As tradicionais cozinhas solidárias de terreiros serão homenageadas pela primeira vez no país. O Prêmio Baobá será entregue a 29 iniciativas fluminenses que se destacam com suas cozinhas na preservação da memória e identidade africana. A cerimônia ocorre na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) nesta quinta-feira (3), às 17h.
Segundo a organização do prêmio, as cozinhas solidárias de terreiros têm papel fundamental no combate à fome desde o período colonial e da escravidão no Brasil. Sem distinção de religião, as comunidades de matriz africana oferecem refeições gratuitas a pessoas em situação de vulnerabilidade.
Ao Brasil de Fato, a idealizadora do Prêmio Baobá, deputada Marina do MST (PT), enalteceu a partilha e o acolhimento como tradições ancestrais das casas religiosas. “Há séculos estas cozinhas [de terreiro] fazem política pública na prática, garantindo a segurança alimentar de comunidades inteiras através da partilha”, afirmou.
Para a presidente da Comissão de Segurança Alimentar da Alerj, o prêmio “é uma forma de dar visibilidade ao trabalho destas senhoras que se dedicam ao outro, independentemente da religião. As cozinhas solidárias são espaços de tradição, acolhimento e de formação política e técnica. São fundamentais e merecem protagonismo”, completou.
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A arrecadação de alimentos, recursos e insumos para essas cozinhas provém de doações dos integrantes e apoiadores. Já a distribuição das refeições ou cestas básicas acontece nos próprios terreiros, centros urbanos e festividades religiosas.
Além da deputada, estarão presentes na cerimônia lideranças de matrizes africanas e representantes do Ministério da Igualdade Racial (MIR) e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A conquista da premiação às cozinhas solidárias de terreiro contou com uma articulação conduzida pelo Instituto Águas do Amanhã, pertencente ao terreiro de matrizes africana Egbe Awon Omi Yemonja/ Casa das Águas de Yemonja e Caboclo Cobra Coral, em Sepetiba.
“As cozinhas de terreiro alimentam o espírito e o corpo. A comida é preparada com o mesmo cuidado espiritual, há sempre a ideia de alimentar com dignidade e axé”, diz a Iyalorixá Roberta Costa, presidente do Instituto Cultural Águas do Amanhã.
Axé e solidariedade
Uma das mais antigas comunidades de terreiro do Rio de Janeiro, o Abaçá De Ayrá, no bairro Pechincha, na zona oeste, é conhecida por suas festividades fartas, como os churrascos para Exu, o cozido em comemoração aos Caboclos e Boiadeiros, a tradicional feijoada aos Pretos Velhos e doces nas festas de Ibeijada — todos compartilhados com a comunidade interna e externa da casa.
Também na zona oeste, a Cozinha Ancestral Solidária Ilè Inã entrega quentinhas a cerca de 200 pessoas quinzenalmente e oferece oficinas de economia criativa. Na Baixada Fluminense, a Cozinha Ancestral Solidária Akará atende em média 100 pessoas a cada 20 dias com a doação de quentinhas, legumes e verduras, além de palestras, rodas de conversas e oficinas.
Já em Itaboraí, a Cozinha Solidária Simbenganga contribui na luta contra a fome no bairro rural do Retiro. Além de fornecer alimentação, a cozinha promove ações socioeducativas sobre a valorização dos alimentos, destacando as raízes africanas.
Entre as homenageadas do prêmio Baobá, estão ainda cozinhas em bairros como Guaratiba, Santa Cruz e Olaria, e nos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São Gonçalo, Seropédica, Maricá, Magé e Volta Redonda.
Serviço
Entrega do Prêmio Baobá a cozinhas solidárias de terreiro
Data: quinta-feira (3), às 17h
Local: Alerj (Rua da Ajuda, nº 5, 2º andar)
Cerimônia aberta ao público.