Reunião em xeque

ELN 'congela' negociações de paz com governo da Colômbia antes de encontro em Caracas

Às vésperas de ciclo de diálogo na Venezuela, guerrilha acusa governo de tentar desmobilizar focos no oeste do país

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
O ELN foi criado em 1964 sob inspiração da Revolução Cubana e da Teologia da Libertação - Daniel Munoz / AFP

A delegação do Exército de Libertação Nacional (ELN) nos diálogos de paz anunciou nesta quinta-feira (11) que a mesa de diálogo com o governo da Colômbia está “congelada”. O encontro estava marcado para acontecer em Caracas a partir do dia 12. As duas partes farão uma reunião extraordinária para discutir os desdobramentos das negociações. 

Em comunicado, o ELN disse que a “persistência do governo” de fazer operações para desmobilizar o grupo guerrilheiro no estado de Nariño foi responsável pela pausa nas conversas. De acordo com o grupo, o governo atuou em duas frentes durante o mês de março: de um lado negociava de forma oficial e, do outro, tentava desmontar as operações do ELN em Nariño.

O grupo afirma que já tinha alertado o governo sobre esses atos depois da reunião de 26 de fevereiro realizada em Havana e que a permanência dessas operações colocaria em xeque as negociações.

A delegação do governo emitiu uma nota afirmando que “é necessário não perder tempo”. Segundo o documento, os representantes do estado colombiano estão em Caracas para debater e consideram que é necessário concentrar os trabalhos para “avançar nos processos de paz”. No comunicado, o governo reconhece a “grave situação” dos estados de Arauca, Chocó e Nariño, mas afirma que é preciso “abordar assuntos fundamentais” como os direitos das vítimas.   

Apesar de ampliarem o cessar-fogo até agosto depois da reunião de fevereiro em Cuba, a atuação do governo em Nariño tem sido criticada pelo ELN e as duas partes têm apresentado divergências nas negociações nos últimos meses. O governo decidiu em março abrir diálogos regionais pela paz. O grupo armado afirmou que o governo está desrespeitando os acordos de cessar-fogo firmados nas mesas de negociação a partir de negociações “por fora do processo nacional” no Estado de Nariño. 

As negociações de paz oficiais envolvem o ELN, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Conferência Episcopal colombiana. Com isso, o grupo chegou a anunciar o congelamento das negociações por paz com o governo e disse que o processo estava em “crise aberta”. 

O governo da Colômbia chegou a anunciar a criação de uma Região de Paz no Estado, o que foi rebatido pelo ELN. O chefe do grupo, Antonio García, negou que esse diálogo tenha sido realizado e disse que o objetivo do governo é “criar um show com uma suposta desmobilização, para mostrar um ELN rachado”.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, esteve nessa semana em Caracas para uma reunião com o chefe de Estado da Venezuela, Nicolás Maduro. Depois do encontro, Petro disse que a Venezuela podia ajudar o país na construção de uma "paz armada" e afirmou que os venezuelanos já ajudaram muito a Colômbia a resolver conflitos com grupos armados em governos anteriores e que a ideia, agora, é reforçar essa cooperação.

“A Venezuela pode nos ajudar muito e já fez por muitos anos em governos anteriores ao meu, no tema dos conflitos armados. Exitosos no governo de [Juan Manuel] Santos e que temos que construir agora nos nossos governos”, disse Petro.

Edição: Lucas Estanislau