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Ficou rico

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Nunca mais vi o Zé, mas acredito que, se ele estiver vivo ainda, é milionário. Se não estiver vivo, deixou uma fortuna para os filhos, que podem se gabar de serem honestos, né? - Unsplash
Aproveitei para lembrar a ele toda a história do enriquecimento do Zé

Um amigo quis provar que é possível ficar rico honestamente, e citou um cara que conheci quando cheguei em São Paulo. Não vou falar o nome dele, digamos que era Zé.

Aproveitei para lembrar a ele toda a história do enriquecimento do Zé.

Ele arrumou emprego numa grande loja que vendia eletrodomésticos, entre outras coisas, e dava assistência técnica aos compradores. A função do Zé era fazer orçamentos para consertos de eletrodomésticos.

Quando um cliente pedia o conserto de uma geladeira, o Zé ia à casa dele, via o defeito e dava o orçamento.

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Aí é que começou a ganhar dinheiro. Não com o salário. Convenceu um técnico bom em consertos a pedir demissão da loja e abrir uma oficina, como sócio dele.

Então, quando ia fazer o orçamento para conserto de uma máquina de lavar, por exemplo, exagerava no valor. Se era 500 cruzeiros, dinheiro da época, dizia que era 900. O cliente chiava, perguntava se não dava para fazer mais barato, e ele dizia:

- Olha... vou lhe dar uma dica, mas ninguém pode ficar sabendo. O mellhor técnico que tinha na loja pediu demissão e abriu uma oficina. Ele cobra bem menos.

Dava o telefone da oficina ao sujeito, o técnico ia lá e consertava por 600... Eram muitos clientes e ganharam muito dinheiro assim.

Juntaram grana suficiente para abrir um posto de gasolina na Via Anhanguera.

Esse técnico, muito competente, descobriu um jeito de tirar gasolina de caminhões tanque sem romper o lacre, e passaram a oferecer aos caminhoneiros almoços grátis, em troca deixarem tirar uns 30 litros de gasolina do tanque. Uma diferença de 30 littros não causava suspeita, ainda mais que o lacre do tanque não era rompido.

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Aí, tudo quanto era motorista de caminhão tanque parava lá para almoçar.

A última notícia que tive do Zé, uns anos depois, era que ele tinha uma grande imobiliária na Zona Sul de São Paulo. Loteava e vendia terrenos enormes, segundo me disseram.

Não fui saber a origem dos terrenos loteados, mas perguntei ao cara que me deu a notícia:

- Será que ele grila terrenos públicos e vende lotes?

Ele não respondeu.

Nunca mais vi o Zé, mas acredito que, se ele estiver vivo ainda, é milionário. Se não estiver vivo, deixou uma fortuna para os filhos, que podem se gabar de serem honestos, né? As mutretas, foi o pai que fez. Torço o nariz para herdeiros.

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Daniel Lamir