AGROTÓXICOS

Folha abre espaço para negacionista apoiar PL do Veneno e compara ambientalistas a antivacinas

Defensores dos agrotóxicos demonstram "desespero" ao espalhar desinformação com colaboração de jornal, aponta Alan Tygel

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Artigo de Leandro Narloch da Folha de S.Paulo usa argumentos falsos, na visão de integrante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida; na foto, manifestação em Brasília, em 2011 - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O jornal Folha de S.Paulo publicou, na manhã desta sexta-feira (18), um artigo sobre o projeto de lei que pode flexibilizar ainda mais o uso de agrotóxicos no Brasil e provocou revolta entre ambientalistas, pesquisadores e movimentos populares. Eles acusam o autor do artigo, Leandro Narloch, de usar argumentos falsos para distorcer informações na defesa do chamado Pacote do Veneno.

Narloch é conhecido pela divulgação de ideias negacionistas e adepto do revisionismo histórico, colunista fixo do jornal desde o ano passado. "Oposição a defensivos agrícolas, transgênicos e energia nuclear lembra o movimento antivacina", escreveu Narloch.

Logo após a publicação do artigo, entidades e acadêmicos se posicionaram de forma crítica contra o texto nas redes sociais. Um dos argumentos mais problemáticos utilizados por Narloch, apontam, é a comparação entre ambientalistas e o movimento antivacina.

O Brasil de Fato conversou sobre o tema com Alan Tygel, um dos coordenadores da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Segundo ele, a divulgação do texto demonstra "desespero" e "falta de argumentos".

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"A vacina é uma coisa que salva vidas, isso é irrefutável e facilmente comprovável. E também é irrefutável e facilmente comprovável que o agrotóxico mata. Ou seja, são substâncias tóxicas usadas na agricultura, que tem sua função para um determinado modelo agrícola, mas são substâncias tóxicas. O próprio nome, que eles querem mudar, diz isso. É um paralelo completamente absurdo", afirma.

"A sociedade, de forma geral, é majoritariamente contra o uso de agrotóxico. Isso explica o desespero e mostra a falta de argumentos que os defensores dos agrotóxicos têm para tentar ainda defender perante a sociedade esse projeto de lei. O artigo faz uma salada completamente sem sentido, misturando vacina, agrotóxico e energia nuclear, colocando tudo no mesmo bojo e fazendo paralelos completamente absurdos para tentar justificar uma postura de defesa dos agrotóxicos", disse Tygel.

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"O autor argumenta que a maior facilidade de registro não vai necessariamente aumentar o uso e que vai apenas colocar agrotóxicos novos e substituir os antigos. Esse é um discurso que a gente já ouve há muito tempo e não é o que está se comprovando na prática", explicou Tygel. Segundo ele, a liberação de novos agrotóxicos no Brasil é marcada por ser mais permissiva do que em outros países.

"Apesar do Pacote do Veneno ainda não estar em vigor, temos visto um aumento exponencial no registro de agrotóxicos. E esses agrotóxicos novos não são mais modernos ou menos tóxicos, são os mesmos agrotóxicos de sempre, que são proibidos na União Europeia. Cerca de 1/3 desses novos agrotóxicos que vem sendo registrados, são proibidos na União Europeia. É um argumento completamente falso", afirmou. 

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Postura negacionista

Tygel elencou ainda uma série de argumentos  falsos usados por Narloch. Um deles é que o problema não seria o agrotóxico, mas a quantidade. O ambientalista aponta, no entanto, que há diversos agrotóxicos que têm uma relação efeito-dose que não é linear. Isto é: podem causar efeitos ruins, mesmo como pequenas doses.

Por fim, o autor do artigo na Folha ainda se vale de supostos estudos de risco feitos para a liberação das substâncias. Tygel rebate apontando que os ambientalistas são favoráveis aos estudos, cobram apenas que eles sejam revisados e transparentes.

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"A Folha, quando abre espaço para esse tipo de postura negacionista, como recentemente abriu espaço para posturas racistas, está cumprindo um péssimo papel na sociedade, de disseminar desinformação e ainda fazendo comparações absurdas entre movimentos antivacina e o movimento ambientalista. E também fazendo uma defesa completamente irracional da energia nuclear, que apesar de ser considerada limpa nesse momento, está mostrando que até hoje não há formas de gestão de risco do lixo nuclear que vai se acumulando em diversas cidades sem nenhuma solução", finaliza.

Edição: Vivian Virissimo