REPERCUSSÃO

"Duelo entre gigantes": imprensa internacional destaca polarização nas eleições no Brasil

Violência política, risco à democracia e polarização no processo eleitoral brasileiro são pauta internacional

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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No último dia antes das eleições, os dois candidatos realizaram atos em SP; Bolsonaro fez motociata em Santana; Lula convocou uma caminhada na rua Augusta - AFP

As eleições no Brasil têm sido consideradas como o processo eleitoral mais importante de 2022 pela imprensa internacional e se tornaram pauta em portais de distintas partes do mundo neste sábado (1º). Veículos da imprensa tradicional e também anti-hegemônicos caracterizam o processo como decisivo para o futuro do país e da América Latina. 

A agência Prensa Latina resume que, desde 2013, o Brasil "está dividido entre a direita conservadora e a esquerda progressista" e aponta quais seriam os desafios para um possível governo de Lula da Silva, afirmando que teria que " negociar novamente com os dirigentes dos partidos de centro".

O portal argentino Página 12, destaca o favoritismo de Lula, aponta que neste domingo (2) "[veremos] se o futuro político de Bolsonaro termina neste domingo ou se estende até o final do mês".

Nos Estados Unidos, o New York Times cita as crises sequenciais que o Brasil atravessou desde o impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff até a crise ambiental e a pandemia de covid-19, destacando que o país só ficou atrás dos EUA em relação ao número de mortos. "São as eleições mais importantes em décadas" e ressalta que uma vitória de Lula poderia confirmar uma nova era de governo de esquerda na América Latina, com seis entre as sete maiores economias da região sendo governadas por partidos progressistas.

The Wall Street Journal trouxe dados do aumento de 40% da violência contra candidatos no último trimestre, com 140 ataques entre julho e setembro deste ano. "Uma das campanhas mais amargas desde o retorno do país à democracia em 1985, marcada por uma série de assassinatos brutais que a polícia acredita terem motivação política", publica o jornal. 

O veículo ainda reconhece que as eleições de 2018 e o mandato de Bolsonaro contribuíram para "dividir o país". 

O canal CNN também falou sobre o clima de tensão e polarização. "A hostilidade está atraindo preocupação global", era uma das chamadas que comentavam o alerta das Nações Unidas sobre as eleições no país. O canal ainda destacou o antagonismo do perfil de Lula e Bolsonaro, assim como os questionamentos do presidente sobre o sistema eleitoral.

Já os veículos europeus destacaram assuntos internos no processo eleitoral brasileiro. O portal Euronews destacou que o resultado eleitoral poderá ser decisivo para a assinatura do acordo entre a União Europeia e o Mercado Comum do Sul (Mercosul). 

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O Público, de Portugal,país com o terceiro maior colégio eleitoral brasileiro no exterior, traz uma cobertura extensa do último debate eleitoral, do ambiente político de tensão e expectativa no Brasil, assim como perfil de brasileiros que votam em Portugal e refletem a polarização nacional.

A agência britânica Reuters também afirma que estas são as "eleições mais polarizadas em décadas".

Já o diário El País publicou um editorial criticando o atual presidente brasileiro, afirmando que Bolsonaro "usa a destruição como estratégia", destacando um perfil "paranóico" do atual mandatário. Salientam que "apesar da crise econômica e a nefasta gestão da pandemia", o presidente manteve o apoio de 1/3 do eleitorado.

"São dois candidatos radicalmente opostos" que disputam um país "atravessado por múltiplas fraturas", aponta o francês Le Monde. Já a Agência France-Press (AFP) destacou o aumento de 51% na quantidade jovens entre 16 e 17 anos com título de eleitor em relação às eleições de 2018. E noticiam o apoio dos jovens que votarão pela primeira vez no candidato mais velho e mais "experiente", Luiz Inácio Lula da Silva. 

"Alguns ainda não haviam nascido no último mandato de Lula, outros eram meros bebês, mas todos conhecem o legado educacional de Lula: aumento de bolsas e introdução de cotas para ajudar pessoas de minorias raciais e socioeconômicas a terem acesso a boas escolas", escreve a AFP.

Edição: Arturo Hartmann