PREJUÍZO

Com boicote de Neil Young, Spotify perde R$ 11,3 bi e anuncia medidas

Após prejuízos por favorecer podcast negacionista, plataforma vai incluir links com informações científicas sobre covid

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O cantor e compositor Neil Young retirou suas obras do Spotify; a plataforma estava apoiando um podcast que divulgava mentiras sobre vacinas contra a covid-19 - Per Ole Hagen/Wikimedia

O Spotify viu suas ações caírem 6% em cinco dias, após ter optado por apoiar um podcast que divulgava mentiras sobre vacinas contra a covid-19 e, como resultado disso, ter sido obrigado pelo cantor e compositor Neil Young a retirar suas obras da plataforma. A perda registrada, em valor de mercado, foi de R$ 11,3 bilhões (US$ 2,1 bi).

Com o boicote, Young pressiona a plataforma para que retirasse do ar conteúdos que disseminam teorias conspiratórias e fake news sobre a pandemia. Temendo que o prejuízo aumente, o Spotify reagiu, ainda que de forma tímida. A empresa anunciou, neste domingo (30), que vai incluir links com informações cientificamente verificadas em todos os podcasts que mencionarem a doença.

A reação de Young se deu contra o comediante e apresentador Joe Rogan. De grande audiência nos Estados Unidos, ele defende, por exemplo, que crianças e jovens não sejam vacinados. “Eles podem ter Rogan ou Young. Não os dois”, disse o músico na semana passada.

Posteriormente, ele recebeu o apoio da cantora Joni Mitchell, que também retirou suas obras da plataforma. “Eu decidi retirar todas as minhas músicas do Spotify. Pessoas irresponsáveis estão espalhando mentiras que custam vidas. Sou solidária a Neil Young e às comunidades científicas e médicas globais nesta questão”, publicou em seu site oficial.

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Clareza

Como resultado, o Spotify também afirmou que vai aumentar a transparência em suas políticas de conteúdo. Com isso, pretende esclarecer conteúdos considerados perigosos, enganosos, sensíveis e/ou ilegais. A partir disso, os criadores que violarem as regras poderão ter seus trabalhos excluídos da plataforma.

“Ficou claro para mim que temos a obrigação de fazer mais para fornecer equilíbrio e acesso a informações amplamente aceitas das comunidades médicas e científicas que nos orientam neste momento sem precedentes”, disse o presidente e fundador do Spotify, Daniel Ek, no blog da empresa sueca.

Até o momento, contudo, os episódios de Rogan com desinformação sobre vacinação continuam disponíveis.

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Histórico em defesa da ciência

Pelo Twitter, a jornalista neozelandesa Anne Loren, diretora do site Sttuf, relembrou o longo histórico de Neil Young em defesa da ciência. Ela lembrou que o cantor e compositor foi acometido de poliomielite, quando criança, na década de 1950. Nas décadas seguintes, os cientistas desenvolveram vacinas eficazes que permitiram, se não erradicar, ao menos manter a poliomielite sob controle em diversas partes do mundo.

“Depois de receber alta do hospital, ele teve que reaprender a andar. A pólio o deixou permanentemente incapacitado, contribuiu para um sério transtorno de ansiedade”, declarou. Young também sofre de epilepsia, segundo ela, e tem dois filhos com paralisia cerebral. Nesse sentido, o álbum Trans (1982) foi escrito como uma forma de se comunicar com eles.

Anne destacou que Young e sua esposa fundaram uma ONG, a The Bridge School, para crianças com deficiências graves. E promovem, todos os anos, um concerto beneficente para arrecadar fundos e conscientizar sobre esse tipo de doença e arrecadar fundos. Músicos como David Bowie e Elton John, além das bandas Pearl Jam, Metallica e Smashing Pumpkins já passaram pelos palcos da organização.

“Tudo isso para dizer que, se você está procurando uma celebridade que saiba da importância das vacinas, e que é bem educado na esfera da saúde e deficiência, você não pode fazer muito melhor do que Neil Young”, disse a jornalista.

Por outro lado, ela lembrou que os “barulhentos”, “mais raivosos” e “com mais dinheiro”. Assim, disse imaginar como “decisões sobre disseminação de desinformação” são tomadas, revelando certo ceticismo com as medidas anunciadas pelo Spotity. “E o nosso mundo é mais pobre por isso”, concluiu.