Diplomacia 'fake'

Embaixadora de Guaidó que ajudou Bolsonaro não é diplomata e estudou em instituto do Pentágono

Nomeada por "presidente interino", Maria Teresa Belandria atuou em prol de Bolsonaro no caso das crianças venezuelanas

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Belandria é advogada e frequentou o Centro de Estudos Hemisféricos de Defesa William J. Perry - Wikimedia commons

Em mensagem divulgada nesta terça-feira (18) para tentar se retratar por ter insinuado que crianças venezuelanas seriam vítimas de prostituição infantil, o presidente Jair Bolsonaro apareceu ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e da advogada venezuelana Maria Teresa Belandria, que é apresentada como “embaixadora da Venezuela”.

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Além disso, de acordo com matérias publicadas pelos jornais O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão, Belandria teria sido a responsável por convencer as meninas venezuelanas a se reunirem com a primeira-dama e a ex-ministra Damares Alves na tarde desta segunda-feira (17).

Entretanto, Belandria não possui carreira diplomática e nunca foi nomeada pelo governo da Venezuela como representante do país no Brasil.

Na verdade, a advogada é considerada por Brasília como “embaixadora” pois ela foi indicada pelo ex-deputado venezuelano Juan Guaidó, opositor de direita que tentou construir um “governo paralelo” reconhecido por Bolsonaro.

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Formada em Direito pela Universidade Santa María de Caracas, Belandria nunca ocupou um cargo diplomático ou sequer um cargo público na Venezuela. Após realizar pós-graduação na área do Direito Internacional Econômico e Integração, a advogada foi estudar no Centro de Estudos Hemisféricos de Defesa William J. Perry, instituição localizada nos EUA e mantida pelo Pentágono.

O centro é parte da Universidade de Defesa Nacional, que pertence ao Departamento de Defesa dos EUA, e se dedica a formar civis e militares para “fortalecer o Estado de Direito e a democracia e promover o entendimento das políticas dos Estados Unidos no Hemisfério Ocidental”.

Segundo a biografia publicada no site da “embaixada” fictícia que Belandria comanda, a advogada "possui estudos em Segurança Cibernética, Estratégia e Política de Defesa, Relações Civis Militares e Liderança Democrática, Perspectivas de Segurança e Defesa, Administração e Planejamento de Recursos para Defesa".

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A advogada também já trabalhou para a Fedecámaras, a maior entidade patronal da Venezuela. Além disso, foi uma das fundadoras do partido de direita Vente Venezuela, cuja principal liderança é a ex-deputada Maria Corina Machado.

Até 2019, Belandria era assessora de Corina Machado. Histórica opositora do chavismo na Venezuela, a ex-deputada é cotada como pré-candidata à Presidência para as eleições venezuelanas de 2024. Em 2006, uma ONG que Machado comandava chegou a ser indiciada pelo Ministério Público venezuelano por ter recebido 30 mil dólares de órgãos estatais estadunidenses.

Edição: Arturo Hartmann