"pintou um clima"

Venezuelanas se recusam a gravar vídeo e Bolsonaro pede desculpas ao lado de "embaixadora"

Em mensagem gravada nas redes sociais, presidente tenta se explicar após fala insinuando que imigrantes se prostituíam

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

Ouça o áudio:

"Embaixadora" venezuelana ficou em silêncio em vídeo gravado por Michelle e Jair Bolsonaro - Reprodução/Twitter

A campanha de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição segue tentando conter os danos e explicar o vídeo em que o presidente afirmou que "pintou um clima" entre ele e jovens venezuelanas com idades entre 14 e 15 anos, e a insinuação, feita por ele, de que as meninas se prostituíam. Nesta terça-feira (18) foi divulgado um pretenso pedido de desculpas do mandatário sobre o caso.

Ao lado da esposa, a primeira dama Michelle Bolsonaro, e da advogada e professora universitária Maria Teresa Belandria, apresentada como "embaixadora" da Venezuela no país, o presidente se contradisse, e afirmou que sabia que as meninas eram trabalhadoras. Belandria foi nomeada pelo autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó, e recebeu o reconhecimento do governo brasileiro em 2019.

:: Quem é a embaixadora no Brasil nomeada por Juan Guaidó e aceita por Bolsonaro? ::

O vídeo é encerrado por uma fala de Michelle Bolsonaro. A "embaixadora", por sua vez, permanece em silêncio durante toda a gravação, que durou mais de dois minutos e foi imediatamente replicada por perfis favoráveis ao presidente. A mensagem também foi alvo de críticas.

A gravação foi divulgada depois que a equipe do presidente tentou fazer com que algumas das meninas que foram citadas por ele publicassem mensagem dizendo que tudo havia sido um mal entendido, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. A tentativa, porém, foi frustrada, já que as jovens e suas famílias ficaram com receio de uma exposição ainda maior.

O "pedido de desculpas"

No vídeo desta terça, o presidente, que aparentava estar lendo um texto, afirma que "as palavras que eu disse refletiram uma preocupação da minha parte no sentido de evitar qualquer tipo de exploração de mulheres que estavam vulneráveis".

:: Investimentos em proteção à infância e adolescência despencam no governo Bolsonaro ::

Bolsonaro afirmou, ainda, que as dúvidas sobre a real situação das meninas venezuelanas expostas "foram quase imediatamente esclarecidas" após uma visita da então ministra da Mulher, Damares Alves. Mesmo assim, ele seguiu replicando a história e fazendo insinuações (ou efetivamente afirmando) que as meninas se prostituíam. 

"Elas estão reconstruindo suas vidas no Brasil, e ajudam outras venezuelanas refugiadas a encontrar profissão", afirmou o presidente. "Se minhas palavras que, por má fé, foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas", complementou, tentando repassar a quem ouviu a responsabilidade pelo que ele disse.

Bolsonaro insinuou exploração sexual de meninas em outras oportunidades

O caso ganhou destaque depois de uma entrevista de Bolsonaro a um podcast na última sexta-feira (14). Aquela, porém, não foi a primeira vez que o capitão reformado contou o caso. Ele falou sobre o assunto em pelo menos duas outras oportunidades.

Convidado a participar de uma feira do setor de alimentos e bebidas, Bolsonaro aproveitou a oportunidade para fazer um de seus discursos tradicionais. Misturando o habitual negacionismo da pandemia com outros assuntos, ele narrou o episódio.

Em setembro, o presidente concedeu entrevista a um pool de podcasts, e também falou sobre o tema. A entrevista foi recuperada e publicada nas redes sociais nesta terça por diferentes perfis, como o de Janja, esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Edição: Thalita Pires