Uma programação de debates com movimentos populares de favelas vai marcar os 10 anos da intervenção militar no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, no contexto da Copa do Mundo. Anos depois, outra ocupação do Exército ocorreu em 2018 com a justificativa de conter a crise da segurança pública no estado.
A atividade no próximo sábado (5) faz parte da programação do Julho Negro no Museu da Maré, a partir das 10h, que também discute resistências abolicionistas e contra o genocídio palestino.
Além do movimento negro, o Julho Negro é organizado por movimentos de favelas e periferias, e de mães e familiares de vítimas da violência de Estado. Há dez anos, o movimento articula a luta internacional contra a militarização, o racismo e o apartheid.
Ao Brasil de Fato, a comunicadora comunitária e integrante do Julho Negro Gizele Martins relembra que o período de ocupação das forças armadas na Maré significou mais violência e inúmeras violações de direitos para os moradores, com invasões às casas, repressão, assassinatos, ameaças e censura.
“São 10 anos que o Exército saiu da Maré e a gente ainda não teve qualquer tipo de reparação, seja psíquica, seja judicial. A gente não tem nenhuma reparação do governo brasileiro em relação às vítimas que foram violadas por leis da ditadura militar na democracia brasileira”, afirma Martins, moradora da Maré.
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A favela, uma das maiores do estado, chegou a ter um contingente de 55 soldados para cada um dos 140 mil moradores, segundo Martins. “Vai ser uma data importante para trazer a memória, porque memória é política, memória é lembrar para nunca mais esquecer, como dizem os nossos mais velhos que sofreram na ditadura militar”, disse.
Nesse sentido, a luta do povo palestino contra os militares israelense tem profunda conexão com as favelas. “O movimento palestino nos ensina, inspira e nos mostra estratégias de luta conectando povos que sofrem também por violências similares como as que a gente vivencia aqui. Vai ser um momento importante também da gente na Maré fazer um ato político em solidariedade ao povo palestino”, completa Martins.
A atividade do próximo sábado (5) é organizada, além do Julho Negro, pela Rede de Comunidades e Familiares contra a Violência; Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR); Museu da Maré; Maré 0800; Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM-RJ); Jubileu Sul; Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs); Mídia 1508; Artvsm; Juventude Sanaud; Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS-Brasil); Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal); Árabes e Judeus pela Paz; Capítulo Brasil do Comitê Internacional Paz; Justiça e Dignidade aos Povos; o Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba e às Causas Justas; Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); Raízes do Brasil; e Iniciativa Sauti Yetu.
Serviço
Julho Negro: dez anos de articulação internacional de luta contra o racismo, a militarização e o apartheid no sul global
Data: sábado (5)
Horário: das 10h às 17h
Local: Museu da Maré (Av. Guilherme Maxwel, nº 26 – Maré)
Confira a programação completa nas redes sociais (neste link).