O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) já elevou a taxa básica de juros da economia nacional em 2,75 pontos percentuais desde que o economista Gabriel Galípolo assumiu sua presidência. Por causa das elevações, a dívida pública brasileira deve aumentar cerca de R$ 150 bilhões em um ano e o gasto nacional com pagamento de juros tende a superar R$ 1 trilhão nos próximos meses.
Na quarta-feira (18), o Copom decidiu elevar pela sétima vez seguida a chamada taxa Selic. O aumento foi de 0,25 ponto percentual e levou a taxa para 15% ao ano, seu maior patamar desde 2006, há quase 20 anos.
Este aumento foi o quarto promovido desde que Galípolo assumiu a presidência do Copom e do BC. O economista foi indicado aos cargos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que fazia críticas públicas ao ex-presidente do BC Roberto Campos Neto por conta dos juros. Campos Neto foi indicado por Jair Bolsonaro (PL).
Quando Galípolo assumiu o BC, a Selic estava em 12,25% ao ano.
Segundo dados do próprio BC, a cada 1 ponto percentual de aumento da Selic, a dívida líquida do setor público aumenta R$ 55 bilhões em 12 meses. Com o aumento total de 2,25 pontos, a dívida tende a crescer R$ 150 bilhões.
Também segundo o BC, divulgados no último dia 30, nos 12 meses encerrados em abril, o governo gastou R$ 928 bilhões em juros. Isso é 20% a mais do que os R$ 776 bilhões gastos nos 12 meses anteriores. Com os juros subindo, essa conta tende a ultrapassar R$ 1 trilhão.
“Como alguém em sã consciência pode falar de ajuste fiscal no Brasil quando a grande fonte do desequilíbrio fiscal brasileiro é financeira, é o BC quem cria?”, questionou José Luis Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB).
No final do mês passado, o governo federal anunciou congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas para poder cumprir metas fiscais com as quais ele se comprometeu em 2025. Também anunciou um aumento de impostos, que gerou críticas do Congresso.
Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, também criticou a decisão do Copom. “É um absurdo”, disse. “A inflação brasileira não está descontrolada e os fatores geradores da inflação não estão dentro dos canais da política monetária. Essa elevação da taxa de juros é bastante ineficaz e ela gera um efeito colateral, que é o desaquecimento da economia.”
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é outro que achou a decisão exagerada. Para ele, o ideal era que o Copom tivesse mantido a taxa e sinalizado uma queda para o futuro.
Miguel de Oliveira, economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), também acreditava na manutenção da Selic. Para ele, as dificuldades políticas do governo para realizar um ajuste fiscal podem ter impactado na decisão do Copom.
O que é Selic
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente comprando e vendendo títulos públicos federais para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.
Quando o Copom aumenta os juros, isso encarece o crédito e estimula a poupança. Por isso, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia.
Ao reduzir a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, estimulando a atividade econômica.
O Copom se reúne a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
Meta de inflação
Pelo novo sistema de meta contínua em vigor desde janeiro, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), comandado pelo governo, é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior é 4,5%.
No modelo, a meta passa ser apurada mês a mês, considerando a inflação acumulada em 12 meses. Em maio de 2025, a inflação desde junho de 2024 é comparada com a meta e o intervalo de tolerância. Em junho, o procedimento se repete, com apuração a partir de julho de 2024. Dessa forma, a verificação se desloca ao longo do tempo, não ficando mais restrita ao índice do fim de cada ano.
No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de março pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a previsão de que o IPCA termine 2025 em 5,1%, mas a estimativa pode ser revista, dependendo do comportamento do dólar e da inflação. O próximo relatório será divulgado no fim de junho.
*Com informações da Agência Brasil