Na tarde deste sábado (23), dezenas de jovens do Cabo de Santo Agostinho, município mais violento de Pernambuco, realizam um encontro para debater o problema e propor soluções para a questão da segurança no município. A Conferência Popular de Segurança Pública é promovida pelo Fórum de Juventudes do Cabo (Fojuca). Aberto ao público, o evento tem início ao meio-dia e segue até as 17 horas, na sede do Centro das Mulheres do Cabo, que fica na rua Padre Antônio Alves, nº 20, no centro da cidade.
O objetivo do encontro é debater o quadro de violência no município e pensar soluções a partir de um olhar de prevenção e proteção à vida, especialmente das juventudes das periferias e com atenção prioritária para adolescentes e crianças. A abertura do debate contará com representantes da Defensoria Pública de Pernambuco, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Instituto Fogo Cruzado – entidade que faz monitoramento da violência armada na região metropolitana do Recife. O evento tem apoios do Centro das Mulheres do Cabo, do Fundo Brasil e a ONG Arco.
A programação da Conferência Popular busca estimular a participação dos presentes para elaborar o documento Territórios Vivos, um plano de prevenção à letalidade com quatro eixos: efeitos da violência na realidade, ações estatais para prevenção, repressão e ações de prevenção social. “É tudo organizado pela sociedade civil e busca construir propostas concretas para apresentarmos à prefeitura, aos vereadores, ao Governo do Estado e à própria população, com caminhos para reduzir a violência que afeta a nossa cidade”, diz Glaubberthy Rusman, integrante do Fojuca e um dos organizadores da conferência.

Município da região metropolitana do Recife e a apenas 35 quilômetros da capital, o Cabo de Santo Agostinho aparece há mais de uma década entre os municípios com maiores índices de mortes violentas intencionais (MVI), o popular homicídio. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, com dados do ano anterior, coloca a cidade como 5ª mais violenta do Brasil, com 73,3 mortes a cada 100 mil habitantes, o que significa um aumento de 16,1% em comparação a 2023. Ocorreram 159 homicídios no Cabo em 2024.
O Cabo, assim como áreas na vizinha Ipojuca, tem sofrido com disputas por territórios entre facções do mercado ilegal de drogas. A mais famosa da região é o Comando do Litoral, antiga Trem Bala. O “top-10”, formado totalmente por municípios da região Nordeste, traz ainda São Lourenço da Mata, em 6º (com índice de 73), também na metropolitana. A cidade teve um aumento de 24,6% no índice, totalizando 86 homicídios em 2024. Em São Lourenço também cresce as disputas pelo controle do tráfico de drogas.
As duas cidades pernambucanas ficam atrás apenas de Maranguape (CE), Jequié (BA), Juazeiro (BA) e Camaçari (BA). No ranking de estados, Pernambuco aparece em 4º, com 36,2 mortes a cada 100 mil habitantes, atrás apenas de Amapá (45,1), Bahia (40,6) e Ceará (37,5). O perfil mais vitimado pelos assassinatos é o do homem, preto ou pardo, jovem e morador de comunidades periféricas.