INTEGRAÇÃO REGIONAL

Peru assume presidência da Comunidade de Nações Andinas em meio a crise política interna

22ª Conferência Presidencial Andina, realizada em Lima, reuniu chefes de Estado da Bolívia, Peru, Equador e Colômbia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Os presidentes Pedro Castillo (Peru), Luis Arce (Bolívia), Gustavo Petro (Colômbia) e Guillermo Lasso (Equador) se reuniram em Lima para transferir a liderança da Comunidade de Nações Andinas - Presidência Peru

O Peru acaba de assumir a presidência temporária da Comunidade de Nações Andinas (CAN - sigla em espanhol), aliança criada em 1969 entre Peru, Bolívia, Equador e Colômbia. "Fortalecemos a integração regional para levar nossos povos rumo ao caminho do desenvolvimento, justiça social e paz", disse o presidente peruano Pedro Castillo, que assume, nesta segunda-feira (29), a liderança do bloco pelo próximo ano.

Em meio a uma profunda crise política interna, com duas tentativas de impeachment frustradas, cinco investigações abertas no Ministério Publico e familiares detidos acusados de corrupção, Castillo busca consolidar apoios regionais para melhorar sua imagem diante do eleitorado. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos Peruanos, neste mês de agosto apenas 29% dos peruanos aprovam a gestão de Castillo. 

A Conferência presidencial contou com a presença dos quatro mandatários da região andina: o boliviano Luis Arce, o equatoriano Guillermo Lasso e o colombiano Gustavo Petro. A presidência do bloco estava sob controle do Equador. O ministro de Relações Exteriores equatoriano, Juan Carlos Holguín, confirmou o início de mesas de negociação comercial entre a Comunidade de Nações Andinas e União Europeia. 

A Bolívia propôs fortalecer os vínculos da Comunidade com o Mercosul, assim como estabelecer mesas de negociação de futuros acordos com a União Europeia e países da região euroasiática.

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Arce também propôs a suspensão de impostos para medicamentos e o incremento da produção de fertilizantes e outros insumos agrícolas, a fim de priorizar a produção de alimentos entre a comunidade andina. Por fim, o presidente boliviano ainda sugeriu a criação da "rota turística andina" que unificasse os quatro países em investimentos para criação de infraestrutura para um roteiro de turismo na região. 

O vice-ministro de Comércio Exterior e Integração da Bolívia, Benjamín Blanco, também disse que seu país está disposto a assumir a Comissão de Comércio da CAN.

"Agradeço a convocatória deste importante encontro presidencial da Comunidade Andina. O atual contexto internacional nos mostra as crises profundas que a humanidade enfrenta e são os povos que mais sofrem as consequências", publicou o presidente boliviano em sua conta no Twitter

Esta foi a primeira viagem internacional do recém-empossado presidente colombiano Gustavo Petro, que chegou a Lima acompanhado do chanceler Alvaro Leyva. 

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O ministro colombiano propôs que a Comunidade Andina avaliasse a inclusão da Venezuela e do Chile no bloco. "Este é o momento oportuno para considerar a visão de integração efetiva da América Latina a partir do relacionamento com outros blocos, mas particularmente, através da vinculação de aliados fundamentais, como Chile e Venezuela, nações irmãs", disse durante a conferência.

Petro também se reuniu com Castillo. Como o presidente peruano foi impedido pela justiça de deixar o país para comparecer à posse do seu colega colombiano, esse foi o primeiro encontro entre os dois chefes de Estado. 

"Bem-vindo irmão Gustavo Petro. Tua presença no Peru fortalece nossas relações bilaterais para a busca do desenvolvimento de nossos povos, assim como a integração regional", publicou Castillo 


História

A Comunidade de Nações Andinas concentra 113 milhões de habitantes e reúne três entre as cinco economias mais prósperas da América do Sul em 2021. Segundo o ranking da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o Peru lidera a lista, com 9,5% de crescimento, com a Colômbia em terceiro lugar, com 5,4%, seguido da Bolívia com 5,1% de aumento do PIB.

A CAN ainda possui o Tribunal Andino, o Parlamento Andino e a Universidade Andina Simón Bolívar associados.

Ainda que a cordilheira dos Andes, com 3.371 milhões de km de extensão, também atravesse a Argentina, Chile e Venezuela, são os quatro países membro da CAN que concentram a maior população de povos originários andinos. Além de intercâmbio comercial, o objetivo da comunidade é preservar a cultura desses povos. 

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Em 1979 foi criada a Coorporação Andina de Fomento (CAF), um dos maiores bancos regionais latino-americanos, aprovando um plano de capitalização de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 35 bilhões) em 2021. A proposta é que a CAF seja o "banco verde" da América Latina, com 40% dos fundos sendo destinados a construção de infraestrutura e financiamento de projetos com base na agenda ambiental aprovada na última conferência do clima das Nações Unidas a COP26, realizada em Glasgow.

Já na década de 1990 foi criada a zona de livre comércio e desde o ano passado está vigente o Estatuto Migratório Andino, que garante livre circulação sem necessidade de passaporte ou visto para os cidadãos dos quatro países membro da comunidade, assim como garante residência temporária, que garante direito de residência por até dois anos, e outras facilidades para adquirir a residência permanente na Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.

Edição: Thalita Pires