Governo X MP

ONU pede escolha de novo procurador na Colômbia e Petro reforça: 'cumprir a Constituição'

Escritório da organização pediu celeridade na votação e disse que escolha garante a democracia no país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O presidente da Colômbia acusa o Ministério Público de tentar dar um 'golpe de Estado' pelas vias judiciais - JOAQUIN SARMIENTO / AFP

O escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos da Colômbia publicou uma nota nesta quarta-feira (14) pedindo celeridade na escolha de um novo procurador-geral da República no país. A eleição de um novo chefe do Ministério Público é um ponto de tensão na relação entre o presidente Gustavo Petro e o órgão. 

Em publicação na rede social X/Twitter, o escritório da ONU pediu que a escolha seja realizada "no menor tempo possível" e disse que o governo tem que oferecer condições para uma eleição "sem interferências".

Em resposta, Petro afirmou que agora "não é só o povo, mas o mundo" está pedindo um novo procurador e completou: "se trata de cumprir a Constituição".

O chefe do Executivo enviou uma lista tríplice com três mulheres à Corte Suprema de Justiça: Luz Adriana Camargo Garzón, Angela María Buitrago Ruiz e Amelia Pérez Parra. A indicação foi feita em agosto de 2023, mas os 23 magistrados da Corte não decidiram até agora quem será a representante. Para ser empossado, o novo chefe do MP precisa receber ao menos 16 votos. 

A primeira votação se alongou e terminou só em 25 de janeiro. Os ministros não chegaram a um consenso sobre o novo nome porque 13 votaram em branco. Na última quinta-feira (8), a Corte realizou nesta quinta-feira a segunda sessão para tentar fechar consenso, mas ainda não definiu o nome do nova procuradora. A próxima votação deverá ser feita em 22 de fevereiro. 

A escolha não é simples e envolve uma disputa política que vai além do calendário do Tribunal. O atual chefe do MP é Francisco Barbosa, homem que tem se colocado em embate direto com Petro. 

O mandato de Francisco Barbosa terminou em 12 de fevereiro. Ele encabeça a investigação contra a Federação Colombiana de Educadores (Fecode) e a suspensão do ministro das Relações Exteriores, Álvaro Leyva. Esses dois episódios esquentaram uma relação que é tensa desde a eleição de Petro em 2022. 

Na nota, a ONU parabenizou Petro pelo "foco na questão de gênero" nas indicações e disse que as três candidatas "cumprem com as qualidades exigidas para o cargo". A organização afirmou ainda que a eleição de um novo procurador assegura a "independência e autonomia" para a entidade, além de garantir a "consolidação da democracia e do Estado Democrático de Direito".

Enquanto a nova procuradora indicada por Petro não é escolhida, a vice-procuradora, Marta Mancera, assumiu o cargo. Ela é próxima a Barbosa e foi investigada por supostamente proteger funcionários corruptos que trabalhavam no distrito de Buenaventura. 

Mancera também é pivô da disputa entre Barbosa e Petro. Em entrevista à rádio Blu, o ex-chefe do MP disse que Petro sempre teve "ressalvas" em relação a sua vice e pediu a Barbosa a troca de Mancera do cargo. 

Durante discurso nesta terça-feira (13) no auditório da Universidade Industrial de Santander, em Bucaramanga, Petro disse que não concordava que o MP estivesse comandado por "pessoas de reputação duvidosa" e que, segundo investigações da imprensa, tem "ligações com o crime organizado".

O presidente acusa o Ministério Público de tentar dar um "golpe de Estado" pelas vias judiciais. Ele disse que as investigações contra sua cúpula representam uma "ruptura institucional" e pediu atenção dos outros países à "tomada do MP pela máfia".

Petro também reforçou essa tese depois de uma uma publicação em uma conta falsa do procurador-geral Francisco Barbosa. A postagem afirmava que o chefe do MP abriria uma investigação contra Ricardo Roa, presidente da empresa petrolífera colombiana Ecopetrol. Petro respondeu e disse que o MP busca um “golpe de Estado”. Em nota, o MP disse que o procurador-geral não tem nenhuma conta em redes sociais. 

Manifestações contra o MP

Na semana passada, manifestantes foram às ruas em 71 cidades na Colômbia para protestar contra investigações do Ministério Público sobre o governo e a demora para a escolha do novo procurador-geral pela Corte Suprema de Justiça. Os atos foram convocados pela Federação Colombiana de Educadores (Fecode) que é alvo do MP por supostas doações à campanha eleitoral do presidente, Gustavo Petro, em 2021.

O principal movimento foi realizado em Bogotá, onde manifestantes fecharam a entrada do estacionamento do Palácio da Justiça e impediram a saída dos magistrados.Os protestos foram reprimidos pela polícia, que liberou a saída dos ministros do prédio. 

A Organização dos Estados Americanos (OEA) disse estar preocupada com a possibilidade de um golpe de Estado contra o governo de Petro. "Exigimos que sejam abandonadas as tentativas de diferentes atores políticos de prejudicar o processo democrático na Colômbia. [...] A  Secretaria Geral condena e repudia as ameaças de interrupção do mandato constitucional do presidente Petro", afirmou a organização em comunicado.
 

Edição: Thalita Pires