Colômbia

Líder nas pesquisas na Colômbia, Petro suspende atividade de campanha por ameaça de morte

Pacto Histórico alega "falta de garantias" após grupos paramilitares publicarem ameaças contra Petro e Francia Márquez

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Gustavo Petro lidera as pesquisas da eleição presidencial da Colômbia, prevista para 29 de maio - Pacto Histórico

O candidato líder nas pesquisas das eleições presidenciais na Colômbia, Gustavo Petro, da coalizão Pacto Histórico, decidiu suspender temporariamente sua campanha na região sul-ocidental do país por razões de segurança. O comitê de campanha afirma ter informações de que o grupo paramilitar "La Cordillera" estaria planejando um atentado contra Petro nos dias 3 e 4 de maio, quando o candidato realizaria atividades de campanha no eixo cafeicultor. 

"É uma pena que eu tenha que suspender o tour pela região cafeeira. A medida dos setores da corrupção de pagar bandos de assassinos para minha eliminação física mostra o desespero político a que chegaram", disse Petro em seu Twitter.

De acordo com o chefe de campanha, Alfonso Prada, a continuidade dos comícios na região dependerá da capacidade dos organismos do Estado de dar segurança a Petro. "Nós não costumamos cancelar eventos, mas damos total credibilidade à nossa equipe de segurança", declarou.

Em março, a candidata à vice-presidência pelo Pacto Histórico, Francia Márquez, publicou panfletos assinados por grupos paramilitares que prometiam "exterminá-la".

O ministro de Defesa, Diego Molano, afirmou "não ter informação de inteligência militar que permitam determinar a existência de um plano criminoso". O Ministério Público prometeu abrir uma investigação e a Polícia Nacional irá formar uma equipe especial para verificar as denúncias do Pacto Histórico.

Embora o Estado colombiano tenha anunciado ações sobre o caso, o presidente Iván Duque (Centro Democrático) disse que "Petro é uma das pessoas mais protegidas do país". O chefe da Polícia colombiana também disse que Petro possui um esquema de segurança "robusto".

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No dia 22 de abril, o comandante do exército colombiano, general Eduardo Zapateiro, publicou uma mensagem em seu perfil no Twitter afirmando que "os colombianos viram Petro receber dinheiro em sacos de lixo" como uma resposta a outra mensagem crítica do atual senador sobre a relação dos militares colombianos e o narcotráfico.

Para o filósofo e defensor de direitos humanos Alejandro Mantilla, as declarações de Zapateiro e Duque violam a Constituição.

"Essa participação política do comandante do Exército e do presidente Iván Duque geram um ambiente hostil que ameaça a democracia colombiana", defende.

Paramilitares na política

O grupo paramilitar "La Cordillera" tem presença e vínculos com o tráfico de drogas no estado de Risaralda há pelo menos dez anos. Um relatório de janeiro de 2022 da Defensoria Pública colombiana apontou que o grupo aumentou suas atividades econômicas na região, cobrando pagamentos indevidos a comerciantes locais, as chamadas parcelas "gota a gota", e controlando loterias, casas de aposta, assim como as principais rotas de distribuição de produtos na zona do sul-ocidental. 

O grupo armado foi vinculado com uma série de assassinatos, sendo o mais recente o caso do estudante Lucas Villa, que teve morte cerebral após ser baleado ao sair de uma manifestação durante a greve geral de 2021.

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"O paramilitarismo é um fator de bloqueio das eleições livres na Colômbia. Em 1990 foram assassinados três candidatos presidenciais por grupos paramilitares em aliança com organismos de segurança do Estado. Infelizmente, a interferência do paramilitarismo em eleições na Colômbia não é nova, por isso preocupa tanto que Francia Márquez foi ameaçada e que Petro confirme que há uma ameaça séria contra o favorito para vencer as eleições", comenta Mantilla. 

Nas redes sociais, Petro tem lembrado o caso Jorge Eliécer Gaitán, do partido Liberal, primeiro candidato progressista favorito para vencer as eleições presidenciais, assassinado em 1948.

"No passado, organismos de segurança do Estado participaram de crimes de lesa humanidade, incluindo magnicídios contra candidatos presidenciais. Esperamos que exista uma genuína depuração dos organismos de segurança do Estado para que possam cumprir com a lei e não atentar contra movimentos sociais e políticos de oposição", defende o filósofo colombiano Alejandro Mantilla.

Edição: Thales Schmidt