Tecnologia

Na guerra tecnológica de China e EUA por semicondutores, quais as opções do Brasil?

Representante de Comércio dos EUA encontra Alckmin e chanceler Mauro Vieira e discute possíveis parcerias

São Paulo (SP) |
Alckmin recebe a Representante de Comércio dos EUA em Brasília - Twitter Katherine Tai

Os Estados Unidos e suas empresas buscam alianças. Com um orçamento de US$ 39 bilhões (mais de R$ 200 bilhões) previsto em sua Lei dos Chips, os estadunidenses querem fortalecer sua cadeia de semicondutores, os processadores que são elemento central da indústria tecnológica. Mas nem todos podem ser aliados dos EUA, por motivos políticos e ideológicos que resultam em sanções e limitações de parcerias. Neste tema, o objetivo do país é garantir a ponta na tecnologia e isolar a China. 

Em janeiro, durante visita do presidente dos EUA, Joe Biden, ao México, a Casa Branca divulgou que "investimentos ao longo da fronteira" no setor de semicondutores foram discutidos com o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador.

No caso brasileiro, a secretária de Comércio americana, Gina Raimondo, conversou por telefone sobre o assunto com o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, em 15 de fevereiro, segundo a Folha de S. Paulo. O diálogo sobre o tema continuou nesta semana com a visita da Representante de Comércio dos EUA, Katherine Tai, a Brasília.  

Em nota conjunta, o Ministério das Relações Exteriores e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços afirmam que mostraram para Tai em reunião com Alckmin e o chanceler Mauro Vieira "oportunidades em setores estratégicos como semicondutores, robótica, indústria de saúde, siderurgia e equipamentos".

Já a diplomata dos EUA divulgou ter conversado com as autoridades brasileiras sobre as "prioridades comerciais e econômicas do novo governo". Ela também teve uma reunião com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Os dois países destacaram o desejo de aprimorar o Acordo sobre Comércio e Cooperação Econômica, um instrumento diplomático de 2011 que versa sobre a cooperação entre EUA e Brasil. 

Entenda

Além de serem necessários para computadores e celulares, os semicondutores são necessários hoje para uma gama cada vez maior de produtos, de máquinas de lavar até carros. A falta deste produto inclusive já causou diversas paralisações da indústria automobilística brasileira

Os chips são tão centrais para a economia global que o CEO da Intel, uma das gigantes do setor, comparou sua importância com o petróleo na definição da geopolítica. "As reservas de petróleo definiram a geopolítica nas últimas cinco décadas. Onde estão as fábricas [de semicondutores] para um futuro digital é mais importante", disse Pat Gelsinger para a CNN


Uma das sedes da principal empresa de semicondutores do mundo, a TSMC, em Nanquim, na China / AFP

O presidente da ASML, empresa holandesa aliada dos EUA que faz as máquinas que produzem os semicondutores, repetiu a comparação com o petróleo nesta semana e também apontou para os investimentos bilionários do poder público dos EUA, União Europeia e China no setor. 

"É como 1973, a crise do petróleo", disse Wennink ao jornal britânico Financial Times. "O petróleo sempre esteve lá até que não existisse, e era uma commodity estratégica. Avançamos para 2020 e é a mesma coisa com os chips."

Brasil tem ativo

Apesar da pauta de exportação brasileira ser dominada por commodities e produtos de baixa intensidade tecnológica, o país pode ter um trunfo no setor de semicondutores: o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (CEITEC).

Criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2008, a empresa está longe de conseguir produzir os chips mais avançados do mercado, que são o coração dos computadores e celulares mais modernos do mercado, mas é a única fábrica de chips da América Latina.

Durante a pandemia de covid-19, o Ceitec desenvolveu uma tecnologia que poderia produzir em massa testes PCR de baixo custo, mas o governo de Jair Bolsonaro escanteou o projeto e cortou o financiamento de ciência e tecnologia do país. Bolsonaro também boicotou um projeto de chip nacional do Ceitec para os passaportes do país e tentou fechar a empresa


A CEITEC fica em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul / Divulgação

Em entrevista ao Brasil de Fato, o presidente da Associação dos Colaboradores e Ex-colaboradores do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (ACCEITEC), Silvio Luis, afirma que "vê com grande entusiasmo o interesse dos EUA e China em estabelecer parcerias com o Brasil".

Diante das sanções dos Estados Unidos, a China busca desenvolver sua capacidade industrial de semicondutores para garantir sua autonomia tecnológica. Os chips deverão ser um dos temas da agenda de Lula em sua viagem para Pequim, que deve ter sua data anunciada nas próximas semanas.

"Acreditamos que o trabalho que a CEITEC vinha desenvolvendo nos últimos anos principalmente na formação de recursos humanos e criação de know-how em design e fabricação de semicondutores tornou o Brasil atrativo para investimentos no setor", diz Luis.

"O CEITEC é uma semente no setor de semicondutores do Brasil. Ela é a única empresa da América Latina que possui infraestrutura funcional de salas limpas e linha de equipamentos industriais para produção de semicondutores", avalia o presidente da ACCEITEC.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho