giro pelo nordeste

No Piauí, Lula fala a estudantes e defende educação como forma de combate à fome

O ex-presidente recebeu apoio do governador Wellington Dias, que criticou implicitamente a operação Lava Jato

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Lula foi homenageado por estudante universitária do município de Guaribas, uma das cidades-piloto do programa Fome Zero - Reprodução/Twitter/Wellington Dias

Nesta terça-feira (17), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a Teresina (PI), onde foi recebido pelo governador Wellington Dias (PT). 

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A viagem faz parte da turnê de Lula pelo Nordeste, região em que goza de popularidade e lidera as pesquisas de intenção de voto à presidência em 2022. 

No Centro de Educação em Tempo Integral (CETI) do bairro Pedra Mole, na zona Leste da capital piauiense, o ex-presidente participou de uma cerimônia com lideranças políticas locais e defendeu a educação como um dos caminhos para a erradicação da fome. 

"Há 40 anos esse estado era sinônimo de pobreza, de desemprego, de evasão escolar, de desnutrição e mortalidade infantil. Mas hoje é um fenômeno", afirmou o ex-presidente.

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A uma plateia formada por estudantes, citou o Piauí como exemplo de combate à miséria. Em 2003, o estado sediou o projeto-piloto do programa Fome Zero, que serviu de base para retirar o país do Mapa da Fome.

"O Piauí é um dos estados que mais crescem economicamente, que tem a melhor qualidade de ensino, da creche à universidade", complementou Lula.

O governador Wellington Dias elogiou programas federais implementados por governos petistas. Sem citar diretamente a operação Lava Jato, o político criticou a perseguição sofrida por Lula por parte de setores do Ministério Público e do Judiciário. 

"É por isso que queriam tirar a sua liberdade de ir e vir. Porque o senhor representa um perigo pra quem não quer que os mais pobres tenham vez", declarou o governador, dirigindo-se ao ex-presidente. 

Lula deve permanecer no Piauí até a quarta-feira (18), quando embarca para o Maranhão. Antes de encerrar o giro pelo nordeste, o ex-presidente deve passar pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia. 

Desemprego castiga o Piauí 

A escolha do Piauí não é aleatória. O estado nordestino enfrenta a maior taxa de desocupação desde 2012, são 14,5% de piauienses desempregados, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em maio deste ano.

O número de desempregados no estado segue o índice nacional, que aponta que 14,7% dos brasileiros economicamente ativos, estão desocupados. Em números absolutos, são 14,8 milhões de pessoas. Em 2010, ano que fechou os oito anos de gestão de Lula, eram 6,7% de desempregados. 

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada em novembro de 2020 pelo IBGE, 1,4 milhão de piauienses vivem com R$ 436 por mês no estado. Outros 15% estão na extrema pobreza e recebem R$ 151 mensais. 

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Há, ainda, os 240 mil piauienses, ou 7,6%, que tentam sobreviver com apenas R$ 89 por mês. Em 2014, último ano do primeiro mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), eram 2,4% da população.

Bolsa Família

Em suas redes sociais, Wellington Dias afirmou que a visita de Lula ao estado representa uma "esperança" à população local. O Piauí viu despencar em 98%, em 2020, o número de novas famílias assistidas pelo Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do país. 

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Em 2020, apenas 86 novas famílias piauienses foram incluídas no programa. No Pará, por exemplo, foram adicionados 11.293 beneficiários. No Rio Grande do Sul, outros 11.886 novos cadastros aceitos pelo governo federal. 

Na semana em que Lula viaja pelo nordeste em busca de alianças políticas e participando de debates sobre temas nacionais, o atual mandatário do país, Jair Bolsonaro (sem partido), anunciou o envio ao Congresso Nacional do projeto Auxílio Brasil, que poderá substituir o Bolsa Família, criado no governo do petista. 

O programa é a aposta de Bolsonaro para crescer nas pesquisas. O último levantamento disponível, divulgado pelo Datafolha em 9 de julho deste ano, o atual presidente aparece com apenas 31% contra 59% de Lula, em uma simulação de segundo turno. No Nordeste, o petista alcança 64% de intenção de voto. 

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Por isso, Bolsonaro correu com a nova proposta de programa de transferência de renda para a população mais pobre, o Auxílio Brasil. Porém, dois pontos centrais na proposta ficaram de fora: o valor do benefício e de onde o recurso será retirado.

O valor do benefício deve ser definido apenas em setembro. Em outubro o governo federal ainda pagará parcelas do Auxílio Emergencial e, segundo o governo, o novo benefício substituirá o auxílio. Bolsonaro afirmou que o valor deve ser no mínimo 50% maior do que o Bolsa Família, que atualmente está em R$ 189 reais. Assim, a 
expectativa é que o valor do auxílio gire em torno de R$ 285.

Menos beneficiários

Enquanto corre para garantir aumento no benefício, às vésperas das eleições, Bolsonaro tenta esconder o passado de crítico do Bolsa Família. Em 2010, o atual presidente, que era deputado federal, chamou o programa de "Bolsa-Farelo".

No mesmo ano, voltou a atacar o programa. "Se, hoje em dia, eu der R$ 10 para alguém e for acusado de que esses R$ 10 seriam para a compra de voto, eu serei cassado. Agora, o governo federal dá para 12 milhões de famílias em torno de R$ 500 por mês, a título de Bolsa Família definitivo, e sai na frente com 30 milhões de votos. 

Disputar eleições num cenário desses é desanimador, é compra de votos mesmo", encerrou. 
No começo do mandato, Bolsonaro diminui o número de famílias assistidas pelo programa. Em 2018, ainda sob o comando do presidente Michel Temer (MDB), 14,1 milhões de famílias eram beneficiadas. 

Em 2019, a primeira queda. Bolsonaro derrubou para 13,7 milhões, o número de famílias beneficiadas. No ano seguinte, outra redução, dessa vez para 13,2 milhões. Somente agora, em 2021, diante da crise da pandemia e de sua popularidade, o presidente aumentou o número de famílias alcançadas para 15,2 milhões.

Edição: Vivian Virissimo