É da aposta na integração dos povos como resistência ao neoliberalismo e ao imperialismo que nasce a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) Movimentos. A trajetória da articulação, que reúne movimentos populares da América Latina e Caribe, está retratada no documentário “El abrazo de los pueblos” – “O abraço dos povos”, em português. A produção foi lançada nesta segunda-feira (28), em Caracas, na Venezuela, com a presença de representantes de diversos países.
A data escolhida para o lançamento é simbólica, pois marcou os 71 anos do nascimento do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, figura fundamental, ao lado de Fidel Castro, para o impulsionamento da articulação continental. “Poder celebrar este lançamento no aniversário de 71 anos do nascimento do nosso eterno comandante Hugo Chávez, aqui em terras bolivarianas, é para nós uma imensa alegria. Uma alegria que fortalece nossa consciência e que nos faz entender por que estamos aqui – qual é o caminho que nossas organizações, nossos movimentos sociais e populares escolheram em todo este grande continente para seguir firmes, para avançar com o legado do comandante”, celebrou Florencia Abregú, da secretaria da Alba Movimentos.
A assembleia fundacional da Alba Movimentos ocorreu em 2013, na Escola Nacional Florestan Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Guararema (SP). O dirigente nacional do movimento João Pedro Stedile é um dos militantes que participaram do momento histórico. No documentário, ele relata a trajetória de debates e mobilizações que resultaram na fundação da Alba, com destaque para a contestação das celebrações oficiais dos 500 anos do colonialismo espanhol na América Latina, em 1992.
“Nos agarramos ao tema dos 500 anos e construímos uma articulação latino-americana que se chamava Movimento de Resistência Popular Negro e Negra, que, em sua origem – com muita influência inclusive da Igreja – queríamos contestar as celebrações oficiais da Espanha, em 1992. Começamos a nos articular e fizemos uma reunião histórica na Guatemala. Havia mais de mil militantes, muitos de México e Guatemala, mas havia muitos de toda a América Latina, e aí nasceu a ideia: nós devemos nos manter articulados”, relembra.
O filme detalha como, a partir daquele encontro na Guatemala, foi se tecendo uma rede de organizações populares em todo o continente.
Assista ao documentário
Para os realizadores, mais do que um registro histórico, “El abrazo de los pueblos” é uma “ferramenta de luta”, como destaca Abregú.
“A ideia é que este documentário seja uma ferramenta de luta para os nossos espaços de organização comunitária, coletivos. […] Que seja uma peça para poder levar adiante esse debates e essas discussões. Estamos frente a um contexto bem complicado, então, construir outros sentidos, fazer essa disputa cultural e comunicacional é totalmente fundamental”, pontua Abregú.
Derrota da Alca
A produção conta com registros de mobilizações em diversos países. Raúl Laffitte, da Comuna Audiovisual, que produziu o documentário, relata que a tarefa de contar a história da articulação foi um longo processo.
“É a consagração de muito tempo de trabalho, de muitos anos em que estivemos fazendo muitas entrevistas, muitas filmagens, pensando em como tentar demonstrar, de alguma maneira, esta articulação tão complexa, tão diversa, tão imensa em termos de pessoas, culturas e territórios, o que é a Alba Movimentos”, disse Raúl Laffitte.

O documentário conta com registros históricos de personalidades como Fidel Castro, Diego Maradona e de eventos como a mobilização popular contra a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que teve seu “enterro” decretado em Mar del Plata, na Argentina, há quase 20 anos.
“A Alca está derrotada pelos povos desse continente, e a Alca, hoje, teve seu enterro aqui em Mar del Plata. Hoje, enterramos a Alca em Mar del Plata”, discursou Chávez à época para uma multidão, durante a Cúpula dos Povos, que ocorreu paralelamente à Cúpula das Américas na cidade argentina.
O evento oficial reuniu chefes de Estado e marcou a derrota do acordo de autoria dos Estados Unidos. Líderes de países latino-americanos, como Néstor Kirchner (Argentina), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Hugo Chávez (Venezuela) se opuseram à proposta.
Assembleia em Cuba
Atualmente, a Alba Movimentos prepara a construção da 4ª Assembleia Continental, que deve ocorrer em Cuba, em 2026, ano que marca o centenário de Fidel Castro.
Em reunião na Venezuela, entre os dias 22 e 24 de junho, os delegados e delegadas da organização ressaltaram que o próximo encontro deve promover a entrada de novos movimentos, aprofundar a articulação com outras alianças regionais e fortalecer ações concretas de solidariedade ativa com Cuba, Venezuela e Haiti – tratadas como trincheiras de resistência frente ao imperialismo.