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ARTIGO

Teólogo gaúcho reflete sobre tentativa de censura à obra ‘O avesso da pele’, de Jeferson Tenório

'Tenório é negro, eis a questão, e o livro escancara a morte absurda do pai por um policial crápula'

11.mar.2024 às 17h41
Updated On 12.mar.2024 às 17h41
Porto Alegre (RS)
Roberto E. Zwetsch

Jeferson Tenório não esconde a realidade, mas ele a expressa desde uma vida particular e com a maestria de poucos - Foto: Reprodução Internet

Palavra de um teólogo (*)

“Não acho que devemos lidar apenas com a lógica

dos fatos. Prefiro uma verdade inventada, capaz de me pôr em pé.

Eu sei que esta história pode estar apenas na minha cabeça,

mas é ela que me salva. Não gosto da morte. Não gosto de partidas.

Mas você me ensinou a não ter medo da morte.”

(J. Tenório, p. 183).

Belíssimo, emocionante na crueza do relato. Assim está registrado na primeira página do livro de Jeferson Tenório, que escrevi tomado de uma emoção que raras vezes sinto ao ler um romance. E eu o fiz de um fôlego, sem poder parar por alguns dias seguidos. O autor me cativou com sua narrativa precisa, carregada de dor e de afeto, contida, mas que vai nos conduzindo, passo a passo, por uma história real/inventada que tem tudo para nos aproximar do que é a vivência de um jovem negro das periferias deste país racista. O protagonista nos vai levando da infância à vida adulta na sua busca pela história e a vida do pai brutalmente assassinado por um policial perverso que julgou ser senhor sobre a vida de um professor pacato que lutou a vida inteira para dar um pouco de dignidade à família, ao filho que agora deverá buscar seu corpo e a si mesmo.

É a história de uma busca pelas origens, pelo sentido da vida do pai, da mãe, dele mesmo, e uma forma de salvar sua identidade como jovem negro num país em que vigora, muito depois da falsa abolição, o racismo estrutural, como o definiu com precisão o ministro Silvio Almeida. É uma narrativa sensível, carregada de muitos sentimentos, contraditórios às vezes, mas que realiza a busca terna pelos fios que ligam um filho a um pai cruelmente retirado de sua vida, e por motivo fútil, enganoso, sem sentido. Por isso mesmo, é uma história que escancara quão duro é ser negro, um pai negro, um jovem negro neste país onde a metade ou mais da população se declara como afrodescendente. Como explicar isso? Como se acomodar a esta desgraça? Como transformá-la?

Tenório não esconde a realidade, mas ele a expressa desde uma vida particular e com a maestria de poucos. Grande escritor, premiado e já contribuindo inestimavelmente para a literatura de qualidade num país que tanto mal causa à juventude negra, parda, pobre, meninas e meninos que desejam apenas viver e ser felizes. Muito grato, irmão!

Logo que despontou a falsa polêmica sobre este livro, com enorme repercussão nas mídias, recebi de uma pessoa que prezo, muito próxima de mim, a seguinte mensagem, depois de transcrever uma das matérias que — descontextualizada — se referia a certas passagens cruas do livro de Tenório: “É isto que você como teólogo quer para sua família??? Nojentos, vontade de vomitar!!! Vermes”.

Minha resposta, depois de enviar a capa do livro e um bom artigo escrito na Carta Capital, foi a seguinte: “Desculpe […] é falso moralismo. Ou você deixou de ler Jorge Amado na juventude? Tem escritor brasileiro mais debochado? Li o livro. Excelente como reflexão sobre a difícil relação entre pai e filho. Certas páginas é de chorar. Recomendo, sim. E a professora vai ter que acatar a decisão da Secretaria de Educação do RS [e do MEC]. Do contrário, tirem os smartphones das mãos da meninada, ali sim tem perversão e ódio a rodo. TENÓRIO É NEGRO, eis a questão, e o livro escancara a morte absurda do pai por um policial crápula, como vemos todos os dias neste país racista!”

Numa postagem posterior, arrematei: “Para ser mais claro, …, eu daria o livro para minha neta Luiza, 15 anos, [evidentemente com o aceite de sua mãe, minha filha, também professora], pois ela tem mostrado grande maturidade. Certamente tem bom entendimento para compreender o drama narrado. A mãe que o diga, viu!”  

Fico imaginando quantas discussões ocorreram a partir daquela manifestação insana da diretora da Escola de Santa Cruz do Sul, aliás, contestada nestes dias pela Academia de Letras da cidade, com a assinatura consensual de todos os seus integrantes, entre os quais encontrei um irmão luterano, professor emérito e liderança expressiva da Rede Sinodal de Educação, senhor Osvino Toillier.

Nos estudos de mestrado, anos atrás, tive um saudoso docente negro, liderança dos Agentes de Pastoral Negros da Igreja Católica, Antonio Aparecido da Silva. Para cumprir crédito, escrevi um breve ensaio sobre a poesia negra no Brasil e fiz um diálogo com a Teologia Negra. Toninho, como era carinhosamente chamado por nós, gostou do texto e o acabou publicando num livro em que foi o único de uma pessoa não negra. Agradeci com a humildade possível, mas com um sadio sentido de solidariedade encarnada. Desse ensaio que intitulei Axé, malungo! (1994), resgato dois poemas que dedico a Jeferson Tenório, agradecendo por sua coragem e excelência na narrativa de O avesso da pele.

De Geni Mariano Guimarães, do seu poema Negritude, cito um trecho: “[…] Mas contudo/ Apesar de tudo/ e muito mais por tudo/ Restou-me invulnerável/ um imutável bem:/ Ultrajadas as raízes/ Negados os direitos/ Ninguém roubou-me o lacre da pele/ Nenhum senhor/ Ninguém!”

E de nosso grande e saudoso Oliveira Silveira, cito Encontrei minhas origens: “Encontrei minhas origens/ em velhos arquivos/ livros/ encontrei em malditos objetos/ troncos e grilhetas/ encontrei minhas origens/ no leste/ no mar em imundos tumbeiros/ encontrei em doces palavras/ cantos/ em furiosos tambores/ ritos/ encontrei minhas origens/ na cor da minha pele/ nos lanhos de minha alma/ em mim/ em minha gente escura/ em meus heróis altivos/ encontrei/ encontrei-as enfim/ me encontrei”.

Jeferson, irmão de letras e de luta, companheiro em dias de infortúnio e de sol ardente, que venham outros, muitos outros relatos, livros, sementes de libertação, afeto e dignidade humana!

“Você sempre dizia que os negros tinham de lutar,

pois o mundo branco havia nos tirado quase tudo

e que pensar era o que nos restava. É necessário preservar o avesso,

você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê.

[…] Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único.

E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos.”

(J. Tenório, p. 61)

* Roberto E. Zwetsch, pastor luterano, professor associado de Faculdades EST, São Leopoldo, membro do GP Identidade Étnica e Interculturalidade. Mora em Pelotas: [email protected] 

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.


Editado por: Katia Marko
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