Atentado na Rússia

Rússia diz haver 'rastro ucraniano' em atentado cometido por radicais islâmicos em Moscou

Putin havia declarado ontem que atentado foi provocado por 'radicais islâmicos', mas indicou envolvimento ucraniano

Brasil de Fato | São Petersburgo (Rússia) |
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, faz um discurso durante uma reunião com com gabinete do procurador-geral russo em Moscou, em 26 de março de 2024. - Sergei Guneyev / POOL / AFP

O diretor do Serviço Federal de Segurança da Rússa (FSB), Alexander Bortnikov, declarou nesta terça-feira (26) que a investigação ainda não indentificou quem foi o mandante do ataque à sala de concertos Crocus City Hall, em Moscou, na última sexta-feira (22). No entanto, as autoridades russas afirmam que houve envolvimento da inteligência ucraniana e do Ocidente no atentado. 

Durante entrevista à imprensa russa nesta terça-feira (26), Bortnikov indicou que os EUA, a Grã-Bretanha e a Ucrânia poderiam ser os responsáveis ​​pelo atentado terrorista em Moscou na última sexta-feira (22).

"O ataque terrorista em 'Crocus' foi preparado por radicais islâmicos, mas tanto os serviços de inteligência ocidentais como os serviços de inteligência ucranianos estiveram diretamente envolvidos nele. Em termos gerais, acreditamos que eles estão envolvidos nisso. Há informações que indicam que essa parte é tendenciosa na preparação desta ação. A Ucrânia treinou militantes no Oriente Médio", disse o chefe do FSB.

Homens armados abriram fogo na sala de concertos Crocus City Hall, em Moscou, na última sexta-feira (22), onde aconteceria um show do grupo Picnic. De acordo com as últimas informações, 137 pessoas morreram no ataque. Trata-se do segundo maior ato terrorista na história da Rússia.

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Segundo o chefe do FSB, o ataque terrorista foi benéfico para os serviços de inteligência ocidentais e para a Ucrânia, a fim de abalar a situação na Rússia e semear o pânico na sociedade.

"O autor do ataque terrorista ainda não foi identificado. Mas entendemos e vemos quem organizou esse processo, recrutou e definiu tarefas específicas. O círculo de pessoas que participaram do ataque terrorista está se expandindo e haverá mais cúmplices", acrescentou.

A declaração de Alexander Bortnikov reitera a posição expressada pelo presidente russo na última segunda-feira (25), quando Vladimir Putin afirmou que era necessário responder à pergunta "por que os terroristas tentaram ir para a Ucrânia depois de cometerem um crime, quem os esperava lá". 

"É claro que aqueles que apoiam o regime de Kiev não querem ser cúmplices do terror e patrocinadores do terrorismo. Mas há realmente muitas questões", disse o presidente russo.


Sala de concertos Crocus City Hall em chamas após o tiroteio em Krasnogorsk, nos arredores de Moscou, em 22 de março de 2024. / Serguei Vedyashkin / MOSKVA NEWS AGENCY / AFP

O chefe de Estado afirmou que o ataque terrorista foi cometido "pelas mãos de radicais islâmicos", mas os EUA, segundo Putin, estão tentando convencer outros países de que "supostamente não há vestígios de Kiev no ataque terrorista de Moscou, que o sangrento ataque terrorista ataque foi cometido por seguidores do Islã". 

A versão do "rastro ucraniano" também foi expressada pela chancelaria russa. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que "é difícil acreditar nas palavras dos EUA sobre o não envolvimento de Kiev no ataque terrorista, quando foi o Ocidente que aplaudiu os extremistas na Ucrânia em 2013-2014". 

"Agora Washington diz que supostamente a Ucrânia não tem nada a ver com isso. E quem vai acreditar neles, quando em 2013-2014 foi Washington, foi a Grã-Bretanha, foi a Alemanha, Bruxelas, Paris, Varsóvia, todos os países bálticos que aplaudiram, distribuíram dinheiro tanto quanto podiam, biscoitos e assim por diante para aqueles que jogaram coquetéis molotov nos mesmos edifícios civis, infraestrutura no centro de Kiev, e depois chamaram essas pessoas de qualquer coisa? Democratas”, disse Zakharova aos repórteres.

Veículos internacionais, como a agência Reuters e o jornal The New York Times, divulgaram que o "Estado Islâmico-Khorasan" (braço do grupo jihadista no Afeganistão) teria reivindicado o atentado, citando informações de inteligência sobre os preparativos para o ataque. 

No entanto, as autoridades russas não mencionaram em nenhum momento a possível conexão do grupo com a ação em Moscou. As investigações ainda estão em andamento e não há uma versão oficial do Comitê de Investigação da Rússia sobre a autoria do atentado.

As autoridades ucranianas, por sua vez, negaram categoricamente qualquer ligação com o atentado terrorista.

EUA alertaram sobre ameaça de atentado

Após o ataque terrorista, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, declarou que os EUA receberam informações em março de que um ataque terrorista estava sendo preparado em locais de aglomeração em Moscou e partilhou esta informação com a Rússia. 

No dia 7 de março, alertas sobre a ameaça de ataques terroristas em Moscou também foram publicados pelas embaixada estadunidense na Rússia. Posteriormente, as embaixadas de vários países, incluindo Canadá, Alemanha, República Checa, Suécia, Letônia e Coreia do Sul, também alertaram os seus cidadãos que um ataque terrorista poderia ocorrer em Moscou nos próximos dois dias.

Ao comentar sobre as informações transmitidas pelos Estados Unidos no início de março à Rússia, o chefe do FSB declarou nesta terça-feira (26) que estes dados "eram de caráter geral".

"Esta informação era de carácter geral - sobre a preparação de atos terroristas em locais de grande concentração de cidadãos. Respondemos a esta informação e, claro, tomamos as medidas adequadas para prevenir tais manifestações", observou.

Bortnikov destacou que o alerta dos EUA estava vinculado a riscos referentes às eleições presidenciais russas, que foram realizadas entre 15 e 17 de março. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho