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Pastores controlam agenda e verba do Ministério da Educação; entenda acusação a Milton Ribeiro

Reportagem mostra que religiosos atuam como lobistas, fazem parcerias com prefeituras e têm trânsito livro no ministério

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Reunião do ministro da Educação com prefeitos em Brasília, com a presença dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura - Reprodução/Instagram

O Ministério da Educação tem um "gabinete paralelo" formado por pastores, que, mesmo sem vínculo formal com o órgão, controlam a agenda do ministro Milton Ribeiro, intermediam a relação com prefeituras e fazem parte de definições sobre o orçamento da pasta.

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A informação foi revelada em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta sexta-feira (18). O grupo seria capitaneado pelos pastores Gilmar Silva dos Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da entidade.

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De acordo com a apuração, a dupla forma "um gabinete paralelo que facilita o acesso de outras pessoas ao ministro e participam de agendas fechadas onde são discutidas as prioridades da pasta e até o uso dos recursos destinados à educação no Brasil".

A reportagem identificou a presença dos dois pastores em 22 agendas oficiais no MEC, 19 delas com a presença do ministro, nos últimos 15 meses. Algumas são descritas como reunião de “alinhamento político” na agenda oficial de Ribeiro, que também é pastor.

Nos eventos com a presença do ministro e diante de gestores municipais, os pastores falam em nome do governo federal. Em viagem de Ribeiro ao município de Centro Novo do Maranhão (MA), em maio do ano passado, o pastor Gilmar dos Santos afirmou ser o responsável por garantir verbas para prefeituras.

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“Estamos fazendo um governo itinerante, principalmente através da Secretaria de Educação, levando aos municípios os recursos, o que o MEC tem, para os municípios”, declarou. Especialistas em Direito Público consultados pela reportagem do Estadão veem indícios de irregularidade e até mesmo tráfico de influência na ação dos pastores.

“Qualquer pessoa pode levar determinados pleitos a algum representante do poder público. É legítimo. Agora, a partir do momento que passa a ser uma prática, um exercício de uma atividade pública (por alguém que não faz parte da administração), configura o crime”, afirmou o advogado Cristiano Vilela.

A relação dos dois pastores com o governo começou antes mesmo da chegada de Ribeiro ao Ministério da Educação. Em 2019, eles foram recebidos pelo presidente Jair Bolsonaro duas vezes, uma delas ao lado general Luiz Eduardo Ramos, que é da igreja Batista, então ministro da Secretaria de Governo.

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Quem abriu as portas do governo à dupla, segundo integrantes da bancada evangélica, foi o deputado João Campos (Republicanos-GO), pastor da Assembleia de Deus Ministério Vila Nova, ligado à convenção de Madureira.

Outro lado

Procurado pela reportagem, Milton Ribeiro não se manifestou. O Estadão tentou contato com os pastores por meio da Assembleia de Deus Cristo para Todos, mas não obteve resposta até o momento.

Edição: Vivian Virissimo