Direitos humanos

"Utilizar venezuelanas na campanha é asqueroso": feministas da Venezuela rebatem Bolsonaro

Coletivos feministas repudiaram declarações do presidente e exigiem que migrantes sejam protegidas

Caracas (Venezuela) |
"Eventos representam uma grave violação dos direitos humanos das meninas e mulheres migrantes", afirmam organizações - Alan Santos/PR/Flickr

Movimentos e coletivos feministas da Venezuela manifestaram repúdio às declarações do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), que insinuou que crianças venezuelanas que vivem no Brasil seriam vítimas de prostituição infantil. 

Em comunicado emitido em conjunto, 15 organizações feministas condenaram as falas do mandatário brasileiro e as classificaram como "caluniosas, criminosas e repugnantes".

"Esses eventos representam uma grave violação dos direitos humanos das meninas e mulheres migrantes venezuelanas, porque violam sua dignidade e promovem deliberadamente xenofobia, aporofobia, racismo e violência sexista", diz o documento.

Para Marcia Moreno, dirigente do movimento Unidas Anzoátegui, umas das organizações que assinam o comunicado, Bolsonaro tentou fazer um uso político das crianças venezuelanas para fortalecer sua campanha eleitoral. "É asqueroso utilizar o nome da Venezuela e das venezuelanas nas eleições onde um candidato de extrema direita acusa seu rival de querer converter o Brasil em uma Venezuela", afirma ao Brasil de Fato.

Moreno ainda afirma que a postura hostil de Bolsonaro em relação à Venezuela é uma herança do governo estadunidense de Donald Trump, que ampliou as sanções econômicas contra o país. "Essas declarações não têm sentido algum e sabemos que estratégias como essa são orquestradas pelos Estados Unidos, por isso nós repudiamos profundamente essas falas", afirmou.

No comunicado, os coletivos ainda pedem que "organizações feministas, movimentos sociais e sociedade brasileira em geral [...] se manifestem sobre esse ato aberrante de agravo e discriminação".

"Exigimos que o Estado brasileiro, suas instituições, o sistema de justiça e todos os órgãos competentes se pronunciem sobre este lamentável caso, adotando medidas de retratação em favor das meninas e mulheres venezuelanas, apliquem as leis que protegem as mulheres e meninas e tomem todas as ações que garantam a segurança e proteção de meninas e mulheres migrantes venezuelanas no Brasil", diz.

Os movimentos venezuelanos também responsabilizam as sanções impostas por Washington pelos altos fluxos migratórios oriundos da Venezuela a diversos países da região e afirma "que o bloqueio e a guerra econômica aplicada [...] constituem uma forma de violência contra as mulheres".

Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), cerca de 6 milhões de venezuelanos vivem fora da Venezuela. Muitos deles participaram dos fluxos migratórios dos últimos anos impulsionados pela crise econômica no país e, no Brasil, existem cerca de 300 mil migrantes do país vizinho. 

Participação de "embaixadora" também é criticada

Em entrevista ao Brasil de Fato, Moreno também condenou a participação da advogada venezuelana Maria Teresa Belandria em um vídeo gravado por Bolsonaro para tentar se retratar por suas falas sobre as crianças migrantes.

Na mensagem, Belandria é apresentada como "embaixadora da Venezuela". Entretanto, como publicou o Brasil de Fato, a advogada nunca foi nomeada representante diplomática pelo governo venezuelano. Ela na verdade foi indicada pelo ex-deputado Juan Guaidó, que é reconhecido pelo Brasil como "presidente interino" do país vizinho por Bolsonaro.

"Isso nos causa muito repúdio, ver como mulheres se prestam para acompanhar, acobertar esse tipo de atitude contra outras mulheres, contra crianças e, além disso, que são suas compatriotas", disse Moreno.

Edição: Thales Schmidt