recursos naturais

Que tal assar um bolo usando o calor do sol? Com o forno solar, isso é possível

Equipamento desenvolvido pela Associação Caatinga pode chegar a 150 graus

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Para melhor desempenho do forno solar, o equipamento deve ficar bem de frente para o sol - Associação Caatinga
Nosso modelo de forno solar é diferente dos modelos que encontramos disponíveis na internet

O sol quente do sertão pode ser um aliado na hora de preparar alimentos. Com o forno solar desenvolvido pela Associação Caatinga, é possível cozinhar sem gastar lenha, carvão ou gás. O equipamento tem o formato de uma caixa.

A parte de fora é feita de fibra de vidro e isopor, que funciona como isolante térmico. O sol bate na placa refletora e é direcionado para uma caixa de madeira revestida de alumínio, onde há também uma bandeja preta para difundir o calor.

Gilson Miranda, coordenador de conservação da associação explica a diferença deste forno para outros equipamentos similares. 

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“Nosso modelo de forno solar é diferente dos modelos que encontramos disponíveis na internet. Muitos têm dicas de materiais baratos ou até mesmo papelão. Mas vimos o problema da durabilidade. Ele é tanto resistente a cupim, porque é de fibra de vidro, então não tem problema com cupim. E também a questão da chuva: ele pode pegar de vez em quando um pouco de chuva". 

A associação é mantenedora da Reserva Natural Serra das Almas, uma área de conservação particular que fica entre os estados do Ceará e do Piauí.

A organização desenvolve uma série de projetos ecológicos com as comunidades que vivem no entorno da reserva. Já teve instalação de cisternas e de sistemas para tratamento de água, e um programa de criação de abelhas sem ferrão.

O trabalho com forno solar começou há dez anos. Até agora, mais de 170 equipamentos foram distribuídos. Gilson lembra que, no início, muita gente torceu o nariz. 

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“Teve um pouquinho de resistência, as pessoas têm esse imaginário de que se alguma coisa for aquecida pelo sol, estraga. E realmente é isso: no sol, em temperatura ambiente, vai estragar qualquer alimento. Porém, dentro do forno solar, como ele chega a 150 graus, você consegue cozinhar qualquer alimento”, ressalta. 


A Associação Caatinga já distribuiu mais de 170 fornos solares para moradores do entorno da Reserva Natural Serra das Almas / Associação Caatinga

A agricultora Maria Elizete Germano de Sousa recebeu um forno solar há dois anos. Ela vive no Assentamento Jurema, em Buriti dos Montes, Piauí, e usa o equipamento em média duas vezes por semana para assar bolo. 

“Quando a gente vai preparar bolo, já coloca logo o forno lá no sol. Se colocar de 8 pra 9 horas, quando for umas 12 horas, tendo bastante sol, o bolo tá assado. Graças a Deus, depois do forno solar, eu faço meus bolos no forno solar. Já pensou se eu fosse fazer tudo no fogão a gás, quanto eu não saía gastando por mês em bujão? Economiza muito, muito”, comemora.   

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Histórico

O forno solar não é novidade. O primeiro modelo foi criado pelo cientista e inventor Horace de Saussure em 1767. O equipamento chegava aos 110 graus. 

O calor do sol também pode ser usado em pesquisas científicas. No sul da França, na região dos Pirineus, está instalada desde os anos 1960 uma estrutura de 54 metros de altura por 48 de comprimento toda revestida de espelhos.

Ela é utilizada para fazer experiências com materiais a temperaturas muito altas. O grande forno solar de Odeillo pode chegar a mais de 3.500 graus. O equipamento desenvolvido pela Associação Caatinga é bem mais modesto, mas facilita bastante o dia a dia dos sertanejos, como conta Gilson.

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“Temos relatos de pessoas que usam para aquecer coisas, por exemplo: aquecer mamadeira, aquecer a cera de mel de abelha. Então é uma coisa que ia gastar gás ou lenha, e conseguiram adaptar. E tem algumas famílias que dizem que levam para a roça, porque aí no momento em que vão almoçar, colocam o forno solar pra aquecer a comida, então não tiveram mais que comer a marmita meio fria”.

Para o forno ser eficiente, é preciso colocá-lo em uma posição bem de frente para o sol, e o ideal é usar panelas pretas. Quem quiser saber mais sobre essa tecnologia ou aprender receitas elaboradas especialmente para o forno solar, basta acessar a cartilha explicativa no site acaatinga.org.br

Edição: Douglas Matos