Educação

Professores temem pelo aumento da evasão escolar com o fechamento de escolas do campo no PR

Segundo a APEC, há previsão de que mais de 15 escolas de comunidades rurais sejam fechadas em 2024

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Comunidade escolar se organiza para o não fechamento de Escolas do Campo no município de Pranchita - ASCOM/Assessoar

No ano de 2019, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED) publicou uma Minuta de Resolução estabelecendo que as Escolas Públicas do Campo com menos de 35 estudantes nos anos finais do Ensino Fundamental (EF) se organizariam pela forma multianos ou classe multisseriada (alunos de diversos anos e idades diferentes em uma mesma turma), além do fechamento de escolas pelo estado.

Desde lá, o número de escolas fechadas só aumentou, o que, para os professores destas unidades de ensino, só vem aprofundando a evasão escolar e dificuldades para a manutenção das próprias comunidades que podem sofrer êxodo dos jovens para as cidades.  

A educação do campo é um direito dos estudantes e das famílias agricultoras, conforme previsto na Lei Federal 9394/1996, que institui as Diretrizes e Bases da Educação (LDB). O artigo 28 da lei determina que a oferta da educação básica para as comunidades rurais deverá promover as adaptações necessárias para cada região.

Apesar de ser um direito garantido por lei, o Governador Ratinho Jr (PSD) promete fechar mais escolas em 2024. A Articulação Paranaense por uma Educação do Campo, das Águas e das Florestas (APEC) aponta que pelo menos 14 escolas de comunidades rurais em todo o estado correm risco de fechar.

O Brasil de Fato Paraná conversou com professores destas escolas que dizem que a notícia do fechamento tem provocado tristeza na comunidade escolar, já que muitas vezes não terão acesso a outra escola que não seja próxima das suas moradias e locais de trabalho na área rural.

Claudinei Alves Pereira, agricultor familiar e professor há três ano nos Colégio Madre Cândida, no município de Arapuã, sente que há uma política de abandono da Escola do Campo por parte do governo estadual.

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“Vejo com tristeza a Educação no Campo sendo abandonada. Primeiro, foi o uso de metodologia que padronizou a educação de forma geral, campo e cidade, sendo que em qualquer pós-graduação sempre ressaltam que o campo tem especificidades que na cidade não têm. Com o fechamento destas escolas, estão forçando este aluno do campo ir estudar na cidade. Mas, como, se o governo também está acabando com o ensino noturno? ", questiona.

Para ele, a política de fechamento das escolas do campo aumentará ainda mais a evasão escolar. “Acredito que haverá evasão escolar, e os que conseguirem continuar nos estudos, com certeza uma mudança na cultura do pequeno agricultor, para se adequar aos grupos,” diz Claudinei.


 Professora de Arte, Suzetti Ani Polga, do Colégio Estadual Júlio Gongo, em Pranchita / Arquivo pessoal

Já para a professora de Arte, Suzetti Ani Polga, do Colégio Estadual Júlio Gongo, em Pranchita, o fechamento das escolas trará dificuldades para as comunidades. “Estou muito triste, pois duas escolas do meu município de Pranchita serão fechadas. Realmente se as escolas fecharem, essas comunidades vão acabar. Por que muitos, se quiserem continuar os estudos terão que vir pra cidade,” disse.

“Os nossos alunos e pais estão perdendo com isso, pois aqui é perto da escola e da comunidade. Muitos desses alunos acabam abandonando os estudos porque acabam vendo muitas dificuldades. Sinceramente, acho que o Governador Ratinho Jr deveria ver a escola com investimento e não como gasto,” diz Suzetti.


Ângela Maria Mazzaro de Camargo, diretora do Colégio Estadual do Campo Duque de Caxias, em Salgado Filho / Arquivo pessoal

Outro fator que tem preocupado a comunidade escolar destas escolas é não serem avisados com antecedência para que possam se organizar. Segundo Ângela Maria Mazzaro de Camargo, diretora do Colégio Estadual do Campo Duque de Caxias, em Salgado Filho, professores e funcionários dependem deste trabalho.

 “A Chefia do Núcleo veio até a escola conversar com os pais e fizeram a consulta à comunidade sobre o fechamento. Por unanimidade todos os presentes votaram pelo não fechamento da escola. E, então remeteram o resultado da consulta à Secretaria de Educação, mas até agora não sabemos de nada, não temos como nos organizar para o ano que vem. Temos funcionárias da comunidade que trabalham aqui e professores concursados que não sabem como ficará a situação deles, pois na cidade já não tem aulas suficientes,” diz.

A justificativa dada pela SEED do Paraná é que a ação tem como objetivo otimizar recursos para atender regiões onde houve aumento populacional.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Pedro Carrano