Movimentos populares

Boulos, Marina, Ediane e mais: saiba quem são os deputados eleitos do MST e do MTST

Para a Câmara dos Deputados e legislativos estaduais, o MST elegeu seis deputados; o MTST elegeu dois

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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"Precisamos acabar de vez com a fome e a desesperança do nosso povo", diz Alexandre Conceição, coordenador nacional do MST - Comunicação MST

Marcando o ano em que movimentos populares colocaram peso inédito e articulado nacionalmente na disputa eleitoral, oito militantes das maiores organizações de luta por terra e por moradia do país foram eleitos para cargos legislativos.  

A nova composição da Câmara dos Deputados, em Brasília, terá Guilherme Boulos (PSOL-SP), liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), e três integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): Valmir Assunção (PT-BA), Marcon (PT-RS) e João Daniel (PT-SE).

Além disso, outros cinco ativistas ocuparão cadeiras em Assembleias Legislativas estaduais. Do MST, Marina dos Santos (PT) no Rio de Janeiro, Adão Pretto Filho (PT) no Rio Grande do Sul, Rosa Amorim (PT) em Pernambuco e Missias do MST (PT) no Ceará. Do MTST, Ediane Maria (PSOL) foi eleita deputada estadual em São Paulo.

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Principais propostas 

De acordo com o MST, as principais propostas de suas candidaturas são a reforma agrária popular; políticas públicas para a agricultura familiar camponesa e o enfrentamento da fome; combate à violência em territórios de povos tradicionais; políticas de geração de emprego e renda e fortalecimento de mecanismos em defesa dos "direitos humanos em prol da diversidade étnico-racial, sexual e de gênero".

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"Nós fomos compreendendo que a luta na rua é importante, mas que existem outros espaços na estrutura da nossa sociedade que, no final das contas, também definem os rumos do atendimento ou não dessas pautas", afirma Débora Nunes, da coordenação nacional do movimento.

Já por parte do MTST, entre as bandeiras mais importantes está o direito à cidade, por meio do que chamam Planejamento Urbano Integrado, compreendendo um plano territorial de política habitacional e mobilidade urbana. "Com investimentos massivos especialmente nas periferias urbanas e assentamentos precarizados", explica Boulos, que defende um programa de subsídio habitacional voltado para famílias com renda mensal de até três salários mínimos.

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A erradicação da fome - que afeta atualmente 33,1 milhões de pessoas no país - é um dos pontos enfatizados pelos políticos de ambos os movimentos populares.

Saiba quem são os parlamentares eleitos: 

Boulos, coordenador nacional do MTST e deputado federal 

Guilherme Boulos já se candidatou à presidência em 2018 – ano em que o MTST optou por começar a atuar na política partidária - e à prefeitura de São Paulo em 2020. Agora, coordenador da campanha de Lula (PT) em São Paulo, ele se torna deputado federal com 1.001.453 votos. 

Hoje com 40 anos, Boulos é graduado em filosofia e tem mestrado em psiquiatria, ambos pela Universidade de São Paulo (USP). Já foi professor da rede pública estadual e atualmente leciona na Escola Kope. 

Boulos começou a militância aos 15 anos no movimento estudantil, na União da Juventude Comunista (UJC) e, em 2002, ingressa no MTST. Começou a ter visibilidade quando, em 2003, participou da coordenação da ocupação de um terreno da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP).  

Valmir Assunção, deputado federal e um dos fundadores do MST 

Um dos criadores do MST na Bahia, Valmir Carlos Assunção esteve à frente da primeira ocupação do movimento no estado. Ele foi, também, o primeiro negro e nordestino a compor a direção nacional do MST.  

Nascido em Itamaraju, no extremo sul baiano, ali ajudou a construir o PT local, partido pelo qual foi eleito deputado estadual em 2006. Se licenciou do cargo de deputado para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza durante o governo de Jacques Wagner (PT). Em 2010, foi eleito deputado federal pela primeira vez e repetiu o feito nas eleições seguintes. Agora, alcança o quarto mandato.   

Marcon, assentado do MST e deputado federal  

Nascido em Rondinha, cidade do norte do Rio Grande do Sul, Dionilso Marcon é o único deputado federal gaúcho que vive num assentamento rural.  Filho de pequenos agricultores, viveu acampado por cerca de quatro anos até que o Assentamento Capela, em Nova Santa Rita (RS), foi regularizado.  

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Iniciando sua trajetória política em 1987 na Pastoral da Juventude, ele já fez parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da direção estadual do MST, além de ter presidido a Cooperativa Central dos Assentamentos do RS. Neste ano de 2022 Marcon finaliza seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados e busca mais uma reeleição.

João Daniel, deputado federal e liderança do MST

Candidato à reeleição, João Somariva Daniel iniciou sua militância aos 17 anos, atuando na Pastoral da Juventude da igreja católica. Filho de agricultores familiares, ele saiu do interior catarinense para se ajudar a organizar o MST em Sergipe.

Ali, foi eleito deputado estadual em 2010 e, quatro anos depois, deputado federal. Em 2018 foi reeleito, sendo o quinto mais votado da Câmara dos Deputados.

Sua eleição foi confirmada na terça-feira (4), após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que validou os votos recebidos pela vice-governadora do Sergipe, Eliane Aquino (PT), o que mudou o número de vagas conquistadas pelo partido no estado.

Marina do MST, deputada estadual no RJ 

Nascida no Paraná, Lucia Marina dos Santos vive na capital carioca desde 1996. Quando chegou no Rio de Janeiro, já integrava o MST havia sete anos. No Rio, fez graduação em serviço social e mestrado em geografia.  

Tendo sido articuladora da Via Campesina e da Coordenação Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC), Marina foi eleita para compor a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) tendo como bandeiras primordiais a luta por soberania alimentar, agroecologia e o combate aos agrotóxicos. 

Adão Pretto Filho, do MST, deputado estadual no RS  

Conhecido como Adãozinho, ele é um dos nove filhos de Adão Pretto, um dos fundadores do MST e que, já falecido, foi o primeiro sem-terra a ocupar uma cadeira de deputado estadual, eleito em 1986 para compor o parlamento gaúcho.  

Adão Pretto Filho atualmente tem 34 anos e começou sua militância jovem, já no campo institucional. Foi secretário da Juventude do PT, coordenou campanhas de seu pai e seu irmão, Edegar Pretto (que agora concorre ao governo do estado gaúcho). Trabalhou no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul em 2006 e, em 2011, dirigiu a Secretaria de Cultura e Esporte da prefeitura de Viamão (RS). Foi nessa cidade que se elegeu vereador em 2016 e, em 2023, começa seu mandato como deputado estadual.  

Missias do MST, deputado estadual no Ceará

O candidato Missias do MST também foi eleito para deputado estadual Ceará pelo PT com mais de 43 mil votos válidos antes do término da apuração.

Com 29 anos, Manoel Missias Bezerra é assentado da Reforma Agrária, administrador e agricultor. Entre as suas propostas, estão o desenvolvimento de um Plano Estadual de Adaptação Climática e de Combate à Desertificação, programas para a implementação de energias renováveis, acesso à habitação popular, entre outros segmentos importantes para as classes populares de trabalhadores tanto do campo quanto das cidades.

Rosa Amorim, do MST, eleita deputada estadual em Pernambuco 

Com mais de 42 mil votos, Rosa Amorim foi eleita deputada estadual pelo PT em Pernambuco.

Ela é militante do MST desde pequena, quando foi escolhida para representar os Sem Terrinha na Assembléia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

Nascida no Assentamento Normandia, em Caruaru, agreste pernambucano, Amorim vive na capital Recife, onde cursa Teatro pela Universidade Federal do estado (UFPE). Aos 25 anos, negra e lésbica, será a primeira Sem Terra a ocupar uma das 49 cadeiras da Alepe.

Ediane Maria, coordenadora do MTST e deputada estadual em SP 

Aos 38 anos e integrante da coordenação do MTST em São Paulo, Ediane se apresenta como mulher preta, periférica, LGBT, mãe solo de quatro filhos e empregada doméstica. Sendo a sétima de oito irmãos, Ediane nasceu em Floresta, cidade do sertão de Pernambuco. Aos 18 anos se mudou para São Paulo onde, em suas palavras, se tornou "mais uma vítima do quarto de empregada". Em 2017, se engaja na luta por moradia. 

"Somos nós que morremos de fome, de bala, de desemprego. De falta de políticas públicas. Então não dá mais para a gente ficar fora desses espaços", afirma Ediane ao Brasil de Fato.

*Matéria atualizada no dia 6/10 para incluir a reeleição do deputado João Daniel (PT-SE), definida pelo TSE após a publicação original

Edição: Nicolau Soares