Nova recordista

Privatizada por Bolsonaro, refinaria do Amazonas vende gasolina mais cara do país

Reman foi vendida no final do governo Bolsonaro e superou antiga Rlam, também privatizada, em preços altos

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus, foi vendida pela Petrobras para a empresa Atem - Divulgação/Petrobras

Privatizada no final do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a antiga Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus, passou a vender a gasolina mais cara do país. O dado consta de um estudo produzido pelo Observatório Social do Petróleo (OSP).

Segundo esse estudo, o litro da gasolina vendida pela antiga Reman, que agora chama-se Refinaria da Amazônia (Ream), custa  21 centavos ou 6,5% a mais do que o vendido pela Petrobras. A estatal cobra R$ 3,31 por litro, em média. A refinaria privatizada, R$ 3,52.

O preço da gasolina na Ream, inclusive, é 2 centavos mais caro do que na antiga Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, também privatizada por Bolsonaro.

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A Reman foi transferida no dia 1º de dezembro para a empresa Atem’s Distribuidora, que faz parte de um grupo empresarial amazonense. O negócio envolveu 257,2 milhões de dólares – cerca de R$ 1,3 bilhão – e contrariou pedido expresso do governo de transição composto por indicados pelo novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Desde então, a Atem promoveu cinco reduções e sete aumentos da gasolina, de acordo com o OSP. O levantamento foi divulgado na semana passada e é baseado em dados disponibilizados pela própria Ream, pela antiga Rlam, Petrobras e Agência Nacional do Petróleo (ANP).

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Após esses aumentos, a gasolina vendida em postos de combustíveis aos consumidores da região Norte, atendida pela Ream, tornou-se a mais cara do país. A região, que tinha frequentemente a gasolina mais barata do país, passou a ter o combustível 9,3% mais caro do que a média nacional. O cálculo leva em conta o valor médio do combustível desde o início de janeiro até 12 de fevereiro.

Segundo o economista Eric Gil Dantas, do OSP, os aumentos ocorreram porque a Atem passou a ter o monopólio regional do fornecimento de combustível no Norte. Isso, inclusive, já era previsto. Por isso, entidades como a OSP reclamaram da privatização.

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"Todos os combustíveis ficam mais caros, como nós e tantos outros pesquisadores sempre argumentamos ao longo dos últimos anos", disse Dantas. "Esses dados devem ser muito bem observados pelo novo governo, a fim de enxergarem que o projeto de privatização das refinarias precisa ser enterrado de uma vez por todas, pelo bem da economia."

Gás mais caro

No início de fevereiro, um outro estudo da OSP já havia apontado que antiga Reman subiu seus preços e passou a vender o gás mais caro do país após sua privatização. O levantamento constatou que o botijão vendido lá é 37% mais caro que o das refinarias controladas pela Petrobras.

Antes da privatização, um botijão de 13kg custava menos de R$ 113 no Amazonas, em média. No início de fevereiro, o botijão superava os R$ 123, uma alta de quase 9%.

A Atem tem declarado que os reajustes dos combustíveis ocorreram para suprir os custos na aquisição dos produtos junto à base da Petrobras, em Urucu, município de Coari (a 370 km de Manaus).

Segundo a empresa, ela agora é a responsável por arcar com os custos da operação com terminal aquaviário e transporte de navio para receber o gás e outros produtos da Petrobras e revendê-los em Manaus.

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"A Ream reafirma seu compromisso de seguir uma política transparente em sua estratégia de preços, amparada por critérios técnicos e sempre dentro das normas do mercado", acrescentou a Atem, em nota.

A Petrobras informou que o processo de venda da Reman foi lançado em junho de 2019. "Todo o processo levou mais de três anos para ser concluído e seguiu rigorosamente a Sistemática de Desinvestimentos da companhia, tendo sido aprovado em todas as instâncias da governança corporativa da Petrobras", acrescentou.

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A estatal destacou ainda que a venda integra o compromisso firmado durante o governo Bolsonaro pela Petrobras com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a abertura do setor de refino no Brasil.

Edição: Nicolau Soares