Alerta

Brasil pode enfrentar surto histórico de dengue em 2024

Número de casos em 2023 já ultrapassa tudo o que foi registrado no ano passado; mais de mil óbitos foram confirmados

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Ações de combate ao mosquito que transmite a dengue precisam levar em consideração as realidades de cada população - Foto: Marcos Moura/Prefeitura de Fortaleza
É fundamental estabelecer estratégias intersetoriais e de mobilização social, com ações direcionadas

No ano que vem, o Brasil pode enfrentar um aumento significativo nos casos de dengue. Em Nota Informativa divulgada neste mês, o Ministério da Saúde reforçou alertas de entidades científicas para uma onda de infecções que pode superar números históricos.  Para piorar o cenário, a escalada ocorreria com base em resultados que já representam recorde

Em outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma análise a respeito dos impactos do calor excessivo na saúde das populações afetadas pelo fenômeno climático El Niño, entre eles o Brasil. A alta das arboviroses urbanas – doenças virais causadas por picadas de mosquitos – está entre os pontos de preocupação.   

Além disso, o país passa por um aumento de casos da dengue tipo 3, para o qual a população tem pouca proteção, como ressalta a nota do Ministérios da Saúde. "É importante destacar a reemergência e a rápida dispersão do sorotipo DENV3 no território nacional, com alto número de indivíduos suscetíveis, torna o cenário epidemiológico ainda mais propício ao aumento da transmissão de dengue em 2024."   

Segundo o texto, o Brasil está frente à possibilidade de uma epidemia com maiores proporções já documentadas na série histórica do país. A análise também aponta para aumento da chikungunya em municípios de grande porte, altas taxas de ataque, sobrecarga dos serviços de saúde e óbitos.  

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As medidas cotidianas para combater o mosquito Aedes aegypti são as mesmas propagadas pelas campanhas há décadas, mas o Brasil ainda tem dificuldades para enfrentar o problema. Segundo a especialista em epidemiologia Bárbara Valente, professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), é preciso buscar medidas apropriadas aos diferentes contextos do país.   

"Inicialmente, [as formas de combate são] as ações voltadas para a eliminação dos criadouros nos objetos que acumulam água – seja colocando tampas em recipientes e em caixas d’água, mutirões de limpeza e a destinação correta dos resíduos sólidos. Além disso, orientar a população sobre a forma de evitar e eliminar locais que possam oferecer risco para a formação de criadouros do Aedes aegypti, com ações de comunicação, educação e saúde. Para isso, é fundamental estabelecer estratégias intersetoriais e de mobilização social, com ações direcionadas para a realidade local."

Ainda de acordo com a pesquisadora, as políticas são obrigação do poder público e passam pelo enfrentamento de questões e desigualdades estruturais no Brasil. O saneamento básico é um dos componentes que mais pesam para enfrentamento do cenário, que também demanda diálogo com as comunidades e investimento na contratação e formação de agentes de controle de endemias. 

"É de responsabilidade do governo com as prefeituras garantir cobertura suficiente desses serviços e dos serviços de saúde que devem atuar na assistência, no controle e prevenção dessas doenças e promoção da saúde, além da capacitação dos profissionais de saúde que atuam no território. As organizações comunitárias têm um papel fundamental no apoio das ações dos trabalhadores de saúde nos territórios e para mobilizar a população para a participação nas ações de educação e saúde."

O que precisa para a vacina contra a dengue chegar ao SUS?

Os números altos de 2022 e 2023 amplificam o potencial de surto grave. O biênio registrou dois recordes seguidos de casos, com resultados de 1,5 milhões e 1,6 milhões de pessoas infectadas. Nos dois anos, o total de óbitos ficou acima de mil, o que nunca havia sido observado. 

A dengue é causada por um vírus, transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, que se propaga em água parada. Atualmente, existem quatro tipos circulando no planeta. Pessoas infectadas com um deles não ficam imunes aos outros. Essa dinâmica favorece a ocorrência de ondas mais graves como a que pode atingir o Brasil no ano que vem. 

Entre os sintomas mais recorrentes estão febre alta, dores musculares e nas articulações e erupções na pele. A doença pode causar hemorragia interna em órgãos e tecidos e levar à morte. A orientação do Ministério da saúde é para que a população procure o serviço de saúde mais próximo de sua residência assim que surgirem os primeiros sintomas. 
 

Edição: Thalita Pires