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Frio extremo: China investe em moradias, enquanto população sem-teto cresce nos EUA

Política habitacional e subsídios auxiliam chineses; já nos EUA, preço dos aluguéis e fim de auxílios são obstáculos

Brasil de Fato | Pequim (China) |

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Na América do Norte, é cada vez maior a preocupação com o crescente número de sem-teto - Charly TRIBALLEAU / AFP

Em dezembro, várias regiões da China superaram o recorde de temperaturas baixas. Agora, enquanto se aproxima o Ano Novo Chinês, também chamado de Festival da Primavera, o Centro Meteorológico da China prevê o período mais longo de mau tempo deste inverno nas regiões leste e central. Cerca de 10 províncias, como Henan, Shandong e Hubei, estão sofrendo fortes nevascas, e outras cinco, Henan, Hubei, Anhui, Hunan e Guizhou, sofrerão chuvas congeladas. Esta rodada de tempestades e nevascas será a mais longa deste inverno e a que afetará a maior diversidade de regiões no país.
  
Ondas de frio também vêm atingindo vários países do hemisfério norte neste inverno. Em meados de janeiro, a imprensa dos Estados Unidos registrou dezenas de mortes relacionadas a uma forte onda de frio. Segundo a emissora CBS, pelo menos 95 pessoas morreram. Nos primeiros dias de janeiro, a província canadense de Colúmbia Britânica, registrou 36 mortes ao ar livre durante os primeiros dias de janeiro. Embora as causas não tenham sido determinadas, essa região passava por uma onda de frio recorde.

Uma parte das mortes na América do Norte foi devido a acidentes de trânsito. Nas regiões afetadas pelo frio na China, essa também é uma das preocupações. Para evitar acidentes, as autoridades locais mobilizam veículos de remoção de neve e pulverizaram agentes de descongelamento e aumentam os controles de trânsito.

Entretanto, além das medidas emergenciais, políticas estruturais na China podem explicar porque os moradores das regiões com temperaturas mais baixas podem lidar melhor com eventos extremos durante o inverno. Nas províncias com inverno mais intenso existem subsídios para aquecimento, geralmente destinados às famílias rurais e urbanas de baixa renda, e a funcionários e aposentados de instituições governamentais.    

Em 2023, os governos locais destinaram 1,91 bilhão de yuans (R$ 1,33 bilhão) em subsídios para aquecimento. Cerca de 4,85 milhões de famílias tiveram acesso ao auxílio, de acordo com o Ministério dos Assuntos Civis. Junto a essa política, também vem sendo implementada a renovação e reparação de edifícios para poupar energia.

Em outubro do ano passado, Liu Weijing, um morador da cidade de Qingdao, na província de Shandong, teve a área residencial onde vive reformada para economizar energia. Os telhados dos prédios foram reparados e as paredes exteriores reforçadas com materiais de isolamento. "A temperatura interna agora pode chegar a 20 graus, o que nos permite economizar nas despesas com eletricidade. A reforma foi toda financiada pelo governo. Estamos felizes porque isso melhorou nosso modo de vida", disse.

Em 2023, as transferências do governo central para as autoridades locais ultrapassaram os 10 trilhões de yuans e os subsídios do governo para serviços básicos de saúde pública e seguro médico básico para residentes rurais e urbanos não trabalhadores aumentaram para 89 yuans anuais por pessoa, e 640 yuans anuais por pessoa, respectivamente.

Outra história no Hemisfério Norte

Os métodos utilizados na China não são aplicados na América do Norte. O crescente acesso à moradia em território chinês é outro dos motivos que permite evitar impactos maiores das fortes ondas de frio, já que se tornou icomum que pessoas estejam em situação de rua no país asiático. 

Em 2020, ano em que a China anunciou a erradicação da extrema pobreza no país, o governo afirmou que, como parte desse trabalho, foram construídas mais de 2,6 milhões de casas para mais de 9,5 milhões de pessoas durante o período do 13º Plano Quinquenal, que foi de 2016 a 2020. No 14º plano, que vai até 2025, 6,5 milhões de unidades habitacionais de aluguel a preços acessíveis devem ser inauguradas.

Já em países como EUA e Canadá, é cada vez maior a preocupação com o crescente número de pessoas sem-teto. O Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos, divulgou recentemente que o número de pessoas em situação de rua no país cresceu 12% em 2023, somando mais de 653 mil. Entre as causas estariam o aumento dos aluguéis e o fim dos auxílios criados e distribuídos durante a pandemia.

No Canadá, o Secretariado Parceiro dos Sem-Abrigo, financiado pelo governo, estima que por ano há de 150 mil a 300 mil sem-teto em todo o país. Segundo um relatório do Centro Conjunto de Harvard para Estudos de Habitação que acaba de ser publicado na America's Rental Housing 2024, o aumento dos aluguéis nos últimos anos levou a que um recorde de 22,4 milhões de famílias arrendatárias gastasse mais de 30% do sua renda em aluguel e serviços públicos. Em apenas três anos, esse segmento da população cresceu em mais 2 milhões de famílias.

Edição: Lucas Estanislau