O ex-chefe da Força Especial de Luta Contra o Tráfico de Drogas (FELCN) da Bolívia, Maximiliano Dávila, foi extraditado nesta quinta-feira (12) aos Estados Unidos. Ele é acusado pelo Tribunal do Distrito do Sul de Nova York por participar de um esquema de tráfico que levou cinco quilos de cocaína aos EUA e por usar metralhadoras em atividades de tráfico. Somadas, as penas para esses crimes vão de 5 a 30 anos de prisão.
Dávila estava preso preventivamente em La Paz desde janeiro de 2022, acusado de lavagem de dinheiro. Ele deixou a prisão às 08h45, horário local (09h45 em Brasília), em um avião estadunidense para levá-lo a Nova York. Segundo o diretor das prisões bolivianas, Juan Carlos Limpias, o ex-chefe antidrogas já “está nas mãos da justiça estadunidense” .
“Ainda há crimes pendentes aqui no Estado boliviano. A extradição foi priorizada, mas depois que ele cumprir sua pena nos Estados Unidos, será devolvido ao país. Seus julgamentos não vão parar”, disse Limpias. Dávila ainda responde por outros delitos administrativos na Bolívia.
Ele tem 59 anos e chefiou a FELCN durante o governo de Evo Morales. Segundo a Justiça estadunidense, durante sua gestão, Dávila teria protegido traficantes e aviões que carregavam cocaína para os Estados Unidos. A acusação afirma ainda que ele já colaborava com o tráfico de drogas na região antes mesmo de se tornar chefe do órgão em 2019. A extradição de Dávila foi aprovada pela Justiça boliviana no final de novembro.
As primeiras acusações contra ele foram apresentadas no Tribunal de Nova York em setembro de 2020. Naquele mesmo ano, o Departamento de Estado dos EUA ofereceu US$ 5 milhões (R$ 31 milhões) por informações que ajudassem a encontrá-lo. Em 1º de outubro de 2024, a Justiça estadunidense fez uma solicitação diplomática para sua extradição.
A defesa do ex-chefe da FELCN negou o seu envolvimento com o tráfico de drogas e disse que seus direitos foram violados.
O ministro de governo, Eduardo del Castillo, comparou esse episódio com a extradição do ex-ministro Luis Arce Gómez em 1989, durante o governo de Luis García Meza, em uma postagem em suas redes sociais.
“Em dezembro de 1989, foi capturado o senhor Arce Gómez, ministro do ex-ditador García Meza pelo delito de narcotráfico e posteriormente extraditado para os EUA, hoje, 35 anos depois, é extraditado, também para EEUU, o senhor Maximiliano Dávila, dois marcos na história do nosso país”, afirmou Castillo.
Nos últimos anos, ao menos cinco ex-chefes do órgão foram denunciados e investigados por proteger traficantes e participação em esquemas de tráfico. Eles, no entanto, não foram julgados na Bolívia. O primeiro envolvido foi o coronel Faustino Rico Toro, extraditado em 1995 da Bolivia para ser julgado por tráfico de cocaína nos Estados Unidos. Ele havia ocupado a chefia da FELCN de 1991 a 1995.
O ex-presidente Evo Morales se posicionou contra a extradição de seu ex-chefe da FELCN. Segundo Morales, a Bolívia “volta a ser colônia dos Estados Unidos”, depois da medida. Ele afirmou ainda que o governo boliviano deveria “aprender com a presidente do México [Claudia Sheinbaum], que defende a soberania do seu país face à interferência dos EUA”.
A Bolívia não tem representação diplomática dos Estados Unidos desde 2008, quando o governo do próprio Evo Morales expulsou o embaixador estadunidense do país. A Casa Branca respondeu e também retirou a representação diplomática boliviana de ser território.