programa bem viver

'Não sou mais a única, somos uma bancada agora', afirma Benedita da Silva sobre criação da frente negra no Congresso

Aos 81 anos, deputada celebra feito Inédito na política nacional, articulado desde a Constituição de 1988

Ouça o áudio:

“Tem gente dizendo que estamos sendo excludentes com a criação da bancada. Eu digo, ‘olha, vocês estão dialogando com uma representatividade da maioria da população" - Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Aos 40 anos de carreira política, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) celebra o feito inédito na história da democracia brasileira, a criação de uma bancada negra no Congresso Nacional.

Segundo a parlamentar de 81 anos de idade, a construção dessa frente vinha se desenhando desde a promulgação da constituição de 1988, da qual ela participou como parlamentar. 

:: Histórico: criação de bancada aumenta representatividade negra na Câmara dos Deputados ::

A deputada lembra que junto com o atual senador Paulo Paim (PT-RS), os dois participaram da constituinte e “seguimos batalhando, por 35 anos, por direitos da população negra, população quilombola,  para que esse debate fosse nacionalizado”, afirmou em entrevista ao programa Bem Viver desta quinta-feira (9).

A proposta de criação da bancada é de autoria da deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) e do deputado Damião Feliciano (União-PB). A frente terá um coordenador-geral e três vice-coordenadores, que serão eleitos anualmente, sempre no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Os representantes da bancada terão direito a usar a palavra nos períodos destinados às comunicações das lideranças no plenário da Câmara, todas as semanas.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Petrone afirmou que o primeiro líder da bancada será Damião Feliciano.

Segundo Benedita da Silva, a construção da bancada só foi possível por conta do aumento de deputados e senadores negros no congresso, uma consequência “dos recursos disponibilizados do fundo eleitoral para as campanhas” de candidatos negros, explica a deputada.

Em 2020, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a divisão do Fundo Especial Eleitoral e do tempo de propaganda eleitoral gratuita seriam divididos de acordo com a quantidade de candidatos negros das legendas. Apesar do avanço, parlamentares já aprovaram medidas para perdoar o descumprimento desta decisão.

“Eu não estou mais só, ninguém vai apontar para o Congresso e [dizer]: ‘Olha a primeira mulher negra, única mulher negra’, agora nós temos uma bancada, uma bancada que vai fazer com que esse debate aconteça não é só pra dentro do Congresso, [como] para fora do Congresso, é para sociedade”, celebra Benedita da Silva.

:: Senado aprova ampliação da Lei de Cotas e inclui quilombolas e estudantes de escolas públicas ::

40 anos de política

Em 2023, a parlamentar iniciou seu terceiro mandato consecutivo na Câmara dos Deputados, onde também já esteve entre 1987 e 1994. 

Benedita da Silva cresceu na comunidade do Chapéu-Mangueira, no Leme, Zona Sul carioca. Adolescente, interrompeu os estudos para ajudar a família de 14 irmãos e chegou a trabalhar como tecelã em uma fábrica de tecidos antes de iniciar sua militância nos movimentos negro e feminista durante ditadura militar no Brasil.

Nos anos 1980, ela voltou aos estudos, formando-se como auxiliar de enfermagem e, depois, em Serviço Social. Em 1983, chegou à política em mandatos eletivos, primeiro como vereadora na capital, e depois como deputada federal e senadora - a primeira senadora mulher e negra no Brasil.

Foi vice-governadora do Rio entre 1999 e 2002 e, depois, assumiu como governadora até 2003.

:: Ministério da Igualdade Racial lança mapa com eventos do mês da Consciência Negra pelo país ::

Ela é responsável pelo projeto que inscreveu Zumbi dos Palmares no panteão dos heróis nacionais e também instituiu o dia 20 de novembro como o “Dia Nacional da Consciência Negra”, 

Segundo a parlamentar, apesar do avanços, ainda existem resistências de colegas que questionam a necessidade da bancada.

“Tem gente dizendo que estamos sendo excludentes com a criação da bancada. Eu digo, ‘olha, vocês estão dialogando com uma representatividade da maioria da população, que não são [pessoas] brancas, elas são pardas e elas são negras’. Então, não é pra sair fazendo bancada porque nós queremos fazer e ter aquela bancada, não, nós queremos sentar na mesa das decisões do Congresso Nacional.”

:: Em dez anos, nenhum juiz foi punido por racismo em processos abertos no CNJ ::

Benedita da Silva salienta que o desafio não é apenas conseguir apoio dentro do Congresso, mas também na sociedade brasileira como um todo.

“Nós encontramos uma barreira porque também existe um preconceito racial introjetado e isso são coisas das pessoas, não é uma sigla, é das pessoas. Então é preciso que a gente trabalhe no Congresso Nacional pra que eles compreendam quem é que tá morrendo, passando fome, desempregado, desabrigado”.

Para a deputada, um dos maiores desafios é explicar para a população que não se trata, apenas, “de uma questão social, é uma questão racial que está colocada”.

Lei de Cotas

Fora do Congresso, Benedita da Silva considera que existem avanços importantes acontecendo na representatividade negra, mas muito lentos em relação à mobilização protagonizada pelos movimentos populares.

“Outros já lutaram, por exemplo, o Abdias [do Nascimento] criou o Teatro Experimental do Negro. Cadê o Teatro Experimental do Negro? Nós criamos tanta coisa, e só bem recente esse grupo racial [apareceu] na televisão, com papel de protagonista, coisa muito recente pra nós.”

Neste sentido, Benedita da Silva lembra como a Lei de Cotas foi um marco para a história do país. 

“Você pode fazer um balanço, e critique quem quiser criticar, mas a universidade brasileira mudou a cara com as políticas de contas de ações afirmativas, já temos doutores já advogados, já temos pessoas negras qualificadas pelas políticas de cotas.”

:: Anielle Franco defende igualdade racial na lista dos objetivos da ONU para o desenvolvimento sustentável no Brasil ::

No final de outubro, o Congresso finalizou a aprovação do projeto de lei que amplia o sistema de cotas na rede de ensino federal.

Entre as mudanças previstas estão a inclusão de quilombolas no texto da Lei 12.711/12, que reserva 50% das vagas em universidades e institutos federais para estudantes de escolas públicas. A metodologia também terá atualização anual nos percentuais de pretos, pardos, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência, assim como nos critérios socioeconômicos, como renda familiar e estudo em escola pública.

O autor do texto, senador Paulo Paim (PT-RS), afirmou na segunda-feira (6) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá sancionar a proposta na semana que vem.

Para Benedita da Silva, a lei é fundamental para quebrar paradigmas de que determinas profissões podem estar relacionadas à raça da pessoa. “Eu posso ser um professor negro, mas eu posso ser um professor branco, a gente quer que avance até o ponto de naturalizar isso.”


Confira como ouvir e acompanhar o Programa Bem Viver nas rádios parceiras e plataformas de podcast / Brasil de Fato

Sintonize

O programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo.  

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu'Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio - Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo - WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M'ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.  

A programação também fica disponível na Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver está nas plataformas: Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.  

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para ser incluído na nossa lista de distribuição, entre em contato por meio do formulário.

Edição: Rodrigo Durão Coelho