ARGENTINA

Peronista Sergio Massa chega a Brasília após anunciar pacote anti-inflacionário na Argentina

Ministro candidato vai tratar com Lula e Haddad sobre comércio em moeda chinesa, entre outros temas da agenda bilateral

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |
Sergio Massa tenta recuperar o terreno perdido pelo peronismo no eleitorado argentino - NORBERTO DUARTE / AFP - 24/8/2023

A Argentina vive dias particularmente caóticos desde as eleições primárias de 15 dias atrás. No dia seguinte à surpreendente vitória do candidato de extrema direita, Javier Milei, a taxa básica de juros disparou e o peso foi desvalorizado em 22% frente ao dólar oficial. Desde então, o país, que já convivia com os efeitos de uma grave crise econômica, passou a conviver também com uma onda de saques a supermercados, que resultaram em muitas prisões.

O governo federal, na figura do ministro da Economia e candidato à presidência Sergio Massa, se mobiliza para apaziguar os ânimos e recuperar o terreno perdido nas preferências do eleitorado. Um dia após anunciar medidas econômicas para conter a alta inflacionária e melhorar as condições de vida dos cidadãos, Massa está em Brasília para reuniões com altos integrantes do governo brasileiro nesta segunda-feira (28).

Massa vai se reunir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da Economia, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Na pauta, comércio bilateral, entrada da Argentina no Brics (afiançada pelo Brasil), abertura de mercados agrícolas, obras no gasoduto Néstor Kirchner (os argentinos precisam financiar cerca de US$ 700 milhões de dólares, ou quase R$ 3,5 bi), controle de fronteiras, transporte marítimo e fluvial, entre outros temas.

Um dos principais objetivos da agenda de Massa é avançar nos detalhes de um acordo para que as importações provenientes do Brasil possam ser pagas por meio de yuans, a moeda chinesa, evitando assim o uso de dólares.

::Argentina fará transações sem dólar; Brasil e China são principais parceiros::

A Argentina já tem usado yuans para pagamento de parcelas da dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional), de modo a poupar os dólares de suas reservas internacionais. Além de manter mais dólares em caixa, outra vantagem para os argentinos seria manter o ritmo de compra dos insumos brasileiros que são essenciais para a indústria do país vizinho.

Segundo o governo brasileiro, o uso da moeda chinesa seria viabilizado por meio da conversão direta de yuans para reais, que seria realizada pelo Banco do Brasil. O montante poderia chegar ao equivalente a 140 milhões de dólares.

O acordo cambial com a China possibilitou que a Argentina mantivesse o fluxo comercial com o país asiático. Esse tipo de arranjo interessa também ao Brasil, já que a Argentina é o principal comprador de produtos industrializados do Brasil.

Medidas econômicas

Sergio Massa anunciou no domingo (27) uma bolsa mensal de 30 mil pesos (R$ 419), em setembro e outubro, para os trabalhadores dos setores público e privado que ganham até 400 mil pesos (R$ 5.593) por mês, uma decisão que beneficia 5,5 milhões de empregados. As empresas poderiam descontar essa despesa dos impostos devidos ao Estado.

O governo também decidiu conceder 10 mil pesos mensais (R$ 140), em setembro, outubro e novembro, para todos que pensionistas que recebem salário mínimo de 87.460 pesos (R$ 1.223). Como já havia sido anunciado um benefício extra antes das prévias, o benefício total para essa parcela da população, nos três meses, será de 37.000 pesos (R$ 517) mensais.

Massa também anunciou o congelamento, até dezembro, do preço dos planos de saúde, que acumulam aumento de 78% desde o início do ano. Entre outras medidas que preveem bônus, créditos, isenções e benefícios em geral para mais de 15 milhões de cidadãos.

As medidas tem como meta reduzir os impactos da desvalorização do peso e, estimular o consumo  e enfrentar a alta inflacionária na Argentina. A inflação em julho foi de 113%.

O ministro candidato fez os anúncios por meio de uma série de vídeos veiculados neste domingo (27) na rede social Instagram, uma nova estratégia de comunicação para tentar aumentar a chance nas eleições de outubro, já que a chapa governista ficou em terceiro lugar nas primárias. O peronismo perdeu quase metade do seu eleitorado em quatro anos, mesmo estando no poder.

 

 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho