria de alguns especialistas, mas fui incentivado a tomar medidas de restrição e isolamento. Entretanto, houve deputados negacionistas, ligados ao presidente, que ainda fizeram carreatas para a abertura do comércio”, acrescentou.

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A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) questionou o ex-governador sobre a relação do governo federal com os estados na condução do combate à pandemia, pois governadores reclamaram da falta de comunicação e transparência do presidente.

Witzel afirmou que houve um pedido dos governos estaduais para Bolsonaro centralizar as medidas, mas que o presidente da República optou por transferir a responsabilidade a estados e municípios, pelas consequências sanitárias e econômicas do surto.

“Ele apostou na narrativa de que os governadores iriam exterminar empregos e roubar [verbas federais]. Tivemos grandes dificuldades para conseguir insumos, leitos e equipamentos hospitalares, o que fortaleceu a narrativa do presidente", afirmou.

"Os fatos demonstram que houve omissão e distanciamento do governo com os governadores e prefeitos. Os ministros da Saúde não tinham autonomia necessária. Nós pedimos negociações ao governo para comprar respiradores, ele não atendeu. Então, implantamos isolamento social, mas ainda não havia o auxílio emergencial. Isso tudo é para fomentar a narrativa de que os estados falharam no combate à pandemia”, concluiu.

Depoimento encerrado 

Horas antes do fim previsto, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel acionou o habeas corpus concedido ontem (15) pelo ministro do STF Kassio Nunes Marques e encerrou seu depoimento à CPI da Covid. Durante a manhã, a participação de Witzel foi marcada por ataques ao governo de Jair Bolsonaro, que responsabilizou pela tragédia da covid no Brasil, que está prestes a completar 500 mil mortes, contando apenas as oficialmente registradas.

“A narrativa do governo federal sempre foi o negacionismo. Tudo que eu tinha que ser falado foi falado. Daqui para frente, seriam só ofensas contra mim”, completou, antes de pedir ao presidente da CPI, Omar Aziz, para deixar o colegiado.

"Fatos graves" 

Sem falar objetivamente, Witzel fez insinuações de que fatos graves envolvendo o presidente estariam para vir à tona, mas que virá a revelar em futura oportunidade. Diante disso, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), solicitou um novo depoimento de Witzel, desta vez sob segredo de Justiça.

“Acabo de solicitar à Presidência da CPI da Covid, novo depoimento do ex-governador Wilson Witzel. Acreditamos que o ex-governador ainda tem muito a falar e não podemos deixar o relatório da CPI ser atingido por interferência e intimidações externas”, disse Randolfe.