O prazo dado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para que a Rússia encerrasse a guerra na Ucrânia terminou na última sexta-feira (8) sem novas sanções imediatas. Trump, no entanto, mantém a pressão contra Moscou e sinaliza a realização de uma cúpula com o presidente russo Vladimir Putin nesta semana. A movimentação ocorre em meio a um isolamento de Washington no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), após o apoio ao plano israelense de “ocupação total” de Gaza.
Para Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a “grande ameaça agora não é só atingir a Rússia, mas também países aliados que fazem comércio com a Rússia”, como a Índia, que sofreu aumento de tarifas por comprar petróleo russo. Ela avalia que o encontro entre Trump e Putin será “um momento crucial”, mas com resultado “muito imprevisível”, já que a Rússia não aceita negociar diretamente com a Ucrânia e tenta fortalecer alianças no grupo do Brics.
Segundo a especialista, o posicionamento do presidente estadunidense tem mostrado “idas e vindas”. “Trump mudou de posição ao longo dos últimos meses. Tinha uma posição de que estava forçando a Ucrânia a aceitar um acordo, mesmo que fosse muito desvantajoso. Mudou de posição em um momento, colocando que era […] favorável a um acordo, mas que preservasse territórios ucranianos. E, nas últimas semanas, ele voltou com uma carga mais forte de pressão sobre a Rússia”, analisa.
Sobre o risco de o Brasil ser alvo de retaliações por sua aproximação com Moscou, Holzhacker reforça que “os planos do Trump são sempre difíceis de serem previstos”. Para ela, “não necessariamente isso vai ser um problema que vai desdobrar em novas ações contra outros parceiros com relação ao próprio Brasil”, embora o republicano use a aliança do Brics para pressionar no comércio.
Ataque em Gaza abre ‘precedente complexo’
A professora também comentou o ataque de Israel a uma tenda da emissora Al Jazeera em Gaza, que matou cinco jornalistas no último fim de semana. “Aqui é um precedente muito complexo e que vai também se acumular aí nas ações que vêm sendo feitas contra Israel”, afirmou, apontando para o agravamento da crise humanitária e a ausência de pressão efetiva de Washington sobre o premiê Benjamin Netanyahu.
Holzhacker observa que alguns países, como França, Canadá e Austrália, reforçaram o apoio à solução de dois Estados, mas considera que “infelizmente, não vemos no final o que esse movimento de fato leve a uma mudança no comportamento e nas ações do Netanyahu e de Israel”.
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