Com o lema “Agricultores e Agricultoras, peregrinos da esperança” o 25º Encontro Diocesano das Sementes Crioulas da Diocese de Santa Cruz do Sul será realizado na Linha Sitio, município de Cruzeiro do Sul, território atingido pelas enchentes em 2023 e 2024, na próxima quinta-feira (14).
O evento – um dos mais longevos no estado a propor a preservação da tradição e a partilha das sementes crioulas como propósito – chega à edição jubilar com passo firme no compromisso de fortalecer a agricultura familiar e camponesa e multiplicar as sementes plantadas pelo já saudoso papa Francisco que deixou o desafio de efetivação de uma igreja que se coloque em saída.

Os participantes serão acolhidos a partir das 7h30 com café da manhã. Entre 8h30 e 15h30 serão realizadas rodas de conversa, pronunciamentos, trocas de informações técnicas, momentos culturais, mística camponesa, benção sobre as sementes, celebração e partilha.
Ao meio-dia haverá almoço por adesão (arroz de carreteiro com saladas diversas ao custo de R$ 20,00). É solicitado que cada participante traga seu próprio copo ou caneca, de modo que se reduza ao máximo a utilização de descartáveis. Entre os destaques culturais estarão presentes Antonio Gringo, Regina Wirtti e Bruna Ave Cantadeira.
Os organizadores convidam os agricultores e agricultoras que tragam suas sementes crioulas, ramas e mudas para compartilhar, sempre lembrando que é importante identificar cada variedade para facilitar as trocas.

A organização do encontro tem como participantes a diocese de Santa Cruz do Sul, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Escola de jovens Rurais (EJR), a Paróquia São Gabriel Arcanjo, a Escola São Miguel, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cruzeiro do Sul, a Cáritas, a Missão Sementes de Solidariedade, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Associação em Agroecologia do Vale do Rio Pardo (AAVRP), a Articulação de Agroecologia do Vale do Taquari (AAVT), a Prefeitura Municipal de Cruzeiro do Sul e a Emater/Ascar.
25 anos de semeadura e resistência
Maurício Queiroz, integrante da organização da atividade, relembra a história dos encontros, realizados na diocese desde 2001 pela Comissão Pastoral da Terra, com forte protagonismo também da Escola de Jovens Rurais-EJR, que “priorizam esta atividade como um importante momento de mobilização e formação, que visa fortalecer os pequenos agricultores e agricultoras em sua luta”.
Queiroz ressalta que a primeira edição do encontro foi resposta a um anseio manifestado em uma série de seminários regionais de agroecologia, que entre outras pautas apontaram como prioridade o trabalho com o tema das sementes crioulas.
Outro fato motivador relembrado por Queiroz foi a implantação do assentamento Padre Réus, em Encruzilhada do Sul, onde as famílias precisavam de apoio para iniciar a vida e a produção na terra conquistada. “Então tivemos a ideia de fazer uma coleta de sementes crioulas e mudas para doar as famílias. As famílias com a terra e com as sementes poderiam logo plantar e produzir alimentos.”
Depois destes fatos, a CPT Diocesana decidiu que um encontro anual de sementes crioulas deveria acontecer para partilhar sementes, experiências, falar da agroecologia e sobretudo fortalecer a luta dos camponeses e camponesas. Depois de 24 encontros realizados, uma certeza ficou: em meio a centenas de variedades crioulas de sementes e mudas, se preservou e multiplicou no povo as sementes de resistência.
“Davi” contra “Golias”, todos os dias
Dom Itacir Brassiani, bispo de Santa Cruz do Sul, traz uma analogia bíblica para falar sobre a figura dos pequenos agricultores e pequenas agricultoras: “No Brasil, a agricultura familiar e os guardiães das sementes são como o pequeno Davi, desarmado, que ousa enfrentar o gigante Golias, armado até os dentes e apoiado por gente poderosa. Mas escondem na mão as pedrinhas da sabedoria e da organização”.
Brassiani explica que é com a sabedoria e a organização popular, que os pequenos agricultores e agricultoras exercem o protagonismo na defesa dos direitos do povo mais humilde e buscam a libertação das sementes dos grandes, que se apresentam como seus donos. “Será que alguém pode patentear e vender o ar, a água, o mistério da vida?”, questiona o bispo.
“Cultivar, proteger e distribuir sementes genuínas é uma batalha importante, e nessa guerra não há tréguas. Não entreguemos nossas sementes ao controle dos inimigos! Guardemos as sementes crioulas como guardamos nossa honra e nossos poucos bens. Cultivemos estas sementes como quem cultiva a esperança! Partilhemos esses pequenos mistérios de vida como geramos e multiplicamos a vida humana”, acrescenta Brassiani. O bispo já confirmou presença e vai acompanhar as atividades do encontro.
Serviço: Para mais informações, a organização disponibiliza o contado de WhatsApp (51) 996430119.