O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira (21) que a “democracia liberal” não foi capaz de responder às demandas da sociedade e pediu um novo modelo de desenvolvimento para garantir a defesa dos sistemas democráticos. Em uma reunião no Chile, ele anunciou ações conjuntas para proteger o meio ambiente e regulamentar a Inteligência Artificial.
O mandatário participou de um encontro com os presidentes Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandu Orsi (Uruguai) e o primeiro-ministro Pedro Sanchez (Espanha) no Palácio de La Moneda, sede do Executivo chileno. Chamada de Democracia Sempre, a reunião foi convocada pelo chefe do Executivo chileno para discutir medidas que devem ser adotadas para reforçar o multilateralismo e impulsionar medidas dos governos progressistas.
Para Lula, o encontro é importante no enfrentamento à extrema direita que tem crescido no mundo e ameaçado os sistemas de governo. Ele afirmou que a ideia de uma participação eleitoral a cada quatro anos se tornou insuficiente para a população.
“A reunião de hoje é um passo nessa direção. A democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas. Cumprir o rito eleitoral a cada 4 anos não é mais suficiente. O sistema político e os partidos caíram em descrédito. Por isso, conversamos sobre as instituições democráticas e o multilateralismo para enfrentar essa série de ataques. Sem um novo modelo de desenvolvimento, a democracia estará ameaçada por quem coloca seus interesses acima dos direitos”, disse Lula.
Em seu discurso, o brasileiro disse que os super-ricos precisam arcar com sua parte nesse esforço e disse que o combate às desigualdades sociais de raça e gênero podem resgatar a coesão e a legitimidade da democracia. Lula também defendeu que a crise ambiental tem impactos na inclusão para os setores mais vulneráveis.
Os líderes anunciaram medidas para a regulamentação das plataformas digitais dentro da política de combate à desinformação. Eles afirmaram que os Estados precisam voltar a ter capacidade de “proteger seus cidadãos” tendo a transparência como um dos pilares dessa linha de atuação.
Para o mandatário brasileiro, o enfrentamento ao discurso de ódio e à extrema direita parte também de políticas que toquem na desigualdade de maneira profunda. Lula usou como exemplo que o salário médio de um presidente de uma multinacional é “56 vezes maior” do que o de um trabalhador.
“A liberdade de expressão não pode ser confundida com autorização para incitar a violência, difundir o ódio e atacar o Estado democrático de Direito. Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade. Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta direitos sociais. O salário médio de um presidente de multinacional é 56 vezes maior do que o do trabalhador”, afirmou.
O brasileiro não especificou de onde tirou o dado e essa diferença pode ser ainda maior. Uma pesquisa da AFL-CIO de 2021 indicava que os CEOs das maiores empresas dos Estados Unidos ganharam 324 vezes mais do que a média dos funcionários em média.
Sem citar as tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, Lula disse que outro desafio é enfrentar o “protecionismo dos extremistas”.
Líderes reforçam cooperação
Um dos principais articuladores de políticas de proteção ao meio ambiente hoje na América do Sul é o presidente colombiano Gustavo Petro. Ele reforçou a necessidade de aprofundar os acordos assinados nesta área e disse que é importante aprofundar a cooperação entre os governos progressistas para “acender a luz em um mundo banhado na escuridão”.
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, disse que o mundo presencia um avanço da extrema direita e que, para consolidar a defesa da democracia é preciso passar da “defensiva para a ofensiva”.
“Não só uma questão jurídica, é política e moral e transcende os votos. É uma tarefa que une todos os idiomas. Há uma internacional reacionária que atua conjuntamente e precisamos nos articular para combatê-la”, disse.
O grupo Identificou três áreas-chave para isso: fortalecer as instituições democráticas e o multilateralismo, combate à desinformação com governança global e reduzir a desigualdade. De acordo com os líderes, a injustiça social, ambiental e econômica quebrou a confiança das pessoas na democracia.
A primeira reunião do grupo foi realizada durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro do ano passado. Este ano o encontro foi convocado pelo presidente Boric que quis incorporar o Chile na iniciativa. A próxima reunião deverá ser na Espanha.
Boric reforçou que o grupo adotará propostas concretas para enfrentar as violências de maneira conjunta. Ele citou como exemplo os primeiros governos de Lula, que “conseguiram reduzir a pobreza e apresentar oportunidades para a população”.
“A democracia tem que oferecer resultados para melhorar a vida das pessoas. Os governos de Lula conseguiram reduzir a pobreza e discutimos aumentar os salários mínimos, melhorar a condição de vida. As ação não deve ser só como governo, mas também com a academia”, disse.
Após o encontro, os presidentes tiveram um almoço com professores e intelectuais de diferentes países no Palácio de La Moneda.