Feminismo

Caderneta Agroecológica ajuda na produção no campo e visibiliza trabalho das mulheres rurais

A tecnologia social sistematiza as atividades que muitas vezes "passam despercebidas" nos sistemas agroalimentares

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A tecnologia social da caderneta agroecológica foi desenvolvida na atuação do Centro de Tecnologias Alternativas (CTA) da Zona da Mata de Minas Gerais - Arquivo: CTA/Zona da Mata de Minas Gerais
Quando vi a diversidade do que eu produzi, eu disse: rapaz, eu sou a mulher!

O dia a dia do trabalho das mulheres em áreas rurais é complexo. Uma forma de ajudar a organizar e visualizar essas atividades durante o mês é a chamada caderneta agroecológica, desenvolvida pelo Centro de Tecnologias Alternativas (CTA) da Zona da Mata de Minas Gerais.

A utilização da caderneta agroecológica mudou radicalmente a vida de Aidraiane Ferreira, que mora em Ourolândia, na Bahia. A agricultura percebeu o seu trabalho de outra maneira depois que começou a utilizar a caderneta agroecológica.

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"Eu sinto orgulho do que eu produzi. Porque, assim, antes era produzir, produzir. Produzir para não ter que comprar. E hoje não. Eu produzo porque eu sei que estou contribuindo com a renda da minha família", destaca. 

A caderneta agroecológica é uma tecnologia social que sistematiza a diversidade de tarefa das mulheres rurais. Nas anotações entram o que foi plantado no quintal, tarefas domésticas e trabalhos extras. Elas controlam tudo.


A caderneta possui quatro colunas para organizar os fluxos no sistema agroalimentar / Arquivo: CTA/Zona da Mata de Minas Gerais

De forma simples, mas eficiente, elas visualizam o que foi vendido, doado ou consumido em casa. No final do mês, elas calculam quanto rendeu cada esforço empenhado naquele período.

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A proposta da caderneta agroecológica surge de um contexto político-pedagógico, como afirma Beth Siqueira, assessora de gênero do projeto Pró-Semiárido.  

“A caderneta agroecológica surgiu com o movimento de mulheres rurais no leste de Minas, junto com uma ONG e o CTA Zona da Mata, num processo de formação de mulheres, agroecologia e feminismo. A caderneta nos traz um processo de formação, com uma perspectiva de gênero, onde essas mulheres vão se conhecendo”, destaca.


A caderneta agroecológica está sendo utilizada em diversos territórios do país / Arquivo: CTA/Zona da Mata de Minas Gerais

 

Aidraiane Ferreira afirma o papel da tecnologia social para feminismo. 

“Para algumas pessoas e para alguns homens, essas mulheres não tem importância nenhuma, o que elas fazem não significa nada. E a caderneta vem com esse objetivo de mostrar que a gente contribui, sim, com a renda da família", analisa.

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Também no interior baiano, Jozélia da Silva Santana coloca tudo que faz na caderneta.

“De primeira eu só achava que eu só trabalhava. Depois da caderneta, eu passei a ver toda a diversidade que eu produzo, que eu não prestava atenção. Apenas plantava.“

É dessa forma que ela tira da invisibilidade uma experiência quase sempre esquecida, o valor de tudo o que planta em seu quintal produtivo ou roçado. E é anotando cada passo do seu dia que Jozélia tem noção do tamanho do próprio trabalho.

“Quando vi a diversidade do que eu produzi, eu disse: rapaz, eu sou a mulher!" 

Edição: Daniel Lamir