Eleição

"Bolsonaro chileno", José Kast reúne apoios da direita para 2º turno das eleições presidenciais

Kast recebeu apoio dos partidos governistas e também de importantes nomes da direita na América Latina

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O advogado chileno José Antonio Kast foi o candidato mais votado no primeiro turno das eleições presidenciais - Martin Bernetti/AFP

Em um segundo turno entre um candidato de ultradireita e um nome da esquerda, a direita chilena escolhe a extrema direita. Apelidado de "Bolsonaro chileno", José Antonio Kast disputa com Gabriel Boric o cargo de presidente do Chile no dia 19 de dezembro e tem conseguido aglutinar as forças conservadoras de seu país — e também do exterior.

O candidato do Partido Republicano já recebeu o apoio dos quatro partidos que compõem a coalizão governista do atual presidente, Sebastián Piñera, a Chile Vamos: União Democrática Independente (UDI), Renovação Nacional, Evopoli e o Partido Regionalista Democrata Independente.

Além dos apoios nacionais, Kast foi endossado pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa e o opositor venezuelano Leopoldo Lopez.

Para Joana Salém, professora da Faculdade Cásper Líbero e pesquisadora da América Latina, a capacidade de Kast reunir apoios importantes apesar de suas posições autoritárias não surpreende.

“Não é nenhum um pouco surpreendente que a direita chilena se localize rapidamente e orbite ao redor agora do Kast no segundo turno já que é um candidato que tem posições ideológicas bastante orgânicas a esse setor. Além disso, a UDI é um partido declaradamente pinochetista desde sua origem", avalia Salém em entrevista Brasil de Fato.

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Sobre os apoios internacionais recebidos por Kast, a pesquisadora enxerga o episódio como um exemplo de como as direitas que se dizem moderadas e as direitas abertamente autoritárias abraçam a extrema direita “quando consideram necessário”.

“Mostra que as direitas latino-americanas, mesmo quando se apresentam com uma cara de moderna, de liberais no sentido positivo que essa palavra às vezes assume no vocabulário do senso comum, estão de prontidão para apoiar um candidato fascista. Ou seja, o neoliberalismo e o fascismo na América Latina estão cada vez mais alinhados internacionalmente", diz a professora da Faculdade Cásper Líbero.


Elisa Loncón, professora Mapuche da Universidade de Santiago, é a presidenta da Convenção Constitucional do Chile / Javier Torres/ AFP

Kast venceu o primeiro turno com 27,9% dos votos, contra 25,8% de Gabriel Boric. Todavia, o candidato da esquerda tem uma ligeira vantagem nas pesquisas de intenção de voto para o segundo turno.

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Para buscar eleitores de centro e dos presidenciáveis que não passaram para o segundo turno, Kast reformulou parte de seu plano de governo. O candidato do Partido Republicano recuou em sua proposta de acabar com o Ministério da Mulher, retirou uma passagem de seu programa que afirmava que medidas contra a emergência climática seriam adotadas caso a mudança do clima fosse "validada de forma confiável" e também de uma proposta de criar um fosso para evitar a entrada de migrantes.

A professora Joana Salém avalia que a eleição no Chile é vital para o futuro da América Latina, porque o país foi a porta de entrada do neoliberalismo no continente, com o golpe de Augusto Pinochet, de quem Kast é defensor, em 1973.

“O neoliberalismo foi aplicado a partir da ponta do fuzil no nosso continente e o modelo chileno, o assim nomeado modelo chileno, durante muito tempo foi considerado uma referência positiva de modernidade econômica para os discursos neoliberais do Brasil, da Argentina e de outros países", diz Salém. No dia 19 de dezembro, diz a pesquisadora, “dois projetos de América Latina” vão se enfrentar nas urnas.

Edição: Anelize Moreira