Investigação

Flávio Bolsonaro é citado em investigação do MP sobre compra de fuzis pela Polícia Civil do Rio

Subprocurador Lucas Rocha Furtado pede à presidência do TCU que apure caso, revelado em reportagem da UOL

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Clã Bolsonaro é publicamente conhecido pela defesa do uso de armas por parte da população civil - Wilson Dias / EBC

O subprocurador-Geral do Ministério Público Lucas Rocha Furtado enviou documento ao Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo à presidenta da Corte, ministra Ana Arraes, que se investigue o caso da aquisição de 500 fuzis da empresa Sig Sauer por parte da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

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A história envolve o nome do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente da República, que é citado no documento enviado pelo Ministério Público (MP).

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Tais informações foram divulgadas na noite de segunda-feira (31) pelo portal UOL, que revelou o caso na mesma data.  Furtado diz ver “evidente” direcionamento na referida compra.

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O subprocurador também afirma que houve “atuação direta do senador armamentista Flávio Bolsonaro” na liberação da verba do governo Bolsonaro que foi utilizada para a obtenção da mercadoria.

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Os valores foram liberados pelo parlamentar juntamente com o Ministério da Justiça (MJ). Segundo apontam as apurações da reportagem da UOL, a compra contém “indício de favorecimento”. Vencedora da licitação, a fabricante de armas Sig Sauer havia feito uma proposta no valor de R$ 3.810.442,05, com o pregão tendo corrido em junho de 2021.

A aquisição da mercadoria somente veio cinco meses depois do processo, quando o filho do presidente da República obteve R$ 3 milhões junto à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), um dos braços do MJ.

Entre outras coisas, três empresas produtoras de armas tentaram impugnar o processo de licitação que resultou na compra dos produtos.

A brasileira Taurus e as indústrias turcas Kalekalip e MKEK apontaram a ocorrência de exigências que restringiam os participantes do edital, mas a Polícia Civil optou por dar seguimento ao processo.

Especialistas ouvidos pela UOL também consideraram que a licitação estaria “viciada” e deveria ser anulada.  

Apuração do MP

Ao provocar o TCU para tratar do caso, o Ministério Público solicitou que seja feita uma apuração sobre o procedimento licitatório e sobre eventuais anormalidades na liberação da verba do Ministério da Justiça que contou com a intercessão do parlamentar.

O subprocurador pediu que, em caso de constatação de irregularidades, o TCU anule a licitação e a aquisição do armamento. O tribunal ainda não se manifestou sobre o caso.

O senador

Já o senador Flávio Bolsonaro disse à reportagem não ter conhecimento sobre suspeita de ilegalidades no processo e defendeu que seja feita uma investigação a respeito da história.  

"O senador Flávio Bolsonaro afirma ainda que não tinha qualquer informação sobre indícios de irregularidades quando intercedeu pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, sabia apenas que a corporação precisava se equipar para fazer frente ao arsenal crescente do crime organizado", afirmou a equipe do parlamentar à UOL.

O filho do presidente também negou a possibilidade de ter feito lobby para favorecer a Sig Sauer. "O senador Flávio Bolsonaro não atua a favor de empresas de nenhum segmento. Seu mandato é voltado para o povo e para a agenda aprovada pelos eleitores em 2018, que pediam por mais segurança, pela defesa da vida, da moral e da pátria", sustenta.

De conhecido perfil armamentista, o parlamentar e o irmão Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) costumam ser citados no mercado bélico como sendo defensores dos interesses da fabricante alemã.   

Versão da Polícia Civil

A Polícia Civil, por sua vez, nega a existência de irregularidades na compra das armas. À UOL, a instituição fez defesa da atuação do policial Manoel Hermida Lage, um dos agentes responsáveis pela parte técnica da licitação e que foi citado na denúncia do portal como instrutor do campo de tiro da fabricante.  

Ele teria proximidade com a multinacional, além de ser responsável por acompanhar Marcelo Costa, representante da referida indústria no Brasil, em atividades de apresentação de produtos para forças policiais. Segundo a Polícia Civil, Lage faz “atividade de docência”.

Segundo a UOL, nem Marcelo Costa nem Lage deram resposta sobre denúncia do portal.

Edição: Rodrigo Durão Coelho