ELEIÇÕES

O que as filiações de Alckmin, Augusto Botelho e Carmen Silva contam sobre o "novo PSB"?

Partido se aproxima das eleições de outubro reunindo ex-tucanos, lideranças progressistas e de movimentos populares

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Alckmin, Botelho e Carmen Silva: novos filiados fazem legenda cumprir papel de abrigar políticos de diferentes espectros em torno de Lula - Reprodução/Redes Sociais

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin filiou-se, nesta quarta-feira (23), ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), em um evento promovido na sede da Fundação João Mangabeira, uma mansão no Lago Sul, bairro nobre de Brasília (DF).

Continua após publicidade

 O ato ainda marcou a entrada na legenda de outras figuras relevantes no cenário nacional, como o advogado Augusto de Arruda Botelho, do Grupo Prerrogativas, e Carmen Silva (ex-PT), líder do movimento de moradia na capital paulista.

Um dos pilares da aliança de forças progressistas em torno de Lula, o PSB tem se tornado cada vez mais relevante por cooperar e abrigar políticos de espectros distintos para construir uma plataforma ampla para a próxima eleição.

Também ingressaram nas fileiras do partido o vice-governador do Maranhão Carlos Brandão (ex-Republicanos), que assumirá o cargo para que Flávio Dino (ex-PC do B, ele migrou ao PSB em 2021) possa concorrer ao Senado, os deputados Floriano Pesaro (ex-PSDB) e Carlos Mota (ex-PL) e o senador Dario Berger (ex-MDB).

:: "Federação partidária com PSB ainda não está descartada", diz líder do PCdoB, Luciana Santos ::

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, o ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB), entre outros prefeitos, governadores e congressistas de diferentes partidos, também participaram do ato.

A diversidade da lista de novos filiados, que inclui de ex-tucanos a líderes progressistas, explica a "nova cara" do PSB para 2022. Alckmin, o mais festejado da cerimônia, deve ser o vice do ex-presidente Lula (PT). Por outro lado, entre os novos integrantes da sigla estão alguns mais próximos à base de Jair Bolsonaro (PL) no Congresso.

Um exemplo é Floriano Pesaro, ligado ao grupo de Alckmin em São Paulo, e que chegou a aceitar o convite do então ministro Osmar Terra (Cidadania) para assumir uma secretaria no governo Bolsonaro. Seu nome acabou vetado pouco antes da nomeação. O senador Dario Berger também já chegou a ostentar relação com o presidente.

Em contrapartida, não faltaram elogios a Lula no evento. O ex-governador paulista foi um dos que não se furtou a fazer elogios ao petista, seu antigo oponente e provável futuro colega de chapa. "O presidente Lula é hoje o que melhor reflete e interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro. Ele representa a própria democracia", discursou Alckmin.

Citando Mário Covas, finalizou seu discurso com homenagem ao antigo padrinho político tucano: "Quero encerrar com uma homenagem ao Mário Covas, que sintetizou um sentimento: apoiar não significa deixar de emitir discordância. Igualmente é preciso não confundir discordância com ultimato nem lealdade com subserviência. A lealdade é um valor praticado entre companheiros, mas há uma forma de lealdade que se sobrepõe a todas: a lealdade aos destinos do país", declarou Alckmin.

Assista ao ato:

O presidente do partido, Carlos Siqueira, sem citar Lula diretamente, afirmou que a disputa presidencial não será entre a esquerda e a direita, mas sim "entre a democracia e o arbítrio, entre a civilização e a barbárie".

:: Seis anos depois, STJ decide que Deltan Dallagnol deve indenizar Lula por Power Point ::

"Nós não somos forças suficientes para ganhar a eleição presidencial, nós precisamos alargar os horizontes, o espectro político, agregar forças, unir os homens e as mulheres de bem para que tomem fileiras pela defesa da democracia, pela defesa da liberdade", disse Siqueira.

"Nós temos que reconhecer que esta figura nefasta que governa o nosso país é resultado da falência do sistema político, que, embora tenha produzido grandes conquistas sociais, chegou ao momento que se deteriorou e permitiu que figura tão inexpressiva do Congresso Nacional chegasse à presidência da República. Esta anomalia precisa ser encerrada, e essa anomalia só será encerrada se nós tivermos a grandeza e a capacidade de alargar os nossos horizontes", completou.

Nas entrelinhas, contudo, Siqueira deixou explícitas as diferenças que ainda restam entre PSB, Lula e PT. Ele tratou Márcio França como candidato ao governo do estado, o que é motivo de discordância com os petistas, que querem emplacar o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.

Em conversa com a reportagem do Brasil de Fato durante o ato, Augusto de Arruda Botelho falou que valoriza a história e o espírito do partido no qual ingressou, mas admitiu o peso do apoio a Lula na decisão: "A história do PSB é muito bonita, é uma história de luta. E, obviamente, a escolha de Geraldo Alckmin para a vice-presidência dentro do partido tem um peso muito forte, então isso também, obviamente, foi levado em conta".

"Eu tenho 22 anos de advocacia criminal. Além da advocacia, eu sempre tive um trabalho político através do terceiro setor. E entendi que o momento que o Brasil atravessa é crucial, de resgate da democracia. Nossa democracia é jovem ainda e ela está sob risco. Minha opção de filiar ao PSB é pela construção de um país que fortaleça a democracia, apoiando a eleição do presidente Lula", disse.

Integrante do Grupo Prerrogativas, Botelho ainda não confirma que será candidato nas eleições de outubro. É provável, no entanto, que anuncie uma pré-candidatura a deputado federal pelo estado de São Paulo. Outro nome que chega com prestígio no PSB é de Carmen Silva, do movimento de moradia. Ela também deve disputar um cargo na Câmara Federal ou na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Federação está descartada?

Apesar de cada vez mais distante, ainda não está descartado o ingresso do PSB na federação partidária que unirá PT, PCdoB e PV. Segundo a presidenta da sigla comunista, Luciana Santos, ao programa BdF Entrevista, as “negociações caminham bem”. 
 
“São variáveis que corroboram com o sentimento de que a federação pode, para além da coligação nacional, sair do papel. A federação diz respeito às soluções e equações das chapas dos deputados federais, e há um interesse de uma boa parcela da bancada do PSB, que a federação se consolide. Estou otimista”, disse.
  
Na última semana, PT, PCdoB e PV sinalizaram a construção de uma federação partidária, sem o PSB. A federação partidária foi promulgada em setembro do ano passado e é um novo elemento no sistema eleitoral brasileiro.   

Diferentemente das coligações, o novo pacto entre os partidos deve ter duração mínima de quatro anos e funciona como uma frente de partido único. Por isso, as legendas escolhem conjuntamente os candidatos, dividem o acesso ao Fundo Partidário e o tempo de televisão.
 
Convidada desta semana no BdF Entrevista, Luciana Santos, que também é vice-governadora de Pernambuco, considera que, “no contexto em que a gente está vivendo, a federação se reveste de uma importância estratégica muito grande”. 
 
Ela lembra que “existem vários exemplos no mundo, tanto do lado da esquerda, quanto pela direita”, do sucesso da federação partidária. “A [composição do governo de] Angela Merkel mesmo é uma espécie de federação. Do nosso lado, nós temos a experiência do CNA [Congresso Nacional Africano], na África do Sul; temos também a Geringonça, em Portugal; o APU; a aliança entre o Partido Verde e o Partido Comunista. Nós temos também a principal, acho eu, pela proximidade, pela similaridade, que é a frente do Uruguai, que é uma das frentes mais promissoras, liderada por [Pepe] Mujica, que teve grandes feitos no Uruguai”. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho