PROGRAMA FEDERAL

Com subsídios a veículos, montadoras aumentam produção e suspendem paralisações

Governo dará subsídio de até R$ 8 mil para carros novos e R$ 99 mil para caminhões

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Governo vai facilitar compra de carros novos para estimular indústria - John Macdougall / AFP

Montadoras do país aumentaram a produção de veículos em 27% de abril para maio deste ano esperando a oficialização do programa federal de estímulo à compra de automóveis. A Medida Provisória (MP) que formalizou a iniciativa foi assinada na segunda-feira (5) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e publicada nesta terça (6) no Diário Oficial.

O programa concederá subsídios de R$ 2 mil a R$ 8 mil para compra de carros novos de até R$ 120 mil. Também dará descontos de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil para compra de ônibus ou caminhões, desde que um veículo semelhante com mais de 20 anos de uso seja entregue para desmonte.

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O anúncio dos descontos foi bem-recebido pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite. Leite concedeu nesta terça-feira (6) uma entrevista coletiva para comentar os resultados de maio do setor.

Ele disse que expectativa sobre o lançamento do programa federal de descontos para carros mobilizou as montadoras. Segundo ele, o crescimento da produção de automóveis em maio foi efeito direto da divulgação das primeiras notícias sobre a iniciativa.

Segundo Leite, três montadores suspenderam lay-offs para aumentar a produção por conta do programa. Lay-off é quando uma empresa suspende contratos de trabalho, geralmente para evitar demissões.

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A Volkswagen, por exemplo, anunciou na semana passada que desistiu de suspender os contratos de trabalho de cerca de 800 funcionários da fábrica de Taubaté (SP).

“O aumento da produção foi relevante”, disse Leite, sobre o trabalho em maio. “Tivemos uma produção em ritmo mais acelerado na expectativa dos anúncios do governo federal.”

A venda de veículos, no entanto, subiu menos: 9% comparada com abril. Leite explicou que muitos consumidores resolveram esperar os descontos do governo para tomarem uma decisão final sobre a aquisição de uma carro.

“A venda de automóveis do segmento de entrada nos primeiros 15 dias superou a venda do mês de abril em 13%. Porém, na segunda quinzena, a venda caiu 16%”, relatou Leite. “Isso foi impactado pelas discussões do setor com o governo para redução de preços.”

A tal redução já está disponível para pessoas físicas a partir desta terça. Empresas só terão acesso aos benefícios após 15 dias justamente para garantir que cidadãos, como motoristas vinculados a aplicativos, sejam atendidos prioritariamente.

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Leite, aliás, espera uma corrida de consumidores à lojas de automóveis nos próximos dias. Ele lembrou que o programa foi desenhado para ter um curto prazo. Ressaltou também que foi estipulado um orçamento de R$ 1,5 bilhão para a concessão de descontos. Quando esse valor for alcançado, o programa será extinto.

Desse total, R$ 700 milhões serão subsídios para caminhões e ônibus; R$ 500 milhões para carros populares; outros R$ 300 milhões para vans.

“A expectativa é que, a partir de hoje, nos próximos minutos, o mercado tenha um crescimento considerável pela corrida dos clientes às concessionárias com os descontos anunciados”, previu Leite.

Mais medidas

O presidente da Anfavea, inclusive, defendeu que o governo amplie o programa de descontos. Ele disse que os R$ 500 milhões devem baratear a venda de cerca de 110 mil carros novos –média de R$ 4,5 mil por unidades. Isso representa aproximadamente dois terços das vendas totais de maio.

No final de maio, durante as discussões sobre o estímulo à indústria automotiva, representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já haviam pedido mais medidas para o setor, em reunião com o presidente Lula. A concessão de subsídio para compra de ônibus e caminhões, por exemplo, foi solicitada em reunião com o governo. A medida foi incluída no programa.

“Reforçamos o conjunto de propostas para o setor que entregamos ao presidente Lula no início do mês. No estudo, além de promover o lançamento imediato de modelos populares de carros, destacamos medidas para caminhões e ônibus que podem reaquecer a nossa economia”, afirmou Moisés Selerges, presidente do sindicato, na ocasião.

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Em Curitiba (PR), onde fica localizado outro dos principais polos automotivos do país, sindicalistas também aprovam a ideia do subsídio para compra de veículos novos como forma de estimular a produção e a geração de empregos. Cobram ainda que os empregos existentes sejam garantidos como contrapartida.

“É um pedido nosso para o governo, que vai dar uma nova aquecida na questão da produtividade. Tem que dar as garantias de emprego”, disse Nelsão da Força, metalúrgico da Volvo, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (Simec).

Paulo Cayres, o Paulão, ex-presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM) e secretário nacional sindical do PT, espera que a ajuda governamental crie um positivo efeito em cadeia no setor. “A medida está repercutindo bem entre os metalúrgicos. Estamos propondo a reindustrialização há tempos, programas bem objetivos. Esse anúncio destrava um pouco as vendas e pode gerar um efeito em cadeia”, disse.

Indústria como um todo

Cayres referiu-se ao programa “Indústria 10+”, elaborado pelo Macrossetor da Indústria da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que envolveu os ramos metalúrgico, químico, vestuário, alimentação e construção civil. “Há muito espaço para, por exemplo, investimento na indústria da saúde, que mostrou carência gigantesca na área da pandemia, afinal tivemos que importar máscara. Então, essa medida inicial do governo abre a fronteira para abraçar um plano, um plano de Estado, não de governo”, afirmou.

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O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que o governo vê na indústria e no estímulo ao mercado interno uma forma de alavancar o crescimento e desenvolvimento do país.

"Gerar emprego é um grande desafio hoje", disse ele. "E fortalecer a indústria também, que é quem faz mais pesquisa, inovação, paga salários maiores. Não há país forte que não tenha um indústria forte."

Edição: Rodrigo Durão Coelho