Saberes da terra

Turismo comunitário favorece troca de conhecimentos agroecológicos em Resex no Pará

A experiência na comunidade de Anã está suspensa por conta da pandemia do novo coronavírus

Ouça o áudio:

Comunidade ribeirinha no rio Tapajós em Santarém, Pará
Comunidade ribeirinha no rio Tapajós em Santarém, Pará - Lilian Campelo
São experiências de modelo de como manter a floresta em pé e o meio ambiente saudável

Que tal aprender agroecologia ao pisar o solo, ouvir os pássaros e sentir o clima agradável de uma mata preservada de Reserva Extrativista (Resex)? O turismo comunitário pode ser uma boa proposta para confirmar que o conhecimento agroecológico vai para além do acúmulo de teorias.

A população da Vila de Anã, no município de Santarém, no Pará, desenvolve uma dessas experiências que junta a importância de um saber objetivo sem abrir mão também da cognição subjetiva.

:: Projeto realiza intercâmbio entre países latinoamericanos sobre saberes do semiárido ::

São cerca de 100 famílias que vivem no local. Quase todas são beneficiadas pela recepção de turistas para descansar e trocar conhecimentos em áreas como meliponicultura, piscicultura e extrativismo. A comunidade está localizada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós Arapiuns, compartilhando também saberes sobre harmonia com a natureza no Baixo Amazonas.


A meliponicultura contribui com a conservação do bioma amazônico e favorece o desenvolvimento local / Pedro Alcântara

Audair Imbiriba, coordenador de turismo comunitário local, elenca as principais atrações das visitas agroecológicas no local.

“Estão dentro do turismo de base comunitária os pontos atrativos de visita à criação de peixe em tanque-rede, na gaiola flutuante; a criação de abelhas melíponas - que são as espécies sem ferrão -; e a própria comunidade mostrando o potencial da natureza em si e seus pontos turísticos, como os igarapés, as trilhas e o passeio de canoa na floresta alagada”, detalha.    

:: Inquérito sobre incêndio em Alter do Chão (PA) é arquivado sem apontar responsáveis ::   

Antonio Cardoso, presidente da Associação de Piscicultores Agroextrativistas de Anã (APAA) ressalta que todo o trabalho de turismo agroecológico é feito de forma integrada entre troca de conhecimentos e desenvolvimento local. Ele afirma o próprio exemplo da criação de peixes favorecer os visitantes no local. 

“Hoje nós abastecemos a própria hospedaria, o turismo e as famílias do entorno. Então eu acredito que são projetos muitos bons para a nossa região, principalmente para nossa área de Resex e a comunidade. Os projetos de meliponicultura, piscicultura, turismo de base agroecológica hoje na comunidades são experiências de modelo de como manter a floresta em pé e o meio ambiente saudável, que serve para as famílias da comunidade e do entorno. Hoje a natureza nos oferece as oportunidades. Então é muito importante esse trabalho na comunidade”, afirma. 

:: Agricultura do Rio Negro (AM): preservação ancestral e dinâmica de inovações ::

Antonio informa que das 100 famílias locais, 84 são beneficiadas direta ou indiretamente pelo projeto de turismo comunitário e agroecológico. Além disso, todas as atividades na comunidade servem para projetos de reflorestamento no bioma amazônico no local. 


Comunidade aguarda novas determinações sanitárias para retomar atividades de turismo de base comunitária / Alexandre Godinho

Por outro lado, a pandemia do novo coronavírus freou as atividades por tempo indeterminado.

“Hoje parou tudo. Há uma preocupação grande por não estarmos recebendo turistas. Então, com isso, ficamos inquietos porque sabemos que o turismo é uma fonte de renda complementar e isso estava bombando na nossa região. Então, afetou de tal maneira que hoje a gente se preocupa de dizer assim: 'será que vai voltar para a gente trabalhar?'. Porque nós temos a nossa cultura e as pessoas que vêm de fora trazem a sua cultura. Isso era muito legal porque era uma troca de experiências que tínhamos com essas pessoas que vinham de outras regiões. Então hoje a comunidade está parada com esse trabalho”, afirma Audair. 

:: Protagonismo das mulheres em Choró (CE) ecoa que "sem feminismo não há agroecologia" ::

A expectativa de superar o momento pandêmico se junta ao desejo de expansão territorial. Moradores e moradoras de Anã projetam que a experiência local seja desenvolvida em toda a Resex Tapajós Arapiuns. 

Neste caso, o foco das cercas de 400 pessoas de Anã iria se irradiar para um conjunto de outras 23 mil, que residem em uma das maiores e mais populosas Unidades de Conservação do Brasil.  

Edição: Douglas Matos