Reaproximação

Após crise migratória, Boric nomeia novo embaixador chileno para a Venezuela

Mesmo hostil a Maduro, Chile se torna 5º país sul-americano a normalizar relações com Caracas após crise de Guaidó

Caracas (Venezuela) |
Boric encerra período de cinco anos em que Chile não manteve embaixador em Caracas - Martin Bernetti/AFP

O presidente do Chile, Gabriel Boric, nomeou nesta quinta-feira (25) um novo embaixador do país para a Venezuela. Jaime Gazmuri Mujica, ex-embaixador chileno no Brasil, deve ocupar o cargo que estava vago desde 2018.

A designação vem após uma crise migratória que ocorreu na fronteira do Chile com o Peru envolvendo centenas de venezuelanos que tentavam deixar o território chileno para regressar ao seu país de origem.

A militarização de ambos os lados da fronteira decretada por Lima e Santiago obrigou os migrantes a permanecerem por duas semanas desabrigados na cidade chilena de Arica, que faz fronteira com o sul da província peruana de Tacna. A situação só se resolveu no dia 7 de maio, quando a Venezuela enviou um avião humanitário para repatriar os venezuelanos.

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No início de março, logo após militarizar as províncias e cidades fronteiriças com a Bolívia e o Peru, Boric adotou um tom conservador contra os migrantes e afirmou que os habitantes dessas regiões tiveram que "experimentar os efeitos do ingresso massivo e irregular de pessoas que chegam a nosso país buscando oportunidades".

"Alguns deles também vêm com intenções de cometer crimes e eu quero ser muito claro quando digo que essas pessoas que vêm cometer crimes não são bem-vindas. Nós vamos persegui-las e vamos fazer, dentro do Estado de Direito, a vida delas impossível", disse o presidente chileno à época.

Após o incidente, Boric enviou um representante diplomático a Caracas para negociar acordos humanitários e migratórios.

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Desde 2018, o Chile não mantinha um embaixador na Venezuela e contava apenas com um encarregado de negócios no país. À época, o então presidente conservador Sebastián Piñera decidiu não nomear um representante diplomático por considerar que as eleições presidenciais venezuelanas daquele ano haviam sido supostamente "fraudulentas".

Uma das figuras mais ativas do chamado Grupo de Lima, conjunto de países sul-americanos que aderiram à campanha de "pressão máxima" contra Maduro elaborada pelos EUA, Piñera reconheceu o mandato presidencial fictício do ex-deputado Juan Guaidó e forneceu amplo apoio para as iniciativas golpistas da oposição venezuelana.

Com a vitória de candidatos do campo progressista na América do Sul, o Grupo de Lima perdeu força e os países voltaram a normalizar relações com Caracas. A Colômbia, governada por Gustavo Petro, o Brasil, governado por Lula, a Argentina, presidida por Alberto Fernández, e a Bolívia, de Luis Arce, já restabeleceram relações com a Venezuela.

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Assim, o Chile se torna o quinto país sul-americano a rever sua posição em relação à Venezuela após a crise desencadeada por Guaidó. Até mesmo o presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, que deve assumir o cargo em agosto, já prometeu normalizar os laços diplomáticos com o governo venezuelano.

Atritos entre Boric e Maduro

Apesar de estar incluído no chamado "retorno dos progressistas" aos governos na América do Sul, Boric é o presidente que adotou uma postura mais hostil em relação à Venezuela.

O mandatário já atacou em diversas ocasiões o governo Maduro por supostas "violações de direitos humanos" no país. Em setembro do ano passado, durante um discurso na Universidade de Columbia, em Nova York, Boric chegou a dizer que seria "hipócrita" alguém que se diz de esquerda e que não condena Venezuela e Nicarágua.

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Além disso, no mesmo período, o presidente chileno chegou a acusar Caracas de colocar "uma tremenda pressão" sobre o Chile pela intensa onda migratória de venezuelanos.

Os ataques de Boric foram respondidos pela Venezuela, principalmente pelo deputado chavista Diosdado Cabello, vice-presidente do partido governista PSUV. "Se acham que vamos capitular porque um bobo como Boric vem falar besteiras sobre a Venezuela, estão enganados", afirmou o parlamentar.

Edição: Nicolau Soares