NA CORDA BAMBA

Empresa imobilíaria chinesa Evergrande não paga dívida e aumenta risco de falência

Banco do Povo da China fez maior injeção financeira do último mês para estabilizar mercado

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Evergrande é a segunda maior empresa do setor imobiliário da China e possui uma dívida de mais de US$ 300 bilhões - Hector Retamal / AFP

A Evergrande Real Estate, segunda maior companhia do setor imobiliário chinês, não pagou sua dívida na última quinta-feira (23), aumentando a suspeita de falência. A empresa, então, anunciou um acordo e tem até um mês para cobrir o valor de US$ 83,5 milhões (cerca de R$ 450 milhões) em juros de uma dívida total de US$ 309 bilhões (R$ 1.166 trilhão). 

Na próxima quinta-feira vence outro prazo de pagamento da Evegrande no valor de US$ 47,5 milhões (cerca de R$ 225 milhões). Caso as duas parcelas não sejam pagas até dia 23 de outubro, a empresa poderá colocar seus títulos em default - implicando o calote ou uma renegociação. A situação voltou a levantar suspeitas sobre o risco de falência do grupo. 

A dívida da Evergrande é a maior do setor imobiliário chinês e representa 2% do PIB do país. Algumas filiais estaduais anunciaram que não tinham fundos para arcar com as dívidas locais, como o caso da fábrica de carros elétricos Evergrande New Energy Vehicle.

Após o anúncio, as ações da empresa caíram 9,42%. Desde o inicio do ano, o valor da subsidiária despencou 97% na bolsa de valores de Hong Kong, passando de US$ 86,6 bilhões (R$ 465 bilhões) em fevereiro para US$ 2,5 bilhões (R$ 13,4 bilhões) em setembro. A Evergrande New Energy Vehicle seria a principal concorrente da Tesla, de Elon Musk.

Em resposta, o Banco do Povo da China fez uma das maiores injeções financeiras do último mês, um rebote de US$ 15,5 bilhões (R$ 83,3 bilhões) nesta segunda-feira (27). Já o China Guangfa Bank Co congelou US$ 20 milhões nas contas bancárias da Evergrande.

Leia também: FMI anuncia maior injeção financeira da história, mas sob distribuição desigual

Controle de danos

Os governos municipais  começaram a intervir na empresa em algumas regiões para garantir a conclusão das obras que estavam a cargo da Evergrande. Já o governo central aumenta as medidas para controlar a especulação e financeirização do setor imobiliário. 

Como as terras são consideradas um bem público, as construtoras devem disputar concessões públicas através de leilões realizados pelas administrações dos estados e municípios. No entanto, o valor dos leilões têm diminuído, porque o governo central chinês também reduziu os créditos das construtoras.

:: Sem fazer parte do G7, China foi grande assunto da 47ª Cúpula do grupo, na Inglaterra ::

Por outro lado, agora a administração central solicita um planejamento anual dos leilões aos governos locais. "Dessa forma eles [governos estaduais e municipais] não podem blefar para conseguir melhores preços e as construtoras não podem sair comprando sem previsibilidade, tem que calcular os riscos, fazer planos", comenta Marco Fernandes, pesquisador do Instituto Tricontinental residente em Xangai.

Os vencimentos do próximo mês são débitos com cidadãos chineses. Já para 2022, a Evergrande deveria pagar os títulos de agências financeiras internacionais, entre elas o fundo Ashmore, dos Estados Unidos, que detém 3% do total da dívida da empresa, seguido do banco suíço UBS, com 1,37%, e o britânico HSBC, com 1,33%. 

Edição: Arturo Hartmann