Racismo religioso

Polícia Militar tortura filho de Ialorixá e invade terreiro em Alagoas, denuncia advogado

"Caso fosse outro bairro ou outra religião, isso não aconteceria", diz Pedro Gomes, que acompanha o caso

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O terreiro Abassá de Angola Oya Igbale fica no Conjunto Otacílio de Holanda, na Cidade Universitária, área periférica da capital alagoana - Pedro Gomes

Na última quinta-feira (2), policiais militares da força tática do Batalhão de Polícia de Guarda de Alagoas arrombaram a porta, sem mandado, e reviraram o terreiro Abassá Angola, no Conjunto Otacílio de Holanda, em Maceió (AL). Antes disso, abordaram na rua o filho de 18 anos da atual Ialorixá do terreiro, o levaram para uma casa abandonada e o espancaram.

A denúncia foi feita pelo advogado Pedro Gomes, que acompanha o caso como integrante da Comissão de Igualdade Racial da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) e do Núcleo de Advocacia do Instituto do Negro de Alagoas.

De acordo com Gomes, os policiais afirmaram estar procurando drogas e ameaçaram de morte o rapaz - cujo nome a defesa preferiu preservar. Nenhuma substância foi encontrada em posse dele nem no terreiro. Uma semana antes, ele havia sido abordado pelos mesmos policiais.

O jovem mora no local com sua mãe, Jeane Yara, que é a atual Ialorixá. Ele também é neto de Mãe Vera, fundadora da casa e conhecida líder religiosa de Alagoas, que faleceu em setembro de 2022. Ele deve dar depoimento na delegacia na próxima segunda-feira (4).

Negros, periféricos e de religião de matriz africana

Questionado sobre o possível motivo da violência policial, Pedro Gomes destaca "a própria natureza do serviço dessa guarnição". "Não há qualquer respeito com os moradores da região por serem negros e periféricos, e também não há respeito com as religiões de matriz africana", afirma.

"É uma das faces do racismo estrutural. Caso fosse outro bairro ou outra religião, isso não aconteceria. Talvez se não houvesse o questionamento das ações ilegais dessa guarnição por parte de uma mãe de santo, a invasão não teria acontecido", salienta o advogado.

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O desembargador Tutmés Airan, coordenador de Direitos Humanos do Tribunal de Justiça de Alagoas, encaminhou na sexta-feira (3) um requerimento ao delegado-geral da Polícia Civil, Gustavo Xavier, para que o caso seja investigado.  

O Brasil de Fato procurou a Secretaria de Segurança Pública de Alagoas, mas não teve resposta até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.

Edição: Nicolau Soares