60 anos de embargo

Cuba denuncia prejuízo de US$ 154 bilhões por bloqueio econômico imposto pelos EUA

"É uma situação de guerra, de buscar o colapso do país" disse o chanceler cubano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Chanceler cubano Bruno Rodríguez apresentou relatório de impactos do bloqueio econômico para corpo diplomático em Havana, nesta quarta (19) - Chancelaria de Cuba

Em 60 anos de bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, Cuba acumula US$ 154 bilhões em prejuízos, segundo relatório apresentado nesta quarta-feira (19) pelo ministro de Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez. O embargo é um conjunto de leis que impedem o governo cubano de comercializar com empresários estadunidenses, impõe barreiras de crédito e sanções a bancos ou países que decidam realizar transações econômicas com a ilha.

Todos os anos o governo cubano quantifica os danos causados pelo bloqueio e apresenta o documento à Assembleia Geral das Nações Unidas, que há 30 anos aprova por ampla maioria uma resolução que exige o fim do embargo.

"É uma situação de guerra, de buscar o colapso do país, sem medir as graves consequências humanitárias", disse o chanceler cubano. 

O "embargo total" foi oficialmente imposto no dia 3 de fevereiro de 1962 pelo então presidente John F. Kennedy, como represália pela revolução socialista de 1959. De lá pra cá, o bloqueio contra a ilha tornou-se uma política de Estado dos EUA, que é recrudescida com o passar dos anos. Durante a administração de Donald Trump foram impostas 243 medidas coercitivas unilaterais, incluindo travas para estadunidenses que queiram realizar turismo na nação caribenha.

Trump também ativou o título III da lei Helms-Burton, de 1996, que estabelece a possibilidade de processar empresas cubanas na justiça estadunidense exingido reembolsos devido às nacionalizações realizadas pelo governo revolucionário no início da década de 1960. Entre 2019 e 2021, foram abertos 34 processos exigindo o pagamento de multas.

Entre as medidas do embargo, está a proibição de que Cuba comercialize com o dólar a nível internacional e que adquira tecnologia ou equipamentos com mais de 10% de componentes fabricados nos EUA. 

"Dezenas de bancos negam serviços a Cuba por medo de multa dos Estados Unidos. Além da perseguição direta a transportadoras, a companhias de navegação marítima, seguradoras e empresas de logística em geral, o que encarece em até 30% a importação de combustível", relatou o ministro cubano. 

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Apesar do presidente dos EUA, Joe Biden, reabrir a embaixada estadunidense em Havana e comprometer-se a emitir 20 mil vistos anuais para cidadãos cubanos que queiram visitar os Estados Unidos, não houve revogação de outras medidas do bloqueio. A Casa Branca também mantém Cuba na lista de países que financiam o terrorismo - mesmo sem qualquer evidência para tal denúncia.

Somente durante os 14 meses de gestão democrata, os prejuízos acumulam US$ 6,3 bilhões, segundo o governo cubano. Entre janeiro e julho do ano passado, no auge da pandemia de covid-19, a média de perdas diárias foi de US$ 12 milhões.

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Justamente por conta da emergência sanitária, Cuba direcionou mais US$ 184 milhões para o setor da saúde e tornou-se o primeiro país da América Latina a desenvolver uma vacina própria contra a covid-19.

Ainda que a biomedicina cubana produza 60% dos medicamentos consumidos na ilha, as autoridades enfrentam dificuldades de importar componentes usados na fabricação dos remédios.

De acordo com o relatório, 375 pacientes estão na fila para poder colocar marcapassos e outros 200 esperam por cirurgias cardiovasculares, que não podem ser realizadas por falta de materiais cirúrgicos.

"Imaginem como seria Cuba hoje se nós pudéssemos dispor destes recursos. O bloqueio não é uma política republicana. É a conduta prática atual das autoridades estadunidenses", questionou Rodríguez.

Edição: Thales Schmidt