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População indígena quase dobra e chega a 1,7 milhão; trabalho inédito do IBGE no Censo 2022 explica mudança

Crescimento de quase 90% em relação a 2010 é explicado por participação direta das comunidades na pesquisa do IBGE

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Censo 2022 foi das aldeias às cidades para encontrar os indígenas do país - Alass Derivas | @derivajornalismo 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados do Censo 2022 referentes à população indígena brasileira. Segundo a pesquisa, 1.693.535 pessoas se autodeclaram descendentes de povos originários, resultado que é quase 90% superior ao registrado em 2010. 

Na edição anterior do levantamento o país tinha cerca de 890 mil indígenas, o que representava 0,47% do total de cidadãos e cidadãs em solo nacional. O resultado divulgado hoje mostra que indígenas são 0,83% de toda a população.  

A alta dessa população em 12 anos é bem superior à média de crescimento da população em geral, que foi de 6,5%. Segundo o IBGE, uma mudança de metodologia pode ter impulsionado os resultados da pesquisa. Desta vez, o estudo contou com auxílio das próprias comunidades para realizar o levantamento. 

Por meio da cartografia participativa, lideranças dos povos tradicionais acompanharam o processo da concepção às entrevistas. O trabalho de monitoramento da coleta de dados contou ainda com parceria do Funai. 

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Os mais de 9,5 milhões de hectares Yanomami, por exemplo, foram percorridos por terra, água e ar, em uma parceria que reuniu diversos ministérios, para que os pesquisadores e pesquisadoras pudessem chegar a todas as pessoas do local.  

Além disso, a pergunta "você se considera indígena?" passou a ser feita não apenas a quem vive em Terras Indígenas (TIs), mas também para pessoas que residem em agrupamentos indígenas identificados pelo IBGE e ocupações domiciliares dispersas em áreas urbanas ou rurais.  

"Ministra, o seu ministério ficou maior", afirmou bem humorado o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, ao se dirigir a Sônia Guajajara, que está à frente do Ministérios dos Povos Indígenas. 

Na cerimônia de lançamento dos dados, ele ressaltou que, sem as organizações indígenas, o trabalho não teria sido possível. "É o censo do Brasil. É um censo que a Funai, a Sesai [Secretaria de Saúde Indígena] e tantas pessoas que estão aqui ajudaram a construir. Ajudaram e redescobrir o Brasil." 

"Temos a certeza de que entregamos à sociedade o mais detalhado e tecnológico retrato da população indígena do país. Essa operação já se torna uma referência internacional importante de como fazer censo entre os povos indígenas, garantindo seu direito de consulta e respeitos sua organização social e seus territórios", celebrou.

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Em seu discurso, Sonia Guajajara afirmou que os dados vão subsidiar políticas públicas e ações que, pela primeira vez, têm participação direta e efetivas dos povos indígenas.

"Estamos vivendo um momento histórico no Brasil. Não podemos negar que 2023 pode ser um marco. O marco que queremos é esse, o marco temporal da participação e do protagonismo indígena, dos povos indígenas compondo o poder executivo para construir políticas públicas adequadas às nossas diferentes realidades", disse a ministra.

Territórios 

O IBGE destacou ainda que, no período entre 2010 e 2022, o número de TIs oficializadas no Brasil passou de 505 para 573, o que também pode ter influenciado nos resultados. Mais de 689 mil pessoas vivem nesses locais; cerca de 90% são indígenas. 

No entanto, apenas pouco mais de 35% dos descendentes de povos originários em território nacional estão nas TIs. Mais de 1 milhão de indígenas (63,27%) vivem fora dos territórios homologados. 

A maior proporção está no Sudeste, onde 82,5% das pessoas que se autodeclaram indígenas vivem fora de Terras Indígenas. Na sequência estão Nordeste (75,43%), o Norte (57,99%). Juntos Amazonas e Bahia concentram 46,46% do total de indígenas nessa situação. 

Regiões  

Mais de 75% das pessoas indígenas do Brasil vivem nas regiões Norte e Nordeste. Quase metade está nos estados da Amazônia Legal, formada por Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. São mais de 867 mil indígenas nessa região.  

Amazonas e Bahia são os estados com o maior número de descendentes das populações originárias, com 490 mil e 229 mil respectivamente. Juntos, os dois respondem por mais de 42% do total nacional. Na sequência estão Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Roraima. 

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O Centro-Oeste tem 11,80% das pessoas que se autodeclararam indígenas no Censo. No Sudeste estão 7,28% e no Sul 5,20%. Proporcionalmente, Roraima foi o estado com o maior número de respostas positivas à pergunta "você se considera indígena?".

Em cinco unidades da federação, os números dobraram desde 2010. Na lista estão Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará, Amazonas e Piauí. Dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros, 4,8 mil têm pelo menos uma pessoa indígena. O número corresponde a mais de 86% do total.  

Edição: Thalita Pires